“Adoramos lavar as mãos”. Esta frase, que se lê numa das montras da nova Claus Porto, na Rua do Carmo, desperta um sorriso e, na verdade, não podia ser mais certeira numa altura em que esse gesto banal ganhou redobrada importância graças à pandemia – assim como o olfato, cuja falta é sinal de alarme. Mas o perfume que emana das embalagens no interior da loja é “irreplicável”, assinala Joana Chambel, diretora de marketing da Claus Porto, assim como os produtos de luxo que se ali se vendem. Agora, os 134 anos desta história ganharam um novo capítulo.
A Claus Porto, fundada em 1887 pelos alemães Ferdinand Claus e George Schweder, abriu a sua terceira loja de rua na morada da antiga Aillaud & Lellos, no início de abril. A livraria e editora dos anos 1930 estava classificada como “Loja com História” pela câmara municipal, mas nem isso evitou que encerrasse em 2018, por desacordo entre o senhorio e o proprietário da loja quanto ao valor da renda, dando lugar a uma sapataria. Quando ali chegou, a Claus Porto decidiu recuperar a identidade da livraria em tudo o que era possível, desde o letreiro art déco (o mesmo estilo do original) ao mobiliário.
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- (Fotografia de Francisco Nogueira).
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- (Fotografia de Francisco Nogueira).
A missão de recuperar a alma do projeto original do engenheiro António José Ávila do Amaral ficou a cargo do gabinete de arquitetura Nuno Nascimento Arquitetos. Na fachada em mármore de Estremoz continua, por isso, a destacar-se a porta ladeada por lombadas de livros gravadas com os nomes Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Tomás Ribeiro, Abel Botelho e Teófilo Braga. Todos eles foram publicados pela Editora Lello e têm primeiras e segundas edições das suas obras disponíveis para leitura, num recanto de sofás, dentro da Claus Porto.
Já as duas montras exibem peças artísticas da autoria de Rosário Matos e Joana Astolfi – neste caso uma chaminé feita de sabonetes e que em vez de fumo deita bolhas de sabão, feitas em vidro soprado à mão. No interior da loja, a visão, o tato e o olfato são convocados em diversos pontos. Um deles é a estante vertical iluminada no topo, em que se faz uma viagem pelas “diferentes paisagens olfativas de Portugal” através das seis fragrâncias unisexo criadas pela perfumista britânica Lyn Harris para a coleção Água de Colónia.
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- (Fotografia de Francisco Nogueira).
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- (Fotografia de Francisco Nogueira).
Outro ponto de interesse é a vitrine que expõe, qual loja-museu, objetos e fotografias do espólio da marca, como frascos de antigas fragrâncias, rótulos e cartazes que revelam que a Claus Porto chegou a ter sabonetes para tratar malhas e sedas. Já numa outra sala, adornada por um painel de vidro cinzelado de inspiração art déco, surge um lavatório esculpido a partir de um bloco maciço de mármore. Através da venda assistida, a ideia é que os clientes possam experimentar a ideia de que lavar as mãos com um bom sabonete pode (também) ser um momento de requinte.
Além da coleção Água de Colónia, a nova Claus Porto vende as coleções Deco (marcada pelos padrões coloridos), Classico (composta por 16 sabonetes embrulhados e lacrados à mão), e Musgo Real (criada em 1936 com cinco linhas de produtos e a única exclusivamente para homem). Os produtos – em que se incluem também velas, difusores para a casa e sugestões de presentes – continuam a ser produzidos com métodos tradicionais em Vila do Conde, naquela que foi “a primeira fábrica de fragrâncias da Península Ibérica”, conta Joana Chambel.
Três lojas
A Claus Porto tem outra loja em Lisboa, numa antiga farmácia na Rua da Misericórdia, e uma na Rua das Flores, na cidade do Porto.
Longitude : -8.2245
