Comer na montanha: 4 restaurantes escondidos na serra a Norte

O Abocanhado é um dos restaurantes aderentes. (Fotografia: Rui Oliveira/GI)
Estes restaurantes escondidos em plena serra proporcionam vistas de cortar a respiração e aconchegam corpo e alma.

1 | Melgaço

O Brandeiro | Comida de conforto nas alturas

Partindo-se do centro de Melgaço, são cerca de 20 minutos a serpentear pela serra, com paisagens-postal a cada curva, até se alcançar o restaurante O Brandeiro, na freguesia de Gave, em Melgaço.

A 1100 metros de altitude, num planalto da Serra da Peneda, o cenário que serve de pano de fundo à comida honesta que ali se serve inclui o Vale Glaciar do Rio Vez e as montanhas pintadas com vários tons de verde, onde pastam livremente as vacas de pelagem acastanhada da raça autóctone Cachena, cuja carne é uma das especialidades da casa.

O Brandeiro abriu em 2015, por Agostinho Alves, numa casa de pedra, à qual se juntou uma espécie de alpendre envidraçado, que permite almoçar com vista para a serra. Além de estar no olhar, a serra também está no prato, graças aos generosos nacos de tenra e saborosa carne cachena, que motivam grande parte das visitas. A carne é servida com legumes ou grelos e batatas a murro, vindas de um batateiro na branda, usado até 1955, e agora recuperado. Também resgatado foi o cabrito recheado com miúdos, pão e temperos. O prato era servido na freguesia em festas e datas especiais, mas acabou por cair em desuso. Hoje, pode-se provar n’O Brandeiro, mas sempre por marcação.

A carta, que teve a consultoria do chef António Alexandre, é dominada pela carne mas quem a quiser evitar pode pedir bacalhau à Brandeiro ou polvo à lagareiro. Seja o que for, o ideal é regar tudo com vinho Alvarinho ou Vinhão.

Para terminar o repasto, sugere-se o melgacense bucho doce. Embora na receita tradicional o pão, os ovos, o açúcar e a canela cozessem dentro de um bucho de porco lavado, hoje usa-se uma saca de linho, que depois de colocada dentro de uma outra impermeável, vai a cozer em banho-maria. Um refúgio de sabores serranos.

ALVARINHO
Do restaurante avista-se a vinha de Alvarinho que foi plantada a uns metro dali, resultante de uma parceria entre o restaurante e a Quinta de Soalheiro. Daqui a dois ou três espera-se que o néctar das uvas da plantação de maior altitude em Portugal, encha os copos do restaurante.

 

2 | Monção

Val de Poldros | Cozinha de um homem só

Fica a cerca de 1100 metros de altitude. Sempre a subir por estrada que outrora as gentes da pastorícia palmilhavam a pé conduzindo o gado montanha acima até à branda de Santo António de Vale de Poldros, em Riba de Mouro, Monção. Hoje, vivem-se ali momentos perfeitos para quem procura um tempo ausente da “civilização”, longe de telemóveis, Internet e afins, a respirar tranquilidade e a comer bem. E com o bónus de conhecer a casa de um homem, que escolheu viver (quase) só, refugiado lá no alto, após 17 anos de vida corrida e boémia em Andorra (Espanha).

O proprietário do “Restaurante-Bar Regional Val de Poldros”, Fernando Gonçalves, apresenta uma ementa com comida farta e saborosa, muito à base de carnes Barrosã e Cachena, e ainda deleita os clientes mais disponíveis para a conversa com as suas histórias. Gastronomia tradicional é o que serve em sua casa que também é restaurante: Costoletão de novilho, costeleta de vitela, carne no forno, cabrito assado, cordeiro à moda de Monção (prato popularmente conhecido por Foda), cozido à portuguesa ou bacalhau. Faz por encomenda para grupos. Também serve petiscos e vinho na malga. Do seu refúgio ao lugar habitado mais próximo (Cavenca) distam nove quilómetros e para chegar aos centros urbanos de Monção e de Melgaço demora 35 minutos de carro.

