Crítica de Fernando Melo: no restaurante Almourol o cardápio vai-se ajustando à época

Restaurante Almourol. (Orlando Almeida / Global Imagens)
Neste reduto ribeirinho extraordinário que é o Almourol, a história continua a construir-se e reinventar-se, com um cardápio que se vai ajustando às épocas do ano, criando a irresistível oportunidade de tocar no grande prodígio que está por detrás do receituário tradicional ribatejano.

Abriu portas em pleno verão de 1991 o restaurante Almourol, junto ao rio Tejo e perto do castelo invicto que lhe empresta o nome. José Ferreira e Manuela Subtil mantêm viva a alma de um lugar ribeirinho onde nos convocam a todos, amantes das maravilhas que a história, a tradição e o talento fixaram. Os tenebrosos tempos de confinamento estão ainda sem data previsível para o seu termo, mas há que registar que estes heróis nunca recuaram perante a adversidade, e insistiram em manter-se em funções. Bravo a quem é bravo, mesmo junto ao palco de epopeias templárias e depois da ordem de Cristo que foi o castelo de Almourol e que jamais foi tomado, a atitude merece sacramental louvor.

Para fazer face às exigências de distanciamento social, José Ferreira optou por fechar o piso térreo, onde normalmente funciona o restaurante, e adaptou o salão de banquetes no piso inferior, quase rasante ao Tejo, Tancos em frente, o castelo logo ali. Pontifica o receituário regional, organizado em curiosos e imaginativos menus, escalonados por preços, todos orlados por entradas regionais ou sopa, sobremesa, bebida e café.

As glórias culinárias da chef Manuela estão todas bem vivas e disponíveis. Destaco por paixão o tachinho de grão com hortelã (20 euros), genial e sápida interpretação do vezeiro caldo de grão, com carne e enchidos de porco que nos põe logo ali a falar com Gualdim Pais e o próprio D. Dinis. Material de primeira escolha, mão culinária divina.

A fritada mista de peixes (20 euros) junta em franca harmonia os peixes da época, mar e rio, com uma belíssima e gostosa açorda de pão de trigo com alho e ovas, brilhante execução, a pedir assessoria de garrafa de vinho dentre a copiosa garrafeira da casa, que José Ferreira alimenta com paixão. Subimos ligeiramente o escalão e entramos num patamar superior, os pratos virados guloseimas, origem popular e enraizada nos tempos da míngua.

A fabulosa lapardana de bacalhau (25 euros), espécie de tiborna ancestral servida com couve e batata que prima pela simplicidade, põe-nos prostrados em veneração, e a antológica espetada de enguia (30 euros) com esmagada de grão é o céu. Com os novos eixos viários disponíveis sentamo-nos a esta mesa em menos de nada, e há muito para desbravar em cada investida. Todos, por isso, ao Almourol! l

A refeição ideal
Menu de 30 euros:

Misto de entradas regionais
Sopa de peixe
Espetada de enguias com esmagada de grão
Pudim do abade de Priscos

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Mapa da ficha ténica
Morada
Avenida e Cais de Tancos, 2, Tancos
Telefone
249720100
Horário
Das 12h às 15h e das 19h às 21h. Fecha à terça e quarta, e segunda, quinta e domingo ao jantar.
Custo
() Preço médio: 24 euros


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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