Se Pedro Homem de Mello fosse vivo e visitasse hoje o Convento de Cabanas, em Afife, Viana do Castelo, provavelmente escreveria um poema. Dedicado à cantora lírica Nathalie D’Ornano, que recuperou e transformou a sua antiga morada num espaço romântico, onde até o que se come e bebe está carregado de poesia.
O convento ainda está em obras de recuperação, mas, ao lado, a nova proprietária abriu um café, com porta para o Caminho de Santiago, cuja ementa, criada a quatro mãos com o chef Thiago Moura, oferece uma viagem de sabores, com fusão de várias cozinhas do mundo. E que combina com a alma do lugar.
O mais comum é que enquanto degusta delícias à sombra de um guarda-sol parisiense, na esplanada que mais parece um jardim, borboletas esvoacem e poisem por ali, ao som da água corrente. Também pode ser visitado pela bonacheirona e meiga mascote da casa, a cadela Lilou.
Flores comestíveis e não comestíveis (há sempre um bouquet delas, colhidas pela dona), frutas, legumes e ervas aromáticas são produzidos na quinta do convento. Nathalie faz questão de que sejam servidos produtos da casa ou comprados a produtores locais, numa lógica de economia circular.
“O conceito é que tudo seja o máximo possível artesanal, com comida da horta e do jardim. Será o mesmo no futuro restaurante [este já no interior do convento e que deverá abrir antes do próximo Natal]”, explica.
A cozinha do chef Thiago, que clientes descrevem como “uma explosão de sabores”, é dinâmica. E acontece ao sabor do que a terra dá.
Há uma ementa fixa que vai sendo (re)criada com ingredientes disponíveis: poke bowl, ceviche, tartar de peixe, tostas abertas de salmão com mousse de abacate ou húmus e legumes. E sopa e salada do dia, foccacia caprese, ciabatta de vitela e brioche com porco vandaloo.
Também há granola de Cabanas com iogurte e compota, açaí, torradas de brioche ou pão rústico, com compota e manteiga.
O mesmo com doces e bebidas. Há doçuras do chefe e bolo do dia. Podem acontecer, por exemplo, bolos de couve ou de rúcula. E também há brownies, cookies e gelados.
Para beber, batidos e sumos do dia, limonada com limões da quinta, chás e água com sabugueiro. O café é de uma torrefação local. E há uma lista de drinks para tomar à sombra das árvores do convento. Porto tónico, vinhos e espumantes, um cocktail da casa e até cerveja artesanal de Cabanas.
Além de devolver a alma ao lugar, que se encontrava ao abandono até 2019, Nathalie D’Ornano está também a investir em produtos artesanais com marca própria (Convento de Cabanas, desenhada por Becken Filipe): licor, cerveja artesanal (IPA e Weiss), azeite, velas, chá, vinagre, sal e sabonetes.
Todos os dias, principalmente de manhã, peregrinos de todo o mundo param boquiabertos no Café de Cabanas.
O que diria agora Pedro Homem de Mello? “Sinto que está muito contente”, responde a cantora lírica, que decorou o espaço com objetos pessoais e detalhes de old lady. Porque, acredita, há também um espírito feminino que habita aquele lugar.
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