Crítica de Fernando Melo: Restaurante Avenida, Lagos

O restaurante Avenida, em Lagos, é paraíso para carnívoros, surpresa para amantes do que o mar dá e destino lifestyle para quem busca o diferente à mesa. Que aqui pode acontecer ao balcão. O eternamente jovem chef Roeland Klein deixa marca em cada empreitada, saudades em cada prato.

Na movimentada avenida ribeirinha de Lagos, onde no Verão é impossível o percurso retilíneo sem quebras nem colisões, o ambiente namora Ipanema na sensualidade e no sentimento. A hotelaria cresceu e desenvolveu-se como em todo o Barlavento e ainda bem, o pescado e a cascaria têm expressão suprema nestas águas, daqui a Sagres. Hotéis, restaurantes e lojas constroem o percurso inevitável do consumo e é então que juramos voltar na época baixa. Privilégio acessível a poucos mas que lugares como o Hotel Avenida proporcionam ao longo de todo o ano.

Em tom de provocação, a piscina está lá em cima no último piso, o restaurante impõe o interface do balcão, o que é bom para entabular conversa com o chef. Roeland Klein fez o impossível e no Avenida cada um tem mesmo o seu modo próprio de usar. Começa na selecção dos especiais da casa, em que pontifica o peixe em crosta de sal, mas cede o trono a quatro grandes cortes e preparações de carne. Apetece fazer amigos à pressão para encher uma mesa ou duas e sim, cortar por uma noite com a copiosidade atlântica, vale a pena ceder a esta tentação.

A aba ou fraldinha (39 euros, duas pessoas), consta de meio quilo de carne de novilho maturada ao longo de seis semanas e tem a suculência e o sabor da grande experiência. Ficámos fãs do costeletão de boi (99 euros), peça de cerca de 800 gramas. Perfeito para aferir e confirmar a correção e competência da grelha, melhor ainda para fazer amigos. O chef Roeland Klein tem contudo outros trunfos e temas, que nos obrigam a ficar de outra forma. Frio do mar, frio do mar e da terra, quente do mar, quente da terra, assim está o cardápio organizado, declinações a seguir o padrão de proteína principal assessorada por um par de acompanhamentos, bem à maneira de ateliê experimental, onde somos nós felizes cobaias.

Geniais as 6 ostras, pepino agridoce, cardamomo e Gin Mare (16 euros), pergaminhos marítimos concedidos a Klein. Incrível e original a couve-flor, ovo 64o e trufas pretas (14 euros), provocação marítima inefável as vieiras, granny smith, alcachofras de Jerusalém e avelãs (14 euros), verdadeiro festival de sabor. Combinação tirada do nada mas muito bem conseguida a do polvo, batata, anchovas fumadas, chucrute, caldo de vitela e cominhos (14 euros), um prato quente que pede entrada nos canhanhos culinários nacionais à maneira de errata, de tão ancestral que parece ser. Assim como nos internacionais falta o foie gras, cebola, alface bebé e trufas pretas (15 euros), que aqui se serve. Ai se um dia o livrinho vermelho dá com esta casa! Nós já demos, e ainda bem. É para voltar e revoltar.

 

A classificação:
O sítio – 3,5
O serviço – 3
A comida – 5
A refeição ideal:
Menu de 6 pratos, servidos a todos numa mesa. 60 euros/pessoa

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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