Gastronomia, cultura e um novo hotel: passeio por Sines, a cidade berço de Vasco da Gama

A cidade berço de Vasco da Gama é hoje o mais importante porto marítimo do país. E enquanto os navios acostam e zarpam, o turismo floresce no mar e em terra. Sines desdobra-se em pequenos tesouros arquitetónicos, paisagísticos e culinários, do alto do castelo às praias do parque natural. É a magia do Alentejo com mar, próximo de Lisboa.

Vasco da Gama fita o horizonte junto à torre oeste do CASTELO DE SINES, na posição em que foi retratado para figurar no Palácio dos Vice-Reis da Índia, em Goa, no séc. XVI. A estátua em bronze, da autoria de António Luís Branco de Paiva, foi ali instalada em 1970 para comemorar os 500 anos do nascimento do navegador que descobriu o caminho marítimo para a Índia. Os historiadores afirmam que nasceu em Sines, mas mostram-se cautelosos ao definir o ano, calculando-o através da matrícula na Ordem de Santiago.

Estêvão da Gama, um dos mais proeminentes alcaides de Sines, viveu no paço medieval, dentro do castelo do século XV, e por essa razão crê-se que o navegador terá nascido aí. O almirante dos mares da Índia deu mundos ao Mundo e inscreveu o seu nome para sempre na História de Portugal, mas comprou uma contenda aquando do regresso. D. Manuel havia-lhe prometido o senhorio da vila, mas a Ordem de Santiago, que entretanto ocupara o território, opôs-se. Gama, inconformado, gerou conflitos e acabou expulso, com a família.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Conservados ao longo dos séculos, o paço medieval e a torre de menagem deram lugar ao MUSEU DE SINES. Neste portal do tempo, a história da cidade é contada através de artefactos arqueológicos que remontam ao paleolítico; enquanto o primeiro piso revisita o séc. XX sob o prisma etnográfico e artístico, colocando instrumentos e objetos do quotidiano das fábricas de conservas e cortiça, e da pesca, em diálogo com pinturas de artistas renomados. Já o espaço mais recente do museu guarda um tesouro único. É a Casa-Forte.

“O Tesouro do Gaio, de origem fenícia do século VII a.C., é um testemunho das trocas comerciais e das influências do Mediterrâneo Oriental na Península Ibérica, com caraterísticas únicas”, assinala Ricardo Pereira, responsável pelo Património do município. E de facto, os colares, brincos, gargantilhas e frascos de perfume que terão sido usados por fenícios de grande estatuto estão bem protegidos atrás de um vidro; tal como uma coleção de moedas que reconstituem as trocas comerciais que vários povos gizaram em Sines.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

 

Brunch com vista

Saindo do castelo, percebe-se como o centro histórico conservou a sua estrutura medieval, com ruas paralelas ao mar e algumas praças, por onde rompe a brisa húmida do mar. Com o carro estacionado, a melhor maneira de descobrir a beleza deste Alentejo sobranceiro ao mar é calcorreando as ruas, de onde se avista a Avenida Vasco da Gama e a praia em meia-lua, outrora tomada pelos pescadores. Hoje, as embarcações recolhem-se no moderno porto de pesca, possível de admirar na esplanada do recente SAUSALITO.

O nome remete para uma cidade californiana que os donos deste espaço visitaram e ajuda a explicar, em parte, o menu tão urbano e abrangente. Seja ao pequeno-almoço ou lanche, brunch, almoço ou jantar, a chef sineense Telma Rosa tem propostas para todos os apetites, como tacos de peixe-galo, picanha com batata frita ou hambúrgueres em pão de brioche. “Fazemos tudo aqui, incluindo os molhos”, assegura a chef, enquanto o gerente Nicholas Ribeiro leva uma cerveja artesanal a uma família de turistas acabada de chegar.

Uns partem, outros estão de passagem, e há quem regresse. Foi o caso de Frederico Salvador e Rúben Pereira, de 36 e 31 anos. Filhos da terra e com as vidas estabilizadas como diretor de produção no Teatro do Mar e eletricista numa empresa petroquímica, respetivamente, regressaram há seis anos para dinamizar a vida no centro histórico. Na MERCEARIA 27, mobilada com estética vintage, o casal vende produtos nacionais, serve petiscos, vinhos e sangrias e também organiza eventos, como concertos intimistas.

O balcão com rodas permite transformar a sala num auditório, seja para acolher jantares com fado ou aulas de ukulele e cante alentejano. “É a extensão da nossa casa, onde recebemos amigos”, diz Francisco. A mercearia, por seu turno, permite comprar produtos do menu, como azeites, compotas, conservas, biscoitos, frutos secos, mel, bolachas e vinhos. Para picar há, por exemplo, tábuas de queijos e enchidos, sanduíche de cozido, tostas e conservas. Aos domingos, servem-se sopas à base de pão, tipicamente alentejanas.

