Foi a recordar a drogaria do bairro onde viveu a infância, nos anos 1970, que Paulo Aguiar se inspirou para criar o Drogaria, um restaurante que honrasse o charme da “Lisboa antiga” com uma proposta gastronómica moderna e fresca. Da loja do Sr. Albino, que acabou por se tornar um armazém de antiguidades, Paulo manteve alguns detalhes, como um móvel de sala, e usou-os para recriar a atmosfera da Lisboa do século XX, com paredes forradas a espelho, chão geométrico e candeeiros redondos.
O Drogaria encaixa-se numa escadinha curva entre os palacetes da Lapa e o bairrismo da Pampulha, e tenta ir buscar o melhor de cada um. Por isso, Paulo idealizou-o como um restaurante de bairro, para se ficar a comer com calma e amparado numa competente carta de vinhos. Com a entrada do novo chef, David Casaca, o conceito focou-se no que é português, ou não fosse o profissional de 27 anos filho de pai alentejano e mãe alfacinha.
David conta que o tio e a avó não queriam que fosse cozinheiro, por saberem o quão dura é a profissão. Mas depois de cozinhar para quatro mil pessoas num evento, o chef teve a certeza do que queria para a vida. Formou-se na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa e trabalhou em renomadas casas, como a Bica do Sapato, o Tágide e o Assinatura, e passou pelo Ritz Four Seasons, entre outros.
O novo capítulo que está a escrever no Drogaria leva-o ao Mercado 31 de Janeiro para comprar produtos locais e de época e dá-lhe margem para brilhar a solo, com pratos tão portugueses que qualquer deslize é notado. Mas é com grande mestria que faz o bacalhau à Brás, uma posta cozida a baixa temperatura acompanhada de dois tipos de batata frita e gema; e as bochechas de porco a desfazerem-se no xerém de berbigão.
Na carta, as influências da cozinha atual refletem-se sobretudo nas entradas, onde há uns gulosos croquetes de bacalhau com natas e de rabo de boi, guiozas de cozido à portuguesa e carapau curado na casa com coentros, malagueta, pickles e ervas. O sabor e estética prolongam-se pelas sobremesas de mousse de chocolate e pera champanhe com açafrão. Em setembro, a carta mudará quase na totalidade. Neste bairro, a Lisboa antiga renova-se diariamente.
Longitude : -8.2245