A aguardente que Fernando Pessoa gostava de saborear ao final da tarde

A aguardente que Fernando Pessoa gostava de saborear ao final da tarde
(Fotografias: Jorge Simão)
Desde o século XIX que se produz vinho e aguardente nas Quintas do Sanguinhal, das Cerejeiras e de São Francisco, no Bombarral. Fernando Pessoa era um dos apreciadores desta aguardente, a qual saboreava aos finais de tarde.

Há mais de cem anos que se produz vinho e aguardente pelas mãos da mesma família, os Pereira da Fonseca, mas desde a segunda metade do século XIX que se trabalha a vinha na Quinta do Sanguinhal e na Quinta das Cerejeiras, ambas no Bombarral, e desde a primeira metade do século XX na Quinta de São Francisco, junto da Serra de Montejunto, perto do Cadaval.

Mas nem apenas de números e datas se pode valer a histórica Companhia Agrícola do Sanguinhal, que engloba estas três quintas produtoras de aguardente, criada por Abel Pereira da Fonseca. Registos escritos e fotográficos mostram que Fernando Pessoa tinha por hábito deliciar-se, ao final da tarde e depois da saída do seu escritório, com a aguardente produzida por esta casa, que era vendida, na altura, numa das várias garrafeiras Val do Rio, que Abel fundou e implementou de norte a sul.

«Quando o meu bisavô comprou estas quintas, deu-se sempre continuidade à produção de vinho e aguardente. Nunca quebrámos essa tradição», explica Diogo Reis, bisneto do fundador e um dos donos da companhia. Esse legado é, de resto, uma das suas mais-valias. «Há muita história nas barricas de carvalho em que envelhecem as nossas aguardentes, as mesmas onde já estiveram licorosos com mais de cem anos. Isso potencia a diferenciação do nosso produto e do que colocamos no mercado», revela o responsável, acrescentando que o processo confere notas de amêndoa, mais adocicadas e fumadas à aguardente que se faz nestas três quintas.

A Quinta do Sanguinhal, no Bombarral. (Fotografias: Jorge Simão)

Visitas à quinta, almoços e provas são algumas das atividades de enoturismo desta companhia.

A Companhia Agrícola do Sanguinhal produz aguardente bagaceira a partir da destilação das suas castas tintas, e vínica a partir das brancas. Por ano, o conjunto das quintas comercializa 13 mil garrafas de aguardente, que equivale a um volume de produção anual de cerca de 10 mil litros. A exportação também «tem crescido» nos últimos anos, estando esta aguardente presente em mercados como EUA, Canadá, Alemanha e Estónia, entre outros.

A loja online faz com que se possa comprar à distância, mas nada como ir até uma das quintas, para as visitas guiadas e provas que se fazem todos os dias, às quais pode acrescer o almoço, para quem queira. «O ambiente aqui é muito familiar. É a minha irmã quem faz os passeios, a minha mãe faz a comida. A minha avó Mimi, com mais de 100 anos, é sempre muito aplaudida quando passam em frente à nossa casa e ela diz olá», ri-se o proprietário.

Faz ainda parte desta experiência de enoturismo visitas aos lagares da companhia, jardins, um museu com espólio de materiais agrícolas de antigamente, uma capela que remonta ao século XVI, com azulejos históricos, e, claro está, às antigas destilarias que já não funcionam, mas que mantêm os alambiques de cobre onde se destila a aguardente. Por ano, recebem 10 mil visitantes, «do mundo inteiro», remata Diogo.

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