Crítica de Fernando Melo: o mundo à mesa no Rei dos Leitões

(Fotografia de Maria João Gala/GI)
A Bairrada é berço de clássicos do vinho português. Tem história, pujança e sentido patrimonial. E encerra todo um percurso gastronómico notável, resultado das muitas influências que soube absorver. O Rei dos Leitões é o demonstrador perfeito de um jogo aberto a todos e a que todos são chamados.

O leitão assado à Bairrada é a guloseima que apronta as gentes do norte e do sul a tempo e horas para estar à mesa a horas de almoçar ou jantar nas suas transumâncias rodoviárias. E é difícil resistir à que é a forma mais sublime de o preparar e servir. A latitude mais procurada é a Mealhada, onde a concorrência é maior que a competência e onde cada horda tem o seu totem. Eu sou fácil de satisfazer e difícil de convencer, por isso faço o “sacrifício” de provar de forma sistemática o leitão em vários assadores, já cá não está quem fazia comigo essas incursões. A Bairrada merece contudo que se lhe aplique o crivo da avaliação de restaurantes sem preconceitos nem vícios – é mais que tempo de premiar a oferta restaurativa propriamente dita. Enquanto os agentes económicos esbracejam com os problemas do setor e tentam ombrear com a concorrência, outros – raros – estão na sua própria senda de excelência empresarial.

O Rei dos Leitões de Licínia Ferreira e Paulo Rodrigues é único e exemplar nisso mesmo. Escreveu Oscar Wilde que o casal perfeito é aquele em que a mulher representa a tradição e o homem o futuro, e aplica-se inteiramente aqui. Paulo deixou a banca para se dedicar de corpo e alma ao negócio familiar de Licínia e não deixa escapar um único detalhe, produto ou técnica que possa melhorar a oferta da casa. Fernando Ruas, Rita Baptista, Rui Neves, Tiago Paulo, Carlos Marques (escanção), Lídia Ribeiro (pastelaria), Leonardo Mendes (cozinha) e Nelson Santos (leitão), todos exímios nas suas artes, elevam bem alto a fasquia em matéria de serviço e classe. Coreografia perfeita na sala, todos sem exceção empenhados na nossa felicidade.

Abrir com presunto 5J (22,50 euros) sabe a recompensa merecida, avivada pelo prazer de chegar. A empreitada petisqueira aqui é sempre diferente, entrego-me totalmente nas mãos competentes do bem-disposto staff. A sapateira recheada (26 euros) evoca o petisco popular supinamente feito. Lapas dos Açores (19 euros), processadas com manteiga, alho e limão no zénite da frescura trazem o mar para a mesa. Canónicas as amêijoas à Bulhão Pato (28 euros), feitas a preceito sem véus nem disfarces, deliciosas. Patrimoniais e oportunas as enguias fritas (24 euros), e chegamos ao tríduo final, de caranguejo do Alasca com gengibre fresco (310 euros/kg), capão à Freamunde com arroz de morcela (170 euros inteiro) e leitão assado (25,50 euros/dose). Coroação doceira em desfile pela genial e sábia mão da chef Lídia Ribeiro, de que destaco pela novidade um pão de ló de que ainda vamos ouvir falar. Voa-se alto à mesa no Rei dos Leitões, daqui vê-se o mundo.

A refeição ideal:
Presunto 5J (22,50 euros)
Amêijoas à Bulhão Pato (28 euros)
Enguias fritas (24 euros)
Caranguejo do Alasca com gengibre (310 euros/kg)
Capão assado com arroz de morcela (170 euros inteiro)
Leitão assado do Rei (25,50 euros/dose)

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Mapa da ficha ténica
Morada
Avenida da Restauração, 17, Mealhada
Telefone
231 202 093
Horário
Das 12h às 21h. Encerra terça e quarta.
Custo
(€€) Preço médio: 35 euros


GPS
Latitude : 40.3821624
Longitude : -8.449830399999996




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