CARDENHAS
Após a refeição, vale a pena visitar a pé a aldeia típica ao redor, com as suas cardenhas, casas típicas de pedra onde antigamente se alojavam os pastores. Hoje transformadas em segunda habitação ou alojamento turístico.

 

3 | Arcos de Valdevez

Cantinho do Abade | Comer como um abade na casa do próprio

Se há restaurante que dá significado à expressão ‘comer como um abade’ é o que dois casais de ex-emigrantes, filhos da terra, abriram em Sistelo, Arcos de Valdevez. E não é apenas porque o espaço, que está instalado na antiga adega da residência paroquial da freguesia, cedida, há um ano, pelo pároco como solução para que o cada vez maior número de turistas sobem a serra para visitar a aldeia pudessem aconchegar o estômago. É que, quem ali se senta à mesa, leva apetite aguçado pelo ar puro da elevada altitude e levanta-se obrigatoriamente de barriga cheia. E com vontade de regressar à aldeia dos socalcos, Património Cultural e Maravilha de Portugal.

Os proprietários Rosa e o marido Henrique Branco (cozinheiro), o seu irmão José e a cunhada Ana Rodrigues, sugerem posta de carne de Cachena com arroz de feijão tarrestre, Bife à Abade, Escalope à Viscondesa e Bacalhau de Lavradas. Escolha sempre tendo em conta que a seguir vêm sobremesas, que ou as come no Cantinho do Abade ou não as encontra em mais lado nenhum: tarte de Sistelo (base de amêndoa, maça e canela), Charutos do Abade (charutos de ovos) e pastel de feijão tarrestre. Depois de encher a barriga, regale a vista. Da esplanada, criada no espaço da antiga horta do padre, vislumbra-se uma paisagem, que não apetece (mesmo) largar.

CHARUTOS DO ABADE
Um doce típico de Arcos de Valdevez, que o restaurante Cantinho do Abade, recria com a sua receita própria. E que não fica nada (pelo contrário) atrás do tradicional.

 

4 | Terras de Bouro

O Abocanhado | Integrado na paisagem

O Abocanhado, que fica num edifício de arquitetura premiada, totalmente integrado na paisagem, combina vistas deslumbrantes com comida e força de trabalho locais.

Quando Maria Helena Ramos e Henrique Marques decidiram abrir O Abocanhado em Brufe, aldeia do concelho de Terras de Bouro, há quase 17 anos, quiseram fazer dele um restaurante intemporal. E é essa a sensação que fica, atentando à ementa, ao espaço e à localização.

O edifício, vencedor de dois prémios internacionais de arquitetura, foi construído, de raiz, como mais um socalco na vertente da Serra Amarela. Surge perfeitamente integrado na paisagem, a uma altitude que ronda os 800 metros, e proporciona uma vista desafogada sobre o vale do rio Homem. O cenário, próximo do Parque Nacional da Peneda-Gerês, é marcadamente agrícola. Os trabalhadores são habitantes locais a quem foi dada formação específica, incluindo a cozinheira, Helena Antunes.

Por esta altura, os clientes procuram sobretudo os grelhados de carne local e os pratos de bacalhau, não descurando a variedade de entradas. Também há cabrito assado ao fim de semana (convém reservar) e, nas sobremesas, tem especial saída o requeijão com doce de abóbora.

O Abocanhado, que conjuga mobiliário desenhado por Siza Vieira com artesanato e uma ou outra peça rústica, é agradável em qualquer altura do ano, munido que está de lareira e de esplanada. Claro que, para apreciar devidamente a paisagem, recomenda-se uma visita diurna.

O NOME
O Abocanhado chama-se assim em referência a expressões locais. Em Brufe, se o tempo abocanhou, é porque parou de chover.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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