Dona Mena e a sua comida com sabor a casa, em Ílhavo

Filomena Grave ( Dona Mena). (Fotografia de Maria João Gala/GI)
No Dona Mena a ementa é pensada diariamente e o ambiente é familiar. Cozinheira tradicional e recentemente premiada, Dona Mena é uma anfitriã de sorriso largo.

À quinta-feira é dia de cozido no pão. Às cinco da manhã, dona Mena, Filomena Grave de batismo, está no seu restaurante a que chama casa. Na véspera, depois dos jantares servidos, tratou das carnes e dos legumes, tudo limpo. “Chego e acendo o forno, depois monto o cozido, é como fazer um puzzle.” Abre os pães caseiros e sem fermento feitos pela irmã Guida que é padeira. Coloca folhas de couve na base, batatas e cenouras a seguir, depois carnes e enchidos em cima, mais couve a rematar. Às seis e meia da manhã, as travessas entram no forno. Não é um forno qualquer. “Um forno com mais de 200 anos”, diz.

Seis horas depois, o cozido sai para as mesas. Quando salta a tampa do pão, percebe-se a fama deste cozido, é a aparência, é o cheiro, o gosto das carnes tenras, dos legumes suculentos. Na cozinha, várias mãos a ajudar, da irmã Guida, da sobrinha Catarina, da afilhada Susana, da amiga Celeste. Comida tradicional na Dona Mena com balcão à entrada, centenas de garrafas de cerveja de várias partes do Mundo à vista e cheias, sala à esquerda com o cantinho das crianças com desenhos infantis na parede (papel, lápis e marcadores à disposição), mais uma sala com duas mesas, jarras antigas de vinho penduradas no teto, um móvel de louça, uma balança de outros tempos. Mais uma mesa comprida num espaço exterior com uma ramada como teto. E ainda outra sala, a do forno, com móvel de louça, cristaleira, jarras com rendas à volta, alguidares de barro, uma velha masseira, e peneiras, fervedores de leite e pratos pendurados nas paredes. Volta e meia, a decoração muda. “Não gosto de ter tudo sempre igual, é como na comida”, confessa dona Mena.

Não há carta, come-se o que há no dia. “Quando vou para a cozinha, resolvo”, diz. Há, porém, dias com comidas certas. Cozido no pão à quinta e ao domingo apenas para takeaway. Derivados de bacalhau, boininhas (as bexigas mictórias do peixe), caras fritas e pataniscas de bacalhau com arroz de feijão. Ao sábado, a mão inclina-se para os assados. As sopas são certas. Creme de legumes à terça, de carne de vaca à quarta, sopa à lavrador com feijão, nada passado, à quinta-feira. Chora de bacalhau à sexta, sopa de pedra ao sábado. Os condimentos que usa estão escritos num cartão preto que pendurou na janela. “Entrada: Família. Prato principal: Amigos. Sobremesa: Alegria. Preço: Não há dinheiro que pague.” Está escrito, confirma-se à mesa.

Arroz com molho negro de galo, robalo no sal, chanfana de carneiro, cabidela de leitão, rojões, feijoada de samos, bacalhau com broa também estão na sua lista. Tal como o bacalhau à dona Mena com batatas às rodelas e bacalhau entalados em azeite a ferver, tudo numa travessa funda com cebola e tomate e que vai ao forno. O marido João Grave tem jeito para a cozinha, para o leitão no espeto, para as carnes grelhadas. Nas sobremesas, arroz-doce só com ovos caseiros, bolo de bolacha sem manteiga, pudim, leite-creme, bolo de bolacha com natas. É uma vida na cozinha, como gosta dona Mena.

A afilhada Susana Sacramento serve às mesas. A receita do sucesso? “Passa muito pela forma como recebemos as pessoas, o ambiente, e quererem provar o que era antigamente, o tradicional. E o facto de ser surpresa todos os dias”, responde. “E a forma como ela [dona Mena] faz a comida, com muito amor.”
A comida é tradicional nesta casa portuguesa, com certeza, como está escrito na fachada. “Sempre gostei de cozinhar, sempre tive este gosto, nunca aprendi, e o que faço é como se fosse para casa”, refere dona Mena que, este ano, foi distinguida com o prémio Profissional do Ano pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. “Não estava à espera, nunca me passou pela cabeça”. Uma honra e um orgulho.

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Mapa da ficha ténica
Morada
Rua N.ª Sra do Alívio, 34, Vale de Ílhavo
Telefone
234325972/964045654
Horário
Segunda a quinta das 9h às 21h, sexta e sábado das 9h às 22h. Encerra ao domingo, dia em que tem serviço de takeaway para cozido no pão. É preciso reservar.
Custo
() Preço médio: 15 euros com tudo incluído (exceto vinhos da carta)


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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