Um passeio por Angeiras, Labruge e Vila Chã, quase sempre por passadiços junto ao oceano, seguindo o Caminho Português da Costa para Santiago de Compostela. Este percurso entre Matosinhos e Vila do Conde é a pérola que José Seguro Franchini escolhe partilhar com aqueles que, como ele, encontram na Evasões inspiração para as horas de lazer.
José, mediador de seguros de 53 anos, mora no Porto, mas passa muitos fins de semana em Labruge, “paraíso” onde também tem casa. Diz-se fã do comércio tradicional, gosta de ler sobre lojas, restaurantes, ruas. E há um pouco de tudo isso no roteiro que se segue, enquadrado por paisagens de céu e mar.
ROTEIRO:
1. Mercado de Angeiras
“Toda a gente conhece o Mercado de Angeiras, pelo peixe fresco e pelas pessoas a atender, a chamar filha, amor, querido”, começa José Seguro Franchini. Costuma fazer compras lá, sabe os nomes das vendedoras de peixe, a conversa flui igualmente nas bancas de fruta, na loja de roupa e no Mercado dos Enchidos, de Elsa e Ivo Brás, um cantinho aconchegante, decorado com madeiras, onde se vende desde vinhos e queijos até frutos secos, azeitonas, pão, biscoitos, café.
“Passo aqui muitos fins de semana e adoro conviver com as pessoas”, conta José. “Sempre que venho ao mercado, venho ao Ivo. Levo salpicão, presunto, queijo amanteigado. E às vezes venho só conversar com o Ivo sobre bicicletas – não percebo [do assunto], mas gosto de ouvir.” Despede-se desta localidade piscatória no concelho de Matosinhos dizendo que vai para o paraíso: Labruge.
2. Labruge
Seguindo os passadiços de madeira junto à praia de Angeiras Norte, e atravessando o rio Onda, chega-se a Labruge, já no concelho de Vila do Conde. Estamos no Caminho Português da Costa para Santiago de Compostela, o trajeto é dividido com peregrinos, que encontram na freguesia um albergue nascido de uma antiga escola primária. Para José, paradisíaca é sobretudo a parte mais isolada, junto ao mar, de grande tranquilidade e beleza.
3. Temperos do Norte
Lidiane e Rui Pinto são os responsáveis por este espaço de take-away, em Labruge, com comida tradicional portuguesa feita maioritariamente por ela, que é natural do Brasil. Há cabrito, tripas, cozido, bacalhau, sapateira recheada (ao fim de semana), vitela (ao domingo) e, nas sobremesas, bolo de bolacha, pudim de ovos ou cheesecake. O casal também aceita encomendas para festas, almoços e jantares de grupo. “É de comer e chupar o dedinho”, garante José.
4. Capela de S. Paio
Esta capela, no Castro de S. Paio, em Labruge, tem uma particularidade: um altar feito com uma rocha que veio do mar conforme está, puxada por uma junta de bois. Quem o conta é Agostinho Rego, que zela pelo espaço, habitualmente fechado, mas aberto a pedido.
O templo tem gravado o ano 1885 e leva o nome do jovem mártir S. Paio, cuja festividade acontece no primeiro domingo de julho – dia em que se celebra lá missa. “A capela está quase na praia. Quando há festa, as pessoas estão deitadas na areia e a festa aqui a acontecer”, descreve Agostinho, com um sorriso.
5. Centro de Interpretação do Castro de S. Paio
É um espaço expositivo que permite saber mais sobre o Castro de S. Paio, o único povoado marítimo proto-histórico conhecido em solo português, e a sua envolvente. Tem entrada livre e partilha o horário com o restaurante homónimo, ao lado.
6. Restaurante Castro de S. Paio
Vale a pena petiscar e comer arroz de polvo nesta casa com esplanada voltada para o mar, diz José, que também recomenda uma paragem para ver o pôr do sol e, não raro, se deixa levar pelas sugestões do dia. Pode haver canja de robalo, feijoada de chocos, bolos de laranja ou de maçã com canela.
“Aqui não se ouve carros, só o mar, que eu nem música tenho”, diz a responsável, Aurora Rodrigues, enquanto pousa dois bolos caseiros, ainda a fumegar. “Tenho clientes que saem do aeroporto e vêm para cá, e há perto quem não conheça [o sítio].”
7. Rumoceano-Taskuinha
Chegando a Vila Chã, zona piscatória marcada por casas coloridas, encontra-se uma placa a assinalar a queda de um avião, em 1943, durante a II Guerra Mundial, cuja tripulação os populares ajudaram a salvar. Depois de partilhar tal memória, José dirige-se ao “pirata mais fotografado da região”: a figura que assinala a entrada do Rumoceano-Taskuinha, onde se pica pão com chouriço, lapas, amêijoas, pataniscas, sandes de presunto com ovo ou francesinha.
José escolheu a casa pela comida e pela amizade que mantém com Anselmo Cardoso e Moisés dos Reis Sol, responsáveis pelo negócio. “Costumo vir cá comer pão com chouriço, francesinha, amêijoas, navalheiras, o que tiver”, comenta, diante do menu.
O espaço, decorado com um sem fim de objetos, muitos deles oferecidos, é bastante frequentado por peregrinos, que ali podem carimbar as credenciais. Anselmo diz que este é o seu “santuário”, porque o abriu “para tentar vir à tona outra vez”, após um grave problema de saúde, e conseguiu. “Isto deu-me vida”, assevera. Há que celebrá-la.
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