Crítica de Fernando Melo: restaurante Lamelas, em Porto Covo

A chef Ana Moura regressou às origens para comandar o restaurante Lamelas, em Porto Covo.(Fotografia: DR)
O Lamelas, em Porto Covo, instalou a chef Ana Moura nas suas raízes e institui-se farol das gastronomias mais a sul, obviamente atlânticas. Está no seu posto mais desafiante de sempre, apostada que está em buscar caminhos não usados. Nunca por aqui se comeu tão bem.

Preparei-me psicologicamente para o embate, num encontro prévio marcado com a chef Ana Moura num restaurante em Lisboa, para que me explicasse ao que iria quando a visitasse. O Lamelas já estava aberto numa rua de Porto Covo, numa rua praticamente toda pensada e construída pelo avô materno. Estudou na Escola de Hotelaria de Lisboa e oficiou junto de Joachim Koerper no Eleven. Zarpou para San Sebastian, onde deixou Juan Mari Arzak de braços abertos para voltar quando quisesse. Criou amigos para a vida nos dois fogões de Ávila que dominou com mestria, o último dos quais já como chef executiva. Veio para Portugal para brilhar no Cave 23, montando depois o Bacalhoaria Moderna, o mais genial restaurante de bacalhau que o país conheceu. E finalmente pensou nela, na sua realização, permitindo-se fazer tudo à sua maneira. Cumpriu o venerável desígnio do regresso às raizes, opção que outros – ainda poucos – fizeram com excelentes resultados.

 

No nosso encontro em Lisboa, porém, Ana Moura fez-me saber que não iria repetir um único prato das suas várias itinerâncias ibéricas. Cozinha naturalmente mediterrânea, Alentejo, Algarve e o imenso oceano que fulmina intensamente as escarpas de Porto Covo sim, mas nada de repetições. Aceitei o repto e fui de véspera, a convite dos seus pais Fernanda Lamelas e António Moura, na casa que converteram em Alojamento Local e que é excelente para explorar a zona. Na correnteza do casario da rua Cândido da Silva, encontrei incrustada a fachada do Lamelas, espaço caseiro com uma balaustrada marítima por detrás, para onde passa de imediato a acção. E que acção. A carta é um hino à maturidade culinária da eternamente jovem chef Ana Moura e reparte-se pelas cozinhas de hortelão (da horta), pescador (da costa) e camponesa (do campo), com propostas de grande lucidez e rigor culinário. São, além disso, os três principais vectores da nossa cozinha, no meu próprio credo. Da primeira secção extrai-se uma brilhante síntese composta de tomate e pimentos assados com pão alentejano torrado (10 euros), da segunda três maravilhas, dentre as várias disponíveis: abrótea com amêijoas (18 euros) prodigiosa criação, a beliscar Bulhão Pato, açorda alentejana com linguado frito e ovo escalfado (18 euros), a montagem caldosa que vai directa ao coração e nos arranca juras de amor, e a inefável caldeirada de peixe-galo (25 euros), que nos tira deste mundo. Da secção camponesa tornei-me cliente de tudo, especialmente das migas de chouriço com entrecosto (19 euros). E voltarei para descobrir tudo outra vez e ter o privilégio da chef Ana Moura ali à frente a tratar tão bem de nós.

 

A refeição ideal
Pão alentejano, manteiga de porco, toucinho frito (3 euros)
Abrótea com amêijoas em molho verde (18 euros)
Arroz cremoso de marisco e peixe do dia (26 euros)
Ensopado de grão e borrego (19 euros)
Mousse de chocolate com crumble de amandoim (5,50 euros)

Classificação Evasões
Sítio: 3,5
Serviço: 4
Comida: 5

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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