Na noite de 24 de dezembro, Valdemar Bonito recorda que, com cerca de 16 anos, ia para a mesa, assim como o pai e o irmão “quase a dormir”. Afinal, desde o dia 22 de dezembro tinham estado a trabalhar a bom ritmo na antiga Confeitaria Cunha, para garantir que não faltava nada na mesa dos clientes. Valdemar, na companhia de outros pasteleiros, tratava do bolo-rei. Ao doce de fruta cristalizada e frutos secos, já em casa, no Porto, juntava-se o bacalhau inglês – que no dia seguinte dava origem à “roupa velha”, as rabanadas, as filhoses, o pão de ló, os bolinhos de bolina feitos pela mãe. Na altura, Valdemar ainda não imaginava que uns anos mais tarde os seus chocolates também fossem fazer parte do Natal de muitas famílias, em forma de presente ou de mais uma gulodice para enriquecer a mesa durante a quadra.
As experiências de Valdemar com bombons começaram na Cunha, há 50 anos. Nem sempre resultavam, mas a persistência e aperfeiçoamento da técnica justificaram a abertura da primeira loja, na década de 1970, na zona do Foco, que se mantém em funcionamento até hoje. Dentro do pequeno espaço há cerca de 40 variedades de bombons de chocolate negro, de leite e branco. Destaca-se as farripas – de laranja ou de limão -, os bombons com sabor a “variadíssimas frutas”, como banana, laranja, frutos silvestres, morango, com frutos secos, canela, menta e até vinho do Porto.
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- (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
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- (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
Os bombons são feitos “com aquilo que há de melhor”, tendo na sua composição natas e manteiga, proporcionando-lhes um sabor intenso e uma textura suave, que se derrete na boca. Além dos ingredientes de qualidade superior, está garantida a frescura do produto, já que há reposição frequente. Por esta época, chega mesmo a ser diária. “Nesta fase do Natal, todos os dias tenho que fazer”, garante Valdemar, que aos 81 anos ainda executa praticamente todo o processo, tendo a ajuda apenas de uma funcionária, para as finalizações. Cada variedade demora entre 30 a 45 minutos até estar pronta e, por estes dias, o trabalho pode ocupar entre 10 a 12 horas, mas Valdemar garante que trabalha com prazer.
Por tudo isto, há clientes fidelizados há décadas, que todos os anos, por estes dias, passam na loja do Porto – ou de Guimarães, no Centro Comercial S. Francisco – para ir buscar uma caixinha verde de letras douradas recheada das mais variadas delícias. Os bombons também se encontravam na Confeitaria Cunha, mas desde que fechou muitos foram aqueles que deixaram de os comprar. “Quem sente falta, pode sempre encontrá-los aqui. São os mesmos”, garante o mestre chocolateiro.
A oferta da Bonitos inclui ainda produtos caseiros do Norte do país, como biscoitos e amêndoas, algumas marcas de chocolate e o queque inglês, um bolo com rum e manteiga, também produzido por Valdemar, e que costuma haver o ano inteiro. As caixas brilhantes em exposição são feitas à mão por Fátima Bonito, mulher de Valdemar. Há-as em diversas cores, tamanhos e com diferentes aplicações.
Longitude : -8.2245
