Crítica de Fernando Melo: Galhardia almeirinense

Galo do campo de cabidela (Fotografia: DR)
Meticulosa e insondável elaboração de acasos fizeram do chef Alexandre Albergaria Diniz o cozinheiro de mão cheia que é hoje. Arredado da festa brava e das selas da juventude, encontrou vocação na cozinha no Cisco – Cozinha Tradicional, no centro de Almeirim. E encontrou também uma vida que hoje não trocava por nenhuma outra. Boas notícias para nós, mortais.

Toureou a cavalo e pertenceu ao grupo de forcados amadores de Santarém, o que o fez integrar forças e resistências pera resistir e ultrapassar imprevistos diversos. Os cavalos foram sempre a sua grande paixão, e finda a jornada inaugural da sua vida adulta, eis que em 2015, consciente da mudança prestes a acontecer, decidiu mudar de vida. De passagem por um restaurante que estava à venda na muito sua Almeirim, aconteceu o impulso de ligar para saber as condições de tomada do espaço e decidiu fundar o lugar que de imediato passou a ser o Cisco – Cozinha Tradicional.

O nome deve-se ao seu grande amigo Francisco Seabra que sucumbiu em acidente, criando por ele a memória fundamental e resiliente da luta rica e fundadora que é servir e dar prazer a quem franqueia a sua porta. Não tinha experiência de restauração, mas tinha um códice de tratamento nobre transmitido pela avó materna e pela própria mãe. O livro por que se rege ainda hoje Alexandre Albergaria Diniz é um repositório das receitas da sua avó Mariazinha, está em casa de sua mãe, também em Almeirim, e de vez em quando consulta-o como inspiração. Hoje com 42 anos, a sua mulher Mariana é, além de grande companheira de vida e mãe dos seus quatro filhos, a responsável pelas operações do restaurante.

Conheço e acompanho o trabalho cândido do chef Alexandre há alguns anos e sempre me fascinou a clareza e recorte dos seus pratos e a forma como toda a sua cozinha assenta num registo tradicional, mas a um tempo renuncia ao rústico e busca uma modernidade cristalina que encontra forte audiência no quotidiano de Almeirim. Se vamos em toada petisqueira não saímos defraudados. São geniais os pezinhos de leitão de coentrada (16 euros), brilhante a alheira de Mirandela em vinagrete (13,50 euros) e maravilhosas as gambas ao alhinho (18,50 euros). Acerto no tempero e cozeduras, fica-se fã logo na primeira visita.

(Fotografia: DR)

A sopa da pedra (17 euros) pode configurar refeição inteira e bem copiosa, fazendo jus à fama da cidade natal do nosso herói. Este grande cozinheiro apronta pratos de tacho notáveis, caso da massada de garoupa com gambas (33 euros) que dá bem para duas pessoas. O rabo de boi com puré de batata trufado (29 euros) é glorioso e é motivo de particular orgulho do chef. Mas nada fazia prever que o galo do campo de cabidela (29 euros) teria aqui tamanho aprumo; há que provar para crer. Tudo na cozinha do Cisco é festa de sentidos e não falta por onde escolher. A sageza da Avó Mariazinha pontifica por todo o cardápio, e no capítulo doceiro lá está o pudim de amêndoa da Avó Mariazinha (6 euros), a que o Cisco faz as devidas loas, sedução garantida. Ideal é ir em grupo e provar pratos variados para perceber devidamente o que Alexandre transporta na alma e partilha connosco.

Classificação
O espaço: 4
O serviço: 3,5
A comida: 5

A refeição ideal
Presunto Pata Negra (17 euros)
Pezinhos de leitão de coentrada (16 euros)
Filetes de peixe-galo com arroz de grelos (25 euros)
Galo do campo de cabidela (29 euros)
Pudim de amêndoa da Avó Mariazinha (6 euros)

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Mapa da ficha ténica
Morada
Rua de Coruche, 121, Almeirim
Telefone
243 595 063
Horário
Das 12h às 15h e das 19h às 22h. Fecha à segunda e ao jantar de domingo.
Custo
() Preço médio: 28 euros


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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