Arde e não se vê, o fogo que Camões usou para descrever o amor nos seus “Sonetos”. O de Alexandre Silva, que acaba de abrir o seu antecipado Fogo nas Avenidas Novas, não só se vê como comanda todos os sentidos. O cheiro logo à entrada, que nos leva para ambientes de lareira, às toneladas de lenha que vestem prateleiras, passando pelo som da lenha a queimar que se ouve pelas casas de banho e pelos elegantes candeeiros, feitos com mármore de Estremoz, a fazer lembrar chamas incandescentes.
No novo projeto onde impera a cozinha com fogo, Alexandre Silva distancia-se mais do fine dining do Loco, detentor de uma estrela Michelin, mas mantém a aposta nos produtos portugueses, de pequenos produtores, muitos destes biológicos. Do Loco vem também Manuel Liebaut, que será chef residente deste Fogo, com Ronald Sim, do ex-Burnt Ends, considerado o melhor restaurante de fogo do mundo, a assumir o cargo de sous chef.
No novo restaurante da Avenida Elias Garcia, com capacidade para cerca de 70 comensais, Alexandre Silva pretende estar «mais próximo das origens e do conforto que a cozinha me traz», conta o chef, que se inspirou na cozinha de fogo da avó, em Abrigada, perto de Alenquer. Dentro destas quatro paredes, a lenha é a protagonista obrigatória, confecionando-se no forno, na grelha, em tacho ou no espeto. Para já, trabalha-se com quatro tipos: azinho, sobro, pinho e eucalipto.
As propostas descomplicadas que chegam à mesa vão renovar-se a um ritmo frenético, ao sabor da frescura e qualidade do produto. Nela cabem saladas como a de alho francês na brasa com citrinos da época, ou a de espadarte dos Açores fumado com algas. O lingueirão na grelha, as ostras na brasa, o xerém de berbigão e o chicharro dos Açores de escabeche reforçam as entradas, abrindo caminho para os pratos principais.
No peixe, aposta-se na grelha, tanto com a lagosta como com o rodovalho, o pregado ou a raia, esta última com molho de alho e batata a murro. Já na carne, oscila-se entre o forno a lenha – casos da paleta e do lombo de borrego -, e a grelha, com a presa de porco alentejano com puré de maçã queimada e molho de morcela. O forno volta a ganhar destaque nas sobremesas. Para a despedida, vale a pena provar a tarte de pera com gelado de leitelho fumado e o pão-de-ló de alfarroba com sorvete de noz, azeite e flor de sal.
Propostas que podem e devem ser acompanhadas pela vasta carta de vinhos, com 180 referências vínicas portuguesas, muitas destas naturais, biodinâmicas e biológicas; ou por um dos novos cocktails de autor, também inspirados no fogo. Caso do Sexy Paloma das Cinzas, servido num copo adornado com estas últimas.
Para saborear num ambiente de aconchego, e não só pela lenha que se vê, ouve e cheira vinda da zona de cozinha. As próprias paredes pretas do Fogo dão-lhe um ar intimista, que se une à elegância da rocha vulcânica dos Açores que reveste uma das fachadas.
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