Mira: comer em conta no Primavera, onde se escolhe entre dois pratos

O bacalhau grelhado com batatas a murro é o cartão-de-visita da casa. (Fotografia: Adelino Meireles/Global Imagens)
No Primavera, restaurante familiar nascido, há mais de meio século, na aldeia de Colmeal, não existe ementa à vista. Quem lá vai só tem de optar entre dois pratos: o de peixe (bacalhau) e o de carne (febras ou costeletas de porco).

Os indecisos têm a vida facilitada no Primavera, instalado numa casa gandaresa, na aldeia de Colmeal, no concelho de Mira. Afinal, só há dois pratos: um de peixe (bacalhau grelhado) e outro de carne (febras ou costeletas de porco). Não há ementa à vista nem diárias, conta João Santos, que se divide entre o balcão e as mesas, naquele espaço criado, há 56 anos, pelos avós Lídio e Leontina. Aos 87 anos, ela ainda chama a si algumas tarefas – à quarta-feira, continua a cozer a broa que acompanha as refeições.

Da esquerda para a direita, João com os pais, Silvino e Maria Odília, e a avó Leontina.
(Fotografia: Adelino Meireles/GI)

Leontina tem a memória fresca. Junto ao forno, recorda os primeiros tempos de funcionamento do Primavera, como mercearia, café e casa de pasto – um comércio como não havia outro na aldeia. “Assávamos frangos e fazíamos uns petiscos”, recorda, acrescentando que só mais tarde vieram as carnes e o bacalhau. No início, cozinhavam ela e o falecido marido. Hoje, o negócio, com alvará de 1965, continua a ocupar diferentes gerações da família. Enquanto João faz chegar as travessas aos clientes, a cozinha está entregue aos pais, Silvino e Maria Odília – foi esta última quem criou o doce da casa, uma espécie de pudim com uma camada de merengue cujo segredo não revela. “Quem prova quer sempre”, limita-se a dizer.

As febras, acompanhadas por batatas no forno.
(Fotografia: Adelino Meireles/GI)

Mas já explicava João que a escolha é simplificada por se trabalhar com menus de valor fixo, que incluem pão, azeitonas, bebida (sumo, água, cerveja ou vinho da casa), prato principal, sobremesa e café. O que varia é o prato principal. Se for febras ou costeletas, custa 11 euros; se for bacalhau, sobe para 14 euros. Só à sexta, sábado e domingo é que existe outra opção, já a troco de 16 euros: costeleta de novilho. Por encomenda, com antecedência, também se faz galo de chanfana ou vitela de chanfana, no mínimo para seis pessoas. Sendo que, ali, a chanfana vai primeiro à panela e, depois de evaporar o vinho, ao forno, numa caçarola de barro.

O primeiro posto de telefone e a primeira televisão da aldeia surgiram entre aquelas paredes. É uma casa cheia de histórias, onde muitos festejaram casamentos e batizados.

Entrando pelo lado do restaurante, tem-se a sensação de estar numa casa, e assim é. A garrafeira está ao alcance de qualquer mão e, durante o inverno, a lareira acesa torna o ambiente ainda mais acolhedor. Com os anos, o que antes era rua passou a estar coberto. Onde estão as salas de refeições já houve currais, exemplifica João, lembrando que o primeiro posto de telefone e a primeira televisão da aldeia surgiram entre aquelas paredes. É uma casa cheia de histórias e faz parte das memórias de bastante gente, até porque chegaram a festejar-se ali casamentos e batizados.

Os clientes continuam a chegar um pouco de todo o lado, como atesta Paulo Silva, que é do Porto e pára ali há mais de uma década. O restaurante, próximo da A17, tem uma localização apetecível para quem, como ele, viaja em trabalho entre Norte e Sul, comenta, enquanto saboreia o bacalhau grelhado com batatas a murro. É esse o prato-emblema da casa, aquele que mais corre de boca em boca, embora muitos gostem de provar, a seguir, também um pouco de carne.

O que marca a diferença no bacalhau do Primavera é, em grande parte, a demolha, que dura pelo menos três dias, com trocas de água de 12 em 12 horas, assegura João, gracejando: “É um menino que a gente tem ao colo”. Para o comprovar, aconselha-se reserva, ou corre-se o risco de, por falta de lugar, ter de virar costas aos aromas sedutores que se libertam da cozinha.

Uma das salas do restaurante, munida de lareira.
(Fotografia: Adelino Meireles/GI)

Opções

Menu de carne: 11 euros (febras ou costeletas)
Menu de peixe: 14 euros (bacalhau)
Por encomenda: galo de chanfana ou vitela de chanfana
Sobremesas: Doce da casa, mousse de chocolate, queijo com marmelada

Partilhar
Mapa da ficha ténica
Morada
Rua Principal, 84, Colmeal, Mira
Telefone
915707542
Horário
Das 12h às 16h e das 20h às 22h30. Encerra domingo ao jantar e terça todo o dia.
Custo
(€) Menus desde 11 euros.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend