Cá fora encontramos o curioso sem-fim teleférico, ainda com as cestas utilizadas nos tempos que já lá vão para aliviar as traineiras do pescado saltitante e instalar a festa na lota. Logo ali, a ponte sobre o Arade que abre acesso à EN125 e as muitas memórias de tempos luminosos dos vaivéns de frescura e produto de primeira atordoado na grelha que logo ali se consumia. Instalou-se o museu de Portimão exatamente aí, e hoje é um marco incontornável da cidade, tanto para conhecer as origens como para participar a atividade cultural de brilho e talante que se vai oferecendo ao longo do ano.
Chamou-se Faina ao espaço restaurativo e de cafetaria e curiosamente veio de bem longe quem há cerca de dois anos fez dele embarcação de aventura pelos sabores portugueses. Emídio Freire é angolano aqui aportado há muito e juntamente com a sua mulher Ana governa com criatividade fascinante um cardápio onde consta tudo de que precisamos para ser felizes. Nem de propósito, encabeça a ementa a secção era uma vez, de sabores antigos em tempos modernos, e é uma sequência de petiscos inaugurais na qual podemos, querendo, permanecer. A atmosfera de prateleiras metálicas e paredes de tijolo faz brilhar a garrafeira, conservas e muitos outros produtos, tornando-nos parte do cenário.
Simplicidade é a palavra de ordem e por isso entregamo-nos sem complexos aos maravilhosos croquetes de vitela com mostarda (4,50 euros, 3 unidades) ou aos mais ousados mas conseguidos ovos com biqueirão (4,50 euros). Fica a alma presa ao esparguete à conserveira (12,50 euros), tanto por elevar a cavala picante em conserva e iguaria dos deuses como por ilustrar na perfeição a própria faina que aqui mesmo deixou assinatura assumida. As papinhas de lingueirão com chouriço (9,50 euros) namoram o xerém na apresentação mar-terra primordial, depois de provar todos passam a fazer em casa, de tão bom que é para partilhar com os amigos. Outra perdição entradeira é o camarão marafado (12,50 euros), assessorado por alho, biqueirão, coentros e malagueta.
Nos pratos principais, pomos a bandeira no sandokan tigre algarvio (24,50 euros), e consta de três camarões-tigre grelhados na chapa servidos com batata frita. Viciante o polvo à Gomes de Sá (16,50 euros), quase a fazer-nos pensar por que nunca nos ocorreu tal ideia, mas o génio culinário é mesmo isso, e como é bem-vindo no imenso rol de maresias portuguesas. Há um atum braseado (17,50 euros) que merece paragem, vem com batata-doce frita e molho de pistácio e soja. Irresistível é o tártaro de atum com granizado picante de manga (17,50 euros), feito com atum fresquíssimo matizado com coentros, gengibre, cebola roxa e rabanete. E nas doces terminações, maravilha a torta de alfarroba com curd de limão (4,50 euros). Combinações infinitas a fazer de cada faina de refeição uma festa.
A refeição ideal
Ovos com biqueirão (6,50 euros)
Atum à Bulhão Pato (14 euros)
Polvo à Gomes de Sá (16,50 euros)
Sandokan tigre algarvio (24,50 euros)
Torta de alfarroba com curd de limão (4,50 euros)
Longitude : -8.53446299999996
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