Crítica de Fernando Melo ao restaurante Palma de Miguel Laffan

Quando aperta a canícula, o Alentejo mais interior entra-nos até à medula e irradiamos calor ardente. O Palma de Miguel Laffan é o oásis sem a miragem, aqui o serve-se comida inspirada no melhor receituário da região e tudo nela é equilíbrio e frescura. Passantes ou ficantes, todos saem felizes.

Há cozinheiros assim, que através do seu trabalho e sabores nos prendem por dentro e nos surpreendem a cada passo. O chef Miguel Laffan tem demonstrado pela sua já longa carreira que é exímio na sua arte, sempre sem véus nem disfarces e sempre também com a ousadia de que só ele é capaz. Aqui no bonito Torre de Palma Wine Hotel, vem suceder a Filipe Ramalho, que fez um trabalho meritório e desbravou o primeiro trilho da casa na senda de fine-dining que é um postulado desde o início.

Instalado logo à entrada do complexo hoteleiro, facilita os trânsitos dentro e fora, sem ameaçar os hóspedes nem arredar quem vem só para fazer uma refeição. O trunfo inicial dos rissóis de berbigão (3 euros) ou de carabineiro (4 euros) é uma conquista clara do palato, além de uma espécie de regresso à infância. O escabeche de pimentos assados (1,50 euros) esse é mais para adultos, a designação de escabeche talvez abusiva.

A cozinha tradicional alentejana vive de pisos, caldos e pão e aqui estão em destaque a belíssima açorda alentejana de bacalhau (14 euros), piso de coentros e o pão torrado a fazer-lhe companhia. Sabor conseguido, goma competente e resiliente. No capítulo entradeiro propriamente dito, ficam-me os olhos presos na proposta de cozinha de sala de ovos biológicos Torre de Palma feitos pelo maître d’ (14 euros), a gosto de cada um e com boa diversidade de ingredientes à escolha. Impossível resistir a um croquete de borrego merino assado com maionese de especiarias quentes e hortelã (4 euros), impecáveis e intensos no sabor, e claro que não se come apenas um.

Gomoso, copioso e lascante, o bacalhau assado com migas de piso de coentros e berbigão (24 euros) é de antologia, pela experiência completa que significa, e por conter tudo o que procuramos num prato de bacalhau. É assim o chef Laffan, oferece sempre tudo. Ninguém me poderia preparar devidamente para a presa de porco de raça alentejana (26 euros) que consta do departamento carnívoro. É um dos cortes mais difíceis de domar e o chef Laffan, com a cozedura a baixa temperatura, dá-lhe tratamento imperial e responde na perfeição.

A casa tem vinha e adega próprias e os vinhos são excepcionais, mas não é por isso que a carta deixa de ter bons títulos de outros produtores, o que é de louvar.

A refeição ideal
Rissol de berbigão (3 euros)
Croquete de borrego merino assado (4 euros)
Bacalhau assado com migas de piso de coentros e berbigão (24 euros)
Presa de porco de raça alentejana a baixa temperatura (26 euros)
Crème brulée de ervas doces da Herdade Torre de Palma (8 euros)




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