Roteiro por Caminha, a saltar de miradouro em miradouro

A encosta de Caminha é toda ela uma varanda sobre a foz do rio Minho e o oceano Atlântico. Quem sobe à Serra d’Arga ou a qualquer zona alta do concelho, avista de muitos pontos paisagens de tirar o fôlego. Mas há miradouros que nos levam literalmente ao céu para contemplar o infinito.

Um homem repousa ao sol deitado sobre as rochas no alto do miradouro SINO DE MOUROS, em Moledo. Os seus dois cães rodeiam-no, correm pelo escadório abaixo e acima. O dono permanece quieto, com os braços a rodear o rosto para quebrar a claridade.

Ali, em plena encosta de Caminha, apenas chega o som do oceano Atlântico, muito subtil e longínquo, mas com notas de imensidão. Avista-se, lá em baixo, um azul sem fim que abraça o céu e a terra, pintada pelo verde das florestas e pelo branco dos extensos areais e casario.

É uma visão do infinito, que começa na foz do rio Minho, percorre as praias de Moledo e de Vila Praia de Âncora, a Ínsua, o Pinhal do Camarido e o Monte de Santa Tecla, em Espanha. E que corta a respiração.

O iradouro do Sino dos Mouros, em Moledo. (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

O concelho é uma autêntica varanda sobre o Atlântico. São incontáveis os pontos, desde a Serra d’Arga a toda encosta que atravessa o território, de onde se avista uma infinitude azul, nos dias claros. E há miradouros, mais ou menos escondidos, com paisagens panorâmicas apaixonantes, propícias ao reenergizar do corpo e do espírito, e com condições, a maioria, para fazer longos piqueniques em mesas de pedra. Visitamos seis. Deslumbrantes e totalmente gratuitos.

Partimos da vila de Caminha. A meio de uma manhã, soalheira e azul. Sem pressa. Providenciamos um piquenique para o almoço. No restaurante COVA DA ONÇA de Toni e Paula Gonçalves, servem comida tradicional em takeaway, saborosa e económica. Frango frito, panados de frango, bacalhau frito, bitoque, alheira, tudo guarnecido com batata frita, arroz e salada, são opções de todos os dias. À quarta-feira há sempre feijoada ou dobrada e à sexta-feira bacalhau frito. Por encomenda também fazem cabrito à Serra d’Arga.

Subimos a pé da zona do Terreiro até à muralha, por uma rua de calçada, já com vista para a foz do Minho e para Espanha. Em poucos minutos estamos no MIRADOURO DA BOAVISTA. Poiso para sentar e ficar a olhar o rio e a margem espanhola, debruada a areia branca e um extenso pinhal, no sopé do monte de Santa Tecla. Diz-se em Caminha que aquele é um miradouro que inspira poetas e artistas, mas também serve de inspiração para continuar a subir a encosta.

É que quanto mais alto se sobe, mais a paisagem deslumbra. E a visão sobre a desembocadura do Minho, o mar e as praias se torna ampla.

O Miradouro da Fraga. (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI).,

A mesma rua do Miradouro da Boavista, leva de carro ou a pé, ao MIRADOURO DA FRAGA. O percurso está sinalizado e não tem nada que enganar. O espaço está repartido em dois e é uma espécie de socalco. Sobe-se e depois para usufruir da paisagem, descem-se escadas de pedra, até uma ‘varanda’ gigante com árvores e bancos de jardim. Vislumbra-se uma nova e (ainda mais ) bela perspetiva sobre a foz do Minho, o Pinhal do Camarido e toda a sua envolvente. Apetece ficar (e já se almoçava), mas ainda há mais caminho para subir, pela mesma estrada, até ao MONTE DE SANTO ANTÃO.

O próximo miradouro, mais acima, inclui uma pequena capela, dedicada a Santo Antão, onde se benzem animais no dia do padroeiro, rodeada de verde e com vista a um novo ângulo, mais a sul, e a muito maior altitude para a paisagem de mar e terra de Caminha. Um parque de merendas, convida o piquenique, para retemperar o ânimo e seguir caminho para o próximo miradouro; Sinos de Mouro, em Moledo.

