«Declarar um vintage compromete-nos para sempre»

Entrevista a David Guimaraens: Três casas da Fladgate Partnership declararam há dias três vinhos do porto vintage das suas quintas. O diretor técnico e enólogo do grupo, um dos responsáveis por esta decisão, explica como se decide consagrar um ano de vindima.

Como se decide declarar um ano vintage?
A decisão de engarrafar um vintage é das mais importantes da avaliação da vindima desse ano, porque depois de engarrafado esse vinho, do qual se tem uma grande expectativa, já não se pode voltar atrás. É uma decisão que nos compromete para sempre. E que se baseia na qualidade do ano e no potencial de envelhecimento em garrafa. Se for um ano com muita qualidade, mas que pela qualidade de taninos e de cor, será um bom vinho para envelhecer mas não com o potencial daqueles anos chamados de vintage clássico, que são anos extraordinários, declaramos um vintage de quinta. E engarrafamos um vinho que tem as qualidades daquela quinta. É uma decisão subjetiva, baseada na nossa prova e em muitos anos de experiência.

Estes são vinhos para comprar agora e beber mais tarde?
São e não são. Antigamente, a tradição era de os beber com bastantes anos de idade, mas isso começou a mudar a partir da década de 1990 quando os Estados Unidos se apaixonaram pelo vinho do Porto e, como não era um mercado tradicional, não tinha esse estigma. Agora o consumidor aprecia os vinhos também quando são jovens porque, hoje em dia, todos os vinhos são em geral mais frutados. No caso de um vintage, não há substituto do tempo e da complexidade que o vinho ganha com a idade, mas ainda há poucos dias [numa prova nas caves Taylor´s] provamos um Vargellas Vinha Velha Vintage de 2011 que estava absolutamente delicioso.

Como se decide a melhor altura para beber um vintage?
Se vamos bebê-lo jovem , vamos bebê-lo mais ou menos até aos 10 anos de idade, porque é nessa fase que ele tem toda essa frescura de fruta deliciosa. Se não se beber até aos 10 anos, então devemos deixá-lo mais tempo em garrafa para se tornar complexo e sedoso. E é aí que encontramos a diferença entre um vintage clássico e um vintage de quinta, como estes que declaramos agora. Um vintage clássico vai manter a fescura da fruta mais tempo e começa a ganhar complexidade de garrafa mais tarde, a partir dos 20 anos de idade. O vintage de quinta começa mais cedo, a partir dos 14 ou 15 anos, a ter essa complexidade. Não tem a mesma longevidade de um clássico, mas evolui mais depressa.

Como sugere que se bebam estes vinhos?
Recomendamos sempre que se bebam no final da refeição. Se for um vintage mais jovem, acompanhado de uma sobremesa de frutos vermelhos, chocolate e queijo. Um vintage mais velho já será mais para acompanhar queijo e mesmo para o fim da refeição. Mas outra questão a destacar é o pretexto para o beber, porque um vintage é o melhor vinho do porto para se pôr na garrafeira e depois escolher um momento para o abrir, sem ter pressa de tomar essa decisão. Essa é uma das virtudes do vintage, pode-se ir colecionando garrafas e depois escolher o momento apropriado para o beber, que pode ser passado meses ou passados 10 ou 20 anos. É um grande vinho de coleção para apreciadores.

Que características destaca nestes vintages?
Serão sempre muito frutados, mas estes de 2015 em especial têm uns taninos bastante firmes e muito distintos, o que lhes dá capacidade de evoluir na garrafa. Cada um deles é típico das quintas de onde vêm. No caso da Quinta de Vargellas, é mais floral e muito delicado. O Quinta de Roêda, da Croft, é um vintage com muitas especiarias, um bocado tropical e muito sedoso. No caso do Guimaraens, que é um lote das três quintas, tem aquela caraterística frutada muito típica da Fonseca, muita cereja e muito volume de boca.

Os três vintages das quintas da Fladgate
O lançamento dos três vintages de 2015 foi anunciado no domingo, 23 de abril. São eles os Taylor’s Quinta de Vargellas Vintage 2015, Fonseca Guimaraens Vintage 2015 e Croft Quinta da Roêda Vintage 2015. Os dois primeiros têm pvp recomendado de 60 euros e o terceiro de 45 euros. Para saber mais sobre estas casas e sobre aquele que é um dos maiores grupos de vinho do Porto (e cada vez também de turismo), visite o site oficial.




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