Crítica de Fernando Melo: restaurante Aura Vinea, em Alenquer

(Fotografia: DR)
Herdou o nome do bem-nascido agroturismo, reconhecidamente ventoso como todo o cenário rústico circundante, traduzido à letra quer dizer “ares da vinha”. O Aura Vinea é suficientemente perto de Lisboa para almoçar todos os dias. O chef Luís Calixto atingiu o esclarecimento e é o mestre de todos os equilíbrios.

O caso muito sério de um cozinheiro que após um périplo de formação, experimentação e itinerâncias diversas regressa à terra. O chef Luís Calixto tem 34 anos, oficiou em cozinhas de primeira linha e na sua vida já deu muitas voltas. O fio condutor de todas elas, contudo, foi um só: a paixão da cozinha.

Nasceu em 1986 no Vale do Paraíso, Azambuja e pode bem ter sido logo aí, no contacto diário com a horta e a vinha dos seus avós, que o bichinho entrou para nunca mais sair. Frequentou engenharia física na Universidade de Aveiro e, longe de casa, viu-se na necessidade de preparar as suas próprias refeições. O que costuma ser adversidade foi para o jovem Luís a descoberta definitiva da vocação: iria ser cozinheiro e não engenheiro.

Terminou o primeiro ano e sem hesitação foi para Lisboa, para na escola de hotelaria de então – ainda era nas Olaias – fazer o curso de pastelaria e cozinha. O estágio foi com o chef José Avillez nos tempos do Tavares no Chiado e aí deu-se o segundo clique, a restauração profissional. Trabalhar em cozinha, com toda a complexidade e dificuldade que pode ter, foi a vida que o adulto Luís Calixto escolheu e é nessa condição que o visitamos, a encabeçar e bem o Aura Vinea.

Após um périplo de truz pelo Shis, no Porto, e pelos lisboetas Casa da Comida, Chapitô, Espelho d’Água e Lost’In, sentiu o apelo das raízes a aceitou o repto das proprietárias mãe e filha do especialíssimo Aura Vinea, perto da sua Azambuja. Os saudosos chefs Joaquim Figueiredo e Bertílio Gomes são as suas grandes influências, que trouxe integralmente para esta casa onde nos encontramos.

O cardápio é totalmente inesperado, tanto pela profusão e matizes como pelo ecletismo. O aveludado de castanhas e funcho (4 euros) denuncia alta escola e é perfeito na textura a aromas. Fabulosa a sopa de peixe e marisco (6 euros), fundo bem trabalhado, sem facilitar e a permitir identificar os componentes. Belíssima e claramente de escola Bertílio é a alhada de raia (14 euros), inefável o polvo assado com puré de batata-doce (17 euros), genial a codorniz em duas texturas com puré de aipo, marmelos caramelizados e cogumelos (15 euros).

Termina-se doce com o crème brulée de citronela (4,50 euros) e promete-se voltar, para conferir tudo o resto, que é muito. Fazem bem os ares da vinha ao eternamente jovem chef Luís Calixto, de quem podemos esperar ainda muito.

A refeição ideal

Tábua de enchidos (Paio, Copita e Paiola) (4 euros)
Sopa de peixe e marisco da nossa costa (6 euros)
Ovo escalfado com espuma de batata trufada, cebola caramelizada e pão frito (7 euros)
Polvo assado com puré de batata-doce, tártaro de tomate, pimento verde e crumble de broa (17 euros)
Codorniz em duas texturas com a sua glace, puré de aipo, marmelos caramelizados e cogumelos (15 euros)
Mousse de chocolate belga com praliné de avelãs (4,50 euros)

Classificação

Sítio: 4
Comida: 4,5
Serviço: 3,5

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Mapa da ficha ténica
Morada
EN9, km 26, Meca, Alenquer
Telefone
263711435
Horário
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h. Encerra segunda, terça domingo ao jantar.
Custo
() Preço médio: 24 euros


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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