# Uma hamburgueria serrana
Em alternativa à posta, a fiel sugestão da cozinha regional, dois irmãos utilizam a carne de cachena certificada para fazer hambúrgueres artesanais numa taberna familiar. A carne vem de Arcos, o pão de uma padaria local.
Tudo começou com uma experiência em casa. Os irmãos Ana e Manuel Lage desenvolveram um hambúrguer de cachena, suculento e criativo, que à carne certificada – cartão de visita da gastronomia local – junta cebola com caril, queijo de cabra, doce de mirtilo e ovo, complementando-a, sem a ofuscar. “A receita é do meu irmão”, atribui Ana, mas foi através de um trabalho conjunto que a criação começou a ganhar fãs. “ Começamos a fazer feiras e a dar a provar”, conta.
Em 2020, transformaram a antiga cave da casa de família para abrir a Taberna Montanh’Arriba, com Ana à frente da sala e a mãe, Teresa Ribeiro, ao comando da cozinha. Manuel concilia este projeto com outros, como a Soajo Nomadis, uma empresa de atividades na natureza e aventura que atua no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
A primeira criação da dupla, que dá pelo nome de Tradição, tem vindo a ganhar companhia de novas combinações na carta, como a Serra, que leva cogumelos, presunto e queijo da Serra; ou a Rural, com presunto, queijo da Serra, pickles de cebola e pimentos. Todos em dose generosa e acompanhados com batatas rústicas.
O uso de produtos da região não se resume à carne de cachena, que ali chega de um talho de Arcos – na cozinha apenas ganha a forma de disco, e vai diretamente para a grelha, assegura Ana – mas também abrange o pão, produzido numa padaria local, na aldeia de Rouças.
Em alternativa, a família criou ainda um hambúrguer vegetariano, feito à base de feijão vermelho, e para os mais tradicionalistas, não falta a posta de cachena. Vale a pena guardar espaço para o bolo de chocolate. Esse é receita da Ana.
# Cozinha apurada num alpendre soalheiro
Uma receita de nacos de cachena em vinho tinto, com mais de 30 anos, e pratos de influências variadas, convivem numa carta feita com os produtos locais e servida num convidativo alpendre.
Entre as moradas de boa cozinha serrana que proliferam pelas ruas da vila, está logo à entrada o Espigueiro do Soajo, aberto há 35 anos pelos pais do atual proprietário e cozinheiro, David Neto. O casal de soajeiros regressados da América construiu a casa e o negócio, onde se revezavam na cozinha até decidirem que era altura de pousar os tachos. “Eles disseram que iam fechar e eu vim. Estou cá há 14 anos”, conta David, também ele retornado dos Estados Unidos, para tomar conta do restaurante da família. “Nasci no meio disto”, diz. Daí que tenha assumido também o comando da cozinha, mantendo os pratos já conhecidos e introduzindo novos.
Depois da alheira de caça e dos cogumelos salteados, que habitualmente abrem a refeição, a carne de bovino local chega à mesa em duas confeções que representam as duas gerações ao leme do Espigueiro do Soajo. Por um lado, os tenros nacos de cachena, cozinhados durante três horas e meia em molho de vinho tinto e servidos com o típico arroz de feijão tarreste. A receita tem assinatura do pai de David. “Ele foi servente em França e veio daí o prato”, conta o topógrafo de formação. Da sua autoria é o ossobuco de vitela, guisado num molho atomatado e acompanhado com arroz de legumes.
Para terminar, o bolo de mel do Soajo completa o repasto com o sabor reconfortante das especiarias e uma doçura moderada.
A sala interior do restaurante mantém um estilo clássico, forte em madeira e com uma lareira aconchegante, mas em dias soalheiros, o lugar ideal para apreciar os pratos que David manda pela pequena janela da cozinha para o exterior é o alpendre, também em madeira, suportado por vigas de granito, que protege dos raios de sol mais fortes, mas deixa sentir o ar ameno da primavera.
Longitude : -8.2245
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