A Panca pelo ceviche chegou à Baixa do Porto

O projeto pop-up de ceviches foi um sucesso no verão passado. O chef Camilo Jaña reedita a dupla de sucesso com Vasco Mourão e, juntos, fazem nascer a primeira cevicheria da cidade.

Quando um chef chileno apaixonado pela comida sul-americana descreve a abertura de uma cevicheria como uma «saída da zona de conforto», a afirmação pode parecer um paradoxo. A verdade é que o Panca é mais do que a primeira cevicheria da cidade. É a primeira aventura da dupla Vasco Mourão e Camilo Jaña na baixa, longe do império que construíram na Foz, entre Cafeína, Terra, Casa Vasco e Portarossa. O desafio esbarrou «em alguma resistência» mas a vontade de fazer renascer o conceito vingou e chegou finalmente a altura de levar «a fórmula do sucesso» até outro bairro, confessa o chef.

Para desvendar as origens do Panca é preciso recuar até ao verão de 2016, altura em que Camilo se juntou ao amigo e colega de profissão Ruy Leão para, juntos, lançarem a marca e os ceviches nos jardins do Parque da Cidade. O outono veio, o quiosque fechou mas os ceviches ficaram na memória de quem os provou, mas também do chef, que decidiu não deixar morrer o Panca.

Este novo Panca tem cara mais séria, sem pôr de parte o espírito descontraído que caracteriza a cozinha sul-americana. «Há aqui muito trabalho de estudo e pesquisa, é tudo mais pensado e fizemos um upgrade sério aos ceviches. Quisemos definir uma orientação gastronómica e uma linha de pensamento.»

«É isto que eu faço em casa no meu tempo livre, ao fim de semana, nos churrascos entre amigos»

O ceviche peruano é eixo da carta com «pinceladas de cozinha nikkei», isto é, traços da fusão entre a cozinha do Peru com a influência japonesa. Uma empanada aqui, um anticucho ali, e está montada uma ementa de sabores estritamente sul-americanos, com muito peixe fresco e carne na brasa: «É isto que eu faço em casa no meu tempo livre, ao fim de semana, nos churrascos entre amigos».

Do antigo quiosque transitou o Peixeirada, preparado com peixe branco, batata-doce, milho chulpi e o imprescindível, fresco e caseiro leche de tigre, que compõe a marinada que cozinha o peixe no ponto certo. Há mais três escolhas: um cevichón de salmão com quinoa preta, abacate e manga; um de atum nikkei com beterraba e cebolinhas; e porque o melhor fica para o fim, o mariscal puro, um ceviche de marisco feito com o que chegar fresco à cozinha, ostras, mexilhão, lingueirão.

Um dos segredos do ceviche de marisco, explica Camilo, são «as algas produzidas por uma bióloga marinha» e que são usadas na confeção do prato, neste caso a codium, uma de muitas variedades de algas comestíveis.

O ceviche mariscal é feito com o marisco do dia e leva ainda uma alga comestível, feita na casa por uma bióloga marinha

Do mar à brasa, o chef fez questão de mostrar a sua paixão pela parrilla ao incluir uma secção dedicada apenas à cozinha em fogo vivo. Os anticuchos, ou espetadas, de polvo com molho teriyaki e de novilho com chimichurri fazem as apresentações, seguidos de uma corvina na brasa com carbonara do mar e cachaço de bísaro com mandioca.

O festim sul-americano não fica por aqui. Saem maçarocas de milho na brasa com manteiga de miso, tártaro de atum nikkei, empanadas – de chili, queijo com camarão e um bacalhau de cebolada a piscar o olho aos portugueses – e umas batatas bravas, que só o são de nome, porque a origem é igualmente peruana ou não fossem uma recriação das papas a la Huancaína, cobertas com um molho picante de ají amarillo.

O Panca não é apenas a primeira cevicheria da cidade. É também o primeiro pisco bar. A aguardente de uva peruana é a base do cocktail que acompanha teimosamente os ceviches, o pisco sour, com lima, limão, clara de ovo e três variedades da bebida à escolha.

O pisco sour é a bebida oficial da casa. Aguardente de uva peruana, clara de ovo, lima fazem o refresco ideal para o tempo quente

Os padrões e o colorido sul-americano, embora em tons mais leves, pastéis, complementam o espaço descomplexado e de ambiente semitropical. A casa recuperada, a poucos metros da Praça dos Leões, esconde ainda uma esplanada coberta onde ainda sobrevive a velhinha placa do Panca, o original, em tempos exposta no quiosque do Parque.

Mesmo fora da zona de conforto, Camilo começa a adaptar-se à nova casa que, afiança, não será a única. Existem «muitas ideias na gaveta» e «outras marcas por explorar». A chegada da dupla Vasco e Camilo à baixa parece indiciar o nascimento de uma nova etapa, à conquista de outras zonas da cidade. «Decidimos que se era para vir para a baixa, era para vir em força, para lançar mais projetos. Quando, não sei», conclui o chef.

Para já, aproveita-se a estação com os sabores frescos do Panca, para matar saudades do verão passado ou conhecer novos sabores. Com a certeza de que este Panca veio para ficar, sem medo da chegada do inverno.

 

Partilhar
Mapa da ficha ténica
Morada
Rua Sá de Noronha, 61, Porto (Baixa)
Telefone
222033144
Horário
Das 12h30 às 00h00. Não encerra.
Custo
(€€) 30 euros


GPS
Latitude : 41.1478419
Longitude : -8.615267099999983




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend