Crítica de Fernando Melo: A Escola by The Artist, Porto

No hotel The Artist, o chef Hugo Dias lidera a Escola, a cozinha do restaurante de aplicação mais original e ousado do universo das nossas escolas nacionais de hotelaria. A formação acontece em modo contínuo e a operação é a de um restaurante normal. Não é sonho, é bem real.

Não sou adepto do estilo de falar mais do espaço que da história e da comida, mas aqui sou forçado a abrir uma exceção pela beleza, proporções e bondade que foram postos neste lugar dentro da escola e que se chama Escola. De dia é um espaço de fantasia, evocativa das divisões que outrora nas casas serviam para a hora do chá e scones, a luz a espevitar os muitos quadros pendurados e que são trabalhos de alunos de pintura doutros tempos. De noite, instala-se uma certa boémia e cada recanto tem uma mesa, necessariamente intimista.

O chef Hugo Dias tem 35 anos e está no projecto desde o início, treinou com o chef Hélio Loureiro nos seus tempos do Porto Palácio e abraçou o projeto pedagógico de forma quase orgânica. Ainda passou pelos EUA, mas depressa sentiu o chamamento de criar marca no seu país. A cozinha está bem equipada e os alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto laboram na cozinha e na sala como parte curricular; aprendizagem em tempo real. Acontece que a segurança no serviço e a fixação de standards pela cozinha impressionam qualquer um e de repente estamos num ambiente de produção em tudo semelhante ao de um restaurante de porta aberta para a rua.

É ao jantar que os menus do chef Dias atingem o pleno, ao almoço a oferta é mais reduzida, apesar da alternância interessante que se cria entre o espaço do bar e o do restaurante, mediados por um pátio convidativo. São dois os menus disponíveis, de cinco (30 euros) ou sete momentos (40 euros). Na última visita optei pelo de cinco momentos, e correu bem. Uma entrada fresca, o jardim botânico, foi logo reveladora do primor do trabalho de preparação de legumes, frutas e vinagretes que depois se percebe estender-se a toda a sequência. Vieram de seguida uns gnocchi com cremoso de cajú e couve kale, texturas bem integradas, sabores bem definidos em cada ingrediente, a fazer ganhar confiança no labor culinário.

Fotografia: Pedro Granadeiro/GI

O prato-estrela seria o seguinte, cavala em molho de ceviche, cunquate e maçã, excecional a todos os títulos, especialmente pelo cuidado posto no processamento do peixe, mas também pelo matiz proporcionado pelo molho de ceviche, francamente inspirador. Veio uma granita de gin e ruibarbo à laia de trou normand, ou limpa-palato, e depois o chef Hugo Dias achou por bem expor mais da sua arte, o desfile prosseguiu para um bem saboroso e requintado salmonete, funcho e sésamo com um apontamento de caldeirada, alguma exuberância neste último a roubar o trono à proteína principal, e depois um magret de pato com beterraba, couve-flor e batata-doce para terminar a empreitada jantadeira – o pato merecia ter sido menos sacrificado pelo calor, a forma de o cortar largo também devia ser revista, mas de novo o trabalho dos legumes impecável. Terminou em beleza com uma mousse de chocolate e malagueta com morangos. Um vinho para cada prato, tudo em modo delícia. Espírito aligeirado, está-se bem nesta escola, claro que é de voltar.

Classificação

O espaço: 4,5
O serviço: 3,5
A comida: 4

A refeição ideal

Degustação de 7 momentos, com vinhos (40 euros)

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Mapa da ficha ténica
Morada
Rua da Firmeza, 49, Porto (Baixa)
Telefone
220132700


GPS
Latitude : 41.150827
Longitude : -8.601434299999937

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