 

O mar no prato

O nome Sines terá derivado de “sinus”, “seio” ou “enseada” em latim. Foi nela que os povos se refugiaram dos ventos de noroeste, fixando as suas gentes e trocas comerciais. Hoje, o concelho apresenta aos forasteiros duas facetas diferentes. A norte, a industrial, pujante desde a construção do porto de águas profundas em 1973 e que é o primeiro do país em volume de carga e um dos 15 maiores da UE; e a sul, a turística, profundamente ligada ao mar, que influenciou as tradições locais e a culinária, graças à riqueza de peixes da costa.

O SINES SEA VIEW, aberto há menos de um ano numa zona da cidade em crescimento, presta tributo ao mar não só no nome, mas também na substância. Tem 120 quartos (dos quais oito são suítes), spa com piscina interior, salas de tratamento, sauna, hammam, jacúzi e ginásio e salas de reuniões com capacidade até 150 pessoas. Do grande terraço, em dias limpos, a vista consegue abarcar as silhuetas das serras da Arrábida e de Monchique. Já no piso térreo, o restaurante liderado pelo chef David Proença é de paragem obrigatória.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Ao cabo de um percurso que o levou a trabalhar no Ritz e no Alentejo Marmóris Hotel & Spa, entre outros, o profissional de 32 anos propôs-se apresentar no VOLTA DO MAR a cozinha alentejana com influência marítima. “Muitos dos pratos levam algas, como alface do mar, salicórnia e codium, que utilizo também para enriquecer caldos e molhos”, diz. Nas
entradas, a filhós de sapateira com maionese de alho, alface do mar e pickle de palma de figo é um bom exemplo da linha do chef. “Pratos simples, com sabor e boa apresentação”.

Da carta que entrará em meados de outubro, David Proença destaca o polvo com xerém e a feijoadinha de javali, para lembrar que Sines também tem campo. A ele vai buscar, amiúde, a palma de figo-da-Índia, um cacto que “cresce em todo o lado” e do qual retira “gelatina e umami [considerado o quinto sabor]”. Diferente é a oferta do CAIS DA ESTAÇÃO, prestes a
somar 15 anos no armazém de mercadorias da antiga estação ferroviária de Sines, noutra ponta da cidade. É comida alentejana de tacho e de conforto a que se prova nesta casa.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Entusiasmada com esta adição marítima ao menu, Inês Oliveira – que há seis anos trocou a enfermagem pela gestão do negócio iniciado pelo pai – abre gentilmente a cataplana, ainda a fumegar, explicando que este tipo de pratos também era típico em Sines. “A nossa leva pregado fatiado em cama de batata e cebolada, amêijoas e camarão, porque há quem não aprecie a mistura de outros peixes”. Quem quiser provar a nova especialidade deve encomendá-la antecipadamente, até às 12h do próprio dia, pois leva tempo a preparar.

Por outro lado, há quem peça apenas petiscos de marisqueira, como pimentos recheados com atum e sapateira, pasta de sapateira, camarão frito “ao alhinho” e pão torrado com azeite. Nos pratos principais, a açorda de vieiras com gambas, o arroz de lingueirão com choco frito (vencedor de um prémio de gastronomia) e o filete de robalo com açorda de ovas estão entre os mais pedidos. Durante a semana existe ainda um menu de almoço composto por couvert, prato (com duas opções diárias), bebida e café a rondar os 15 euros/pessoa.

Em Sines, a cidade e o centro histórico equilibram-se de forma harmoniosa com a indústria, que tem dado passos significativos rumo à transição energética e digital. Nos arredores da cidade, a paisagem é marcada pelo horizonte fabril, sobretudo na praia de São Torpes. Mas é também aí que começa o Parque Natural do Sudoeste e Costa Vicentina, que cobre os 30 quilómetros de costa atlântica do concelho, com praias para todos os gostos. Conduzir até Porto Covo ao som do clássico de Rui Veloso é uma boa forma de terminar a visita a Sines.


Os Vasquinhos da Vela D’Ouro

A Vela D’Ouro é um dos estabelecimentos mais emblemáticos de Sines e está aberta há 53 anos no Largo do Castelo, popularmente nomeado como Largo dos Galegos. O nome remete para a origem dos pais de Manuel Figueiredo, naturais de Mangualde e que em 1948 se radicaram em Sines. Na década de 70, os quatro filhos do casal abriram a pastelaria Vela D’Ouro, agraciada com uma medalha de mérito municipal. “