Naquela freguesia de tradição balnear, Marco Machado iniciou em plena pandemia um novo projeto, que ajuda a enriquecer o percurso. A pizzaria e gelataria IL PAPERO (pato em italiano), enche as bocas de saliva, desde logo com a visão das suas pizzas (também vendidas à fatia por 2,5 euros) e gelados, ambos de fabrico artesanal. Das primeiras destaca a de chouriço, presunto ou búfala, e dos segundo, os de sabores a tangerina, chocolate, menta e maracujá (este é dos deuses). É especialidade da casa, o arroz de pato aos sábados. E ainda falando de doces: há todo o ano rabanadas com cobertura de doce de ovos. Tudo é servido em take-away. Até o gelado ( 0.5 litro por oito euros e 1.0 litro por 15 euros).

Seguindo para sul, em Vila Praia de Âncora, a subida é obrigatória ao MIRADOURO DO MONTE DO CALVÁRIO. Um espaço natural, numa zona de forte cariz religioso, onde há uma capela e escadório, e também é possível admirar o azul do oceano e dos céus, o verde dos campos e da florestas, e o branco da praia e do casario, mas da própria localidade.

A pensar num jantar improvisado no último miradouro, pois os dias longos já o permitem, descemos à marginal de Vila Praia de Âncora. Na primeira linha da praia, Vitor Fonseca, espera os visitantes com iguarias do mar e da terra. No seu restaurante FORTALEZA, a funcionar em takeaway e esplanada coberta, “o peixe é rei”. Saem nesta altura “pratos mais fáceis de levar”, como a parrilhada de peixe, filetes, lulas, polvo (filetes) e bacalhau (de três maneiras), mas fora do confinamento reinam os arrozes de marisco, de robalo, de tamboril, de polvo e de marisco, e a cataplana. Para piquenique são também sugestões simples de transportar, picanha, posta, panados e misto de carnes.

Reta final, rumo ao MIRADOURO DA SENHORA DAS NEVES, em Dem, na Serra d’Arga. Também este um ex-líbris com capela e parque de merendas, mas já longe do mar e a partir do qual se avista Caminha, a foz do Minho e o Monte de Santa Tecla por outro ângulo (de Norte). A paisagem abrange as freguesias de Vilar de Mouros, Argela, Venade, Vilarelho e o Monte de Santo Antão. E ganha beleza e ainda mais serenidade ao pôr do sol.

Miradouro da Senhora das Neves. (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI).

Depois de anoitecer e continuando em comunhão com belas paisagens verdejantes, o descanso está reservado para o PRAZER DA NATUREZA HOTEL RESORT & SPA, em Vilar de Mouros. Nuno Santos, diretor-geral da unidade, sugere jantar no restaurante “Pausa”, que acaba de estrear uma nova carta, com propostas que vão do risoto de chocos e do bacalhau em camada de puré de grão e batata fondant, ao magret de pato, puré de couve flor, frutos secos e figo, e presa de porco preto castanha e maçã. Há também disponível um “menu inspirações do Chefe R.B.”.

Sugestões anotadas, é tempo de escolher onde dormir. Numa espécie de condomínio fechado, há 36 alojamentos individuais (12 quartos duplos , e seis T1 e 18 T2 com kitchenette). Não sem antes, conhecer a zona de spa (piscina interior aquecida, jacuzzi, sauna, ginásio, banho turco e salas de relaxamento e massagens), passar pelo bar com esplanada e, por fim, passear pelo espaço exterior do hotel. Um labirinto agradável com vegetação, flores e animais (silhuetas em aço corten,) que, sobretudo à noite, parecem reais.

Caminhar entre o mar e a montanha

Uma boa forma de apreciar a paisagem de Caminha, pode ser a caminhar por um dos trilhos sinalizados no concelho. O mais propício é o que percorre 19,3 quilómetros, com grau de dificuldade moderado, entre o mar e a montanha. Começa junto ao Parque de Campismo do Camarido, passa pelas muralhas na vila e sobe até ao Monte de Santo Antão. Continua até à ermida românica de S. Pedro de Varais, onde se avista o vale do rio Âncora e a costa atlântica. E se alcança o marco geodésico de Cobertorinho e, mais adiante, um cruzeiro que culmina no penedo do Sino dos Mouros. De regresso a Moledo, atravessa a Mata Nacional do Camarido até ao ao ponto partida.

● Localização do percurso: Vilarelho
● Ponto de partida: Parque de Estacionamento do Camarido
● Duração do percurso: 5h30 m
● Cota máxima atingida: 410 metros (Alto da Espiga)

 

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