Se há restaurante de inverno, por isso mesmo, é este. O frio do Dão é o frio mais frio de Portugal, facto indiscutível, mas no 3 Pipos, adega em Tondela convertida em restaurante, tudo ajuda a aquecer. E facilmente nos entregamos à tarefa vagarosa de uma refeição. Maria de Jesus Miranda – Ju – é a alma da casa, aprendeu tudo com a sua mãe e em 1992 abriu com o marido António o 3 Pipos e desde o início que é um clássico da cozinha da Beira Alta, como se sempre tivesse ali existido. O bacalhau tem representação singela mas marcante.
Pataniscas crocantes e fininhas, a obrigar ao sempre útil exercício da diferença entre fofos e pataniscas, massas preparadas de forma diferente e nestas últimas é determinante a crocância e que estejam praticamente livres de gordura da fritura. Parece simples, mas é um dos mais difíceis exercícios em todo o universo bacalhoeiro. É sempre delicado afirmar que são as melhores do país, mas a verdade é que provamos em várias casas e melhores que estas é muito raro.
Virtude da chef Ju, como em tantas outras especialidades da carta. O aprumo culinário é tal neste caso que a evocação da arte japonesa da fritura é inevitável. Impecável também a cebola utilizada, de semente portuguesa e que como tal desaparece para que apenas o frito em si brilhe. Infelizmente, é etapa tão vezeira nos restaurantes que acaba por se abdicar da exigência quanto ao perfil. Irrepreensível aqui também é a posta de bacalhau à lagareiro, desarmante perante demais oferta, a lasca sempre detalhada, bastando uma muito ligeira pressão para a desmontagem da peça se dar no nosso prato.
A assessoria das batatas a murro é notável, fazendo este prato brilhar até nesse capítulo. Saímos sempre com a impressão da lareira acesa e se no dia seguinte ao acordar a impressão se mantiver, não se assuste; é mesmo assim.
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