Em Lisboa, a Retrosaria Rosa Pomar ajuda a salvar ovelhas da extinção

Rosa Pomar na sua retrosaria, que é também o atelier e armazém. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)
Ao fim de 10 anos num segundo andar perto da Bica, a Retrosaria Rosa Pomar mudou-se para um novo espaço com loja, workshops e armazém nos Anjos. No ateliê, Rosa continua a criar fios únicos a partir de lãs de ovelhas portuguesas.

De várias cores e texturas, os fios de tricô criados por Rosa Pomar surgem perfeitamente arrumados em caixas de madeira sobre duas mesas e numa estante na parede. “Em Portugal existem 16 raças ovinas autóctones, muitas delas em vias de extinção. Eu trabalho com lã de ovelha campaniça, merino branco e preto, saloia, bordaleira e churra badana, uma das mais ameaçadas”, explica Rosa Pomar, 46 anos, o rosto da nova e luminosa retrosaria do bairro dos Anjos.

“O segredo é conhecer as características das lãs, para tirar delas o melhor potencial. É como juntar vários ingredientes numa receita”, compara. E exemplifica: “Há dois tipos de fios: os cardados ficam com um acabamento mais rústico; os penteados ficam mais lisos. Uma camisola de lã muito macia faz borboto ao fim de quinze dias, enquanto uma lã mais áspera pode durar mais. A sensibilidade aos materiais é muito mais subjetiva e cultural do que objetiva”, considera.

Rosa fala do assunto com desenvoltura, desfiando alguns episódios da sua história. Natural de Lisboa, cresceu numa família dada às manualidades e ao pensamento. Formou-se em História Medieval e fundou A Ervilha Cor de Rosa, numa altura em que os blogues não tinham a expressão de hoje. Enquanto publicava artigos sobre têxteis artesanais e cultura popular portuguesa, vendia bonecas de pano feira à mão, em casa. Depois, alargou a oferta para os tecidos.

O facto de vender materiais para tricô e costura importados, que as pessoas não encontravam nas lojas convencionais, tornou-a aos poucos uma referência, e o projeto teve de crescer para a loja na Rua do Loreto. Mas a vontade de saber mais levou-a até às lãs de ovelhas portuguesas, com as quais decidiu passar a trabalhar, no sentido de as valorizar. “Tive de abrir caminho. Muitas fábricas de lanifícios diziam-me que era muito giro, mas davam-me palmadinhas nas costas”, relata.

O dinamismo e a qualidade da oferta fizeram da Rosa Pomar uma referência para “o nicho” de quem faz tricô e se preocupa com a origem e as histórias dos materiais, em Portugal e no Mundo. Esta “comunidade”, como Rosa descreve, tanto vai à loja mostrar as próprias peças, como encomenda materiais online. Por isso, mais de metade das vendas dos fios que produz em parceria com fábricas portuguesas é escoada para a Europa, EUA, Coreia e Japão, por exemplo.

Rosa confessa que ainda hesitou em abrir o novo espaço em pleno advento do comércio online. Mas em boa hora o fez – num edifício de 1969 que já tinha sido um armazém de fazendas -, pois nada substitui o toque e a visão no momento da escolha dos fios. Expostos em móveis antigos e em gavetas recuperadas do lixo há igualmente fios de marcas estrangeiras, uma maioria de tecidos de linho e flanela portugueses, livros práticos e revistas especializadas em tricô.

Na montra há também sapatos e botas de cabedal de modelos intemporais (um deles, português, da Primeira Guerra Mundial). Já numa lateral abre-se a sala destinada aos workshops, cujo calendário é anunciado no website e nas redes sociais. Quem quiser afinar a arte das agulhas ou iniciar-se, pode comprar um emblema ou um kit completo para tricotar um gorro em casa, cujas receitas revertem para a associação de produtores de ovelha churra mondegueira.

 

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Morada
Rua Maria Andrade, 50A (Anjos), Lisboa
Telefone
213473090
Horário
De terça a sexta, das 10h às 19h.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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