O vistoso arco em pedra impõe-se no interior da Pastelaria 1800, a ponto de muitos clientes perguntarem se se trata da fachada original do edifício. Acostumado a estes comentários, Gentil Pereira explica que o arco existe desde a remodelação da casa em 1924, retratando uma paisagem rural em azulejos brancos, amarelos e azuis da autoria de Jorge Colaço, produzidos no século passado na Fábrica de Cerâmica Lusitânia.
Gentil Pereira, 48 anos, é um dos três sócios-gerentes deste negócio há quase 20 anos. Simpático e conversador, conta que começou a trabalhar na restauração aos 14, vindo de Lamego em busca de “melhores condições de vida”. Emigrou depois para a Suíça, 16 anos, para trabalhar na hotelaria. “Tinha um irmão e primos lá. A adaptação foi muito difícil, é outra cultura de trabalho, mas correu bem.”
Quando regressou a Portugal, entrou diretamente para a Pastelaria 1800. “Isto era uma taberna. Tinha ali uns pipos e vendia de tudo, carvão, tabaco…” E já na época se notava a vocação para servir petiscos, como sandes de couratos e bifanas. “Como pastelaria, existe há 50 e poucos anos”, acrescenta em conversa com a “Evasões”.
Os croquetes são um dos salgados mais afamados. “Vendemos em média 1200 por semana”, atira de cabeça Gentil Pereira, descrevendo-os como “bem recheados com carne de novilho e cremosos”. Campeões de venda são ainda as empadas de galinha e os pastéis de nata – transacionados à razão de 120 diariamente. Tal como os salgados dispostos na montra, é tudo de fabrico próprio: folhados, bolas de Berlim, croissants, pão de Deus, queijadas, salame, palmiers, salada de frutas.
A Pastelaria 1800 é uma casa à moda antiga, mas que soube atualizar-se com uma oferta para todas as ocasiões do dia, do pequeno-almoço ao lanche. Tanto assim é, que é muito procurada ao almoço, seja por clientes de passagem, como lisboetas e turistas estrangeiros, como pelos trabalhadores das empresas próximas do Largo do Rato. À espera deles está a ementa de pratos do dia, escrita em português e inglês.
Os pratos mudam consoante a inspiração da cozinheira Clara Augusto – natural de Lapa dos Dinheiros (Serra da Estrela) e prestes a completar uma década à frente da cozinha -, mas podem incluir sopa de espinafres, arroz de polvo, bife de atum grelhado com batata e legumes, bifinhos de vitela com cogumelos, rolo de carne com batata e salada, tarte de bacalhau ou de legumes com salada e alheira.
“No verão, os clientes preferem pratos mais leves e frescos”, diz Gentil, apreciador de outros clássicos da cozinha portuguesa e caseira, como feijoada, mão de vaca com grão e rojões. Pedindo uma meia dose (as quantidades são suficientes para se ficar satisfeito), uma sopa e uma sobremesa, é possível almoçar por menos de 15 euros, aproveitando confortavelmente o período da meia hora de almoço.
Paralelamente à ementa do dia, a Pastelaria 1800 trabalha com um menu fixo onde constam várias opções de peixe, carne e omeletes, todas abaixo dos 11 euros. O bitoque com ovo a cavalo, salada e batatas cortadas à mão e fritas no ponto é um dos clássicos que os clientes mais pedem. Clara Augusto abastece-se de carne e peixe no Mercado do Saldanha, enquanto as verduras vêm do Mercado da Ribeira.
COMER EM CONTA ATÉ 15 EUROS
Especialidades: bitoque, bacalhau à casa, feijoada
Sobremesas: arroz-doce, mousse de chocolate, leite-creme
Longitude : -8.2245