O fervilhar de sítios recentes para comer na baixa da Invicta contempla, felizmente, comida de muitas latitudes e/ou com olhares renovados sobre as matérias-primas locais de sempre. O que o leque de novidades raramente contempla é comida típica portuguesa, cozinhada de forma típica. Casas clássicas continuam a salpicar o mapa e, grosso modo, fica-se por aí.
O Freitas cumpre um papel no sustento da tradição desde outubro de 2012. Fernando Freitas abriu as portas deste negócio de família na Rua de Santo Ildefonso, após anos de observação direta do mister: “Nasci nisto. Os meus pais já tinham um negócio”. Era o Carioca 2, a curta distância, restaurante mais conhecido como Casa do Bacalhau ou Casa Zita. “Vivi sempre nisto. Parei uns anitos, dediquei-me aos bares. Depois, nasceram as miúdas e percebi que tinha que voltar à restauração, algo mais sério [risos].” Uma das filhas faz agora parte da equipa de cinco pessoas da casa.
Fernando Freitas gosta de antiguidades, o que explica a decoração das duas salas, íntimas e crivadas de objetos vetustos nas paredes. As gravuras, fotografias, gravadores analógicos e ferramentas de trabalho de antanho foram sendo acrescentadas, ano após ano.
A preservação do que vem de trás estende-se, então, ao que chega à mesa. “A ideia [para O Freitas], minha e da minha mãe, que aqui esteve durante muitos anos, foi sempre de criar comida típica portuguesa.” E é encontrá-la na carta, do bacalhau à Freitas (frito, com cebolada e batata frita às rodelas) que configura um twist do bacalhau à Braga “com um molho mais nosso”; à posta à Freitas, carne macia e fatias finas, com a qualidade necessária para chegar à mesa apenas selada e acompanhada de batata a murro, os curtos condimentos na medida certa. A inspiração, olhar e prática estão focados no Minho. O que mais recomenda, Fernando Freitas? “Temos as tripas [à moda do Porto] à quarta-feira e o arroz de cabidela à sexta.” Espécimes mais robustos, de que são exemplo o cabrito assado no forno, o cozido portuguesa e o polvo à lagareiro, são feitos por encomenda. A carne chega de Vieira do Minho.
Os vinhos são outra paixão do chef. O Douro prevalece. É da lá, da Quintas dos Frades, em Folgosa, que vem o encorpado Vinha dos Santos tinto 2020 para fazer coro, não só com a posta, mas também com a alheira de caça com ovos mexidos que brilha nas entradas – enchido sem overdose de gordura e levemente torrado, ovos soltos e na temperatura certa. Fica-se bem servido de tipicidade lusa.
Longitude : -8.2245