Póvoa de Varzim: 12 quilómetros de Caminho a ver o mar

A extensa linha costeira do concelho é feita de muitos encantos, que atraem peregrinos e passeantes para junto da praia. Procurando descanso e sustento, basta recolher à icónica Rua da Junqueira.

O caminho antigo segue o traçado de uma estrada que ia desde Vila do Conde para norte e que hoje é conhecida pela Rua dos Ferreiros. “Mas o que nós constatamos é que os peregrinos têm uma atração magnética pela beira-mar. E então, logo que podem, afastam-se do caminho tradicional”, explica José Flores, arqueólogo municipal. “Aqueles que vêm de zonas onde o mar é uma miragem, como a Europa central, são normalmente os que procuram mais o Caminho Português da Costa”, acrescenta. Desde a IGREJA DA LAPA, no extremo sul do concelho – está a celebrar 250 anos da sua construção e que tem a particularidade de ter um farol que era usado para guiar os pescadores para o porto de pesca, daí ser conhecida por Nossa Senhora da Lapa, Amparo dos Homens do Mar -, até às dunas de Estela, já na fronteira com Esposende, os 12 quilómetros de costa podem ser feitos por passeios urbanos junto às praias ou passadiços sobre o areal.

Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

A FORTALEZA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, datada do século XVIII, é outro ponto de interesse ao longo do caminho, que segue a toda a extensão da concorrida Avenida dos Banhos, a artéria principal da cidade, lugar de convívio e encontro durante todo o ano, e que convida a caminhadas e passeios de bicicleta na ciclovia. Bares, cafés e restaurantes sobre o areal atraem os passantes para junto do mar, que aqui é rico em iodo, o que torna as praias do concelho muito apetecíveis na época balnear.

“Depois Aver-o-Mar com as suas medas de sargaço e os campos de masseira na Aguçadoura. Toda esta costa está cheia de lugares apetecíveis, de pequenas ermidas, como a de Santo André. Tudo isso está ao alcance do peregrino ou do simples passeante que por aqui queira caminhar”, acrescenta José.

Passadiços de Aver-o-Mar (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Nos passadiços em madeira que ligam as praias de Aver-o-Mar até ao limite norte do concelho, a maré baixa impregna o ar de um cheiro intenso a maresia, e o areal onde no verão se estendem mantos de sargaço a secar ao sol, cobre-se agora de flores silvestres. Três americanas caminham a passo assertivo, mas param ao encontrar outros peregrinos, para tirar uma fotografia. Depois de uma troca de palavras e sorrisos atiram “Bon Camiño” e seguem viagem.

“Eu suponho que um dos fatores de atração do caminho de santiago pela costa seja essa possibilidade de ir vendo os longos horizontes marítimos, as longas praias, os ventos, as plantas e os animais que nesta altura do ano nos enchem os areais e as dunas. Tudo isso são fatores que atraem ao peregrino fazer o caminho pela beira-mar”, remata o arqueólogo.

Passadiços de Aver-o-Mar (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Comer e dormir no coração da cidade
A Rua da Junqueira é a grande artéria do comércio tradicional da cidade, onde convivem lojas velhinhas com novos negócios. As primeiras referências datam do final do século XVII, mas a cada nova escavação encontram-se vestígios que denunciam um passado bem mais longínquo, do tempo da Villa Euracini, um antigo povoado romano que ali existiu.

Foi uma das primeiras ruas do país a tornar-se pedonal, em 1955, e há sempre gente a passar para cima e para baixo, sentada nas esplanadas, a entrar e sair das lojas, ou simplesmente a passear. É nesta rua com história, onde as vieiras e as setas amarelas confirmam o caminho oficial, que se encontra poiso e mesa, a apenas meia dúzia de passos um do outro.

 

A JUNQUEIRA 76 – GUEST HOUSE e o FRANGANITO GARRETT são dois projetos do casal Carla e Artur. O restaurante abriu em 2002, de frente para o Cine-Teatro Garrett – daí o nome -, e além de churrasqueira é também cozinha tradicional. O frango, a costelinha, a picanha, o bacalhau e os filetes de pescada são os pratos mais populares, disponíveis também para take-away. E, para um final docinho, há ainda pudim caseiro, tarte de bolacha, mousse de chocolate e a tradicional rabanada poveira.

 

Em 2016 compraram a casa ao lado e decidiram transformá-la numa guest house, com cinco quartos acolhedores, um deles especialmente dedicado ao peregrino. Tem ainda uma cozinha partilhada, onde se destaca uma citação d’A Cidade e as Serras de Eça de Queirós, numa homenagem ao romancista poveiro, uma pequena área de leitura que dá acesso a um agradável terraço, perfeito para passar os finais de tarde.

Junqueira 76 – Guest House (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Claudette | Canadá
Claudette está a celebrar o seu 50º ano de vida com uma primeira peregrinação a Santiago. “Vi um filme há muito tempo atrás, chamado O Caminho, e depois li um livro também, quando fiz uma cirurgia ao pé e fiquei sem poder andar, e fiquei com vontade de fazer”, conta a professora primária. Espera, acima de tudo, conseguir superar o desafio físico. Recomendaram-lhe fazer o caminho do Porto até Santiago e depois seguir por Finisterra e Muxía. E é o que vai tentar fazer. Mas diz que escolheu Portugal para também “comer pastel de nata e beber bom café”, brinca. “Moro em Ottawa, a capital, e por isso não estou perto do mar e achei que seria muito agradável caminhar junto ao oceano. Vai no segundo dia, mas tem levado o seu tempo a conhecer os sítios por onde passa. “Gosto de olhar para as pessoas e visitar as suas cidades, estou a gostar muito, é muito libertador. Já não ficava num hostel desde que tinha 18 anos”, ri-se. “Sou católica, mas não estou a fazer isto como uma peregrinação cristã, trata-se de conhecer pessoas e colocar as prioridades em ordem”, explica. No dia anterior conheceu outros peregrinos que vão pernoitar na Póvoa. “Vamos jantar e beber um copo de vinho esta noite”. Em português já aprendeu a dizer “obrigada” e “tudo bem”, e segue agora pela marginal a mastigar “Póvoa de Varzim”.

Peregrina Claudette (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.



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