Braga: Angola e Portugal à mesa no restaurante Kianda

Moelas de Cabinda do restaurante Kianda (Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI)
As memórias angolanas de Eliane inspiram a carta e as paredes do Kianda. Neste restaurante no coração da cidade, os sabores africanos fundem-se com os portugueses em pratos criativos e tropicais.

A sereia Kianda, deusa das águas, passava um dia ao largo da praia do Bispo, em Luanda, quando viu um pescador pobre e decidiu oferecer-lhe um grande tesouro. Mais tarde, ao ver o homem egoísta e avarento em que o pescador se tornou, a sereia fez desaparecer toda a sua riqueza – e diz-se até que o levou para o fundo do mar, como castigo. A lenda da Kianda é contada em forma de poema numa das paredes do restaurante a que essa criatura mítica empresta o nome, e onde a gastronomia angolana e a portuguesa se fundem, sem pretensiosismos.

 

“O Kianda é o espelho da minha personalidade. Sou angolana e portuguesa, e aqui queria ter o melhor dos dois mundos”, diz Eliane. A proprietária é natural da ilha de Luanda – filha de mãe angolana e pai português – e desde os 16 anos que desejava abrir um restaurante. Os estudos trouxeram-na para Portugal, e foi no coração da cidade de Braga que, aos 24 anos, a oportunidade de realizar o sonho surgiu.

Se o nome não fizer de imediato a viagem para Angola, a decoração certamente o fará. Nas paredes à entrada, imperam as cores quentes e terrosas. Delas sobressaem ainda belas pinturas de embondeiros carregados de fruto – a múcua -, obras do artista angolano André Malenga.

 

Na sala Selva, no segundo piso do restaurante, salta à vista o papel de parede a imitar uma vegetação densa, povoada de aves coloridas. Até os os candeeiros têm macacos pendurados e tudo isto foi pensado ao pormenor por Eliane. Até a carta tem o cunho pessoal da jovem empresária, que partilha as suas ideias com a equipa da cozinha.

Os pratos foram, assim, criados a partir de várias inspirações: as receitas da mãe de Eliane, os sabores com que cresceu em Luanda, as suas viagens e, como não podia deixar de ser, a cozinha portuguesa. Tudo isso com boa dose de criatividade à mistura. Exemplo dessa fusão de culturas gastronómicas são as moelas de Cabinda, um dos petiscos que abrem a ementa, a par da banana frita com pasta de amendoim ou o choco frito com maionese verde – “é um dos pratos mais populares dos restaurantes de Luanda”, e um dos seus preferidos, admite Eliane.

Kianda (Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI)

 

Nas carnes, destaca-se o lombo de boi exótico, grelhado com polpa de maracujá ou a tábua de carne com molho de manga picante, que está prestes a entrar na carta. E do mar, fruto das lembranças dos dias de férias a comer marisco nas praias de Angola, surge a mariscada grelhada com manga e coco.

Da cozinha tradicional angolana há apenas um exemplo, a moamba de galinha. Juntam-se a ela outros pratos confecionados por encomenda, para quem quiser matar saudades ou conhecer melhor as tradições daquele país, aonde Eliane volta com frequência para visitar a família. No regresso, vem de malas cheias de novas ideias e ingredientes essenciais para a cozinha do Kianda: a farinha de fubá, usada na moamba, ou a múcua, o tal fruto do embondeiro, talvez a mais icónica das árvores africanas.

 

Nas bebidas, a lista de vinhos é dominada pelas referências portuguesas, mas aproveite-se a oportunidade para provar o gin Kianda, produzido em Angola, e que dificilmente se encontrará noutro lugar. Quando reabrir o bar, Eliane promete juntar à lista cocktails de sabores tropicais, mais uma forma de viajar até terras africanas.

Angolaninha
Uma das mais recentes adições à carta do Kianda é a Angolaninha, uma versão da francesinha, que leva uma fina fatia de ananás e um molho à base de temperos angolanos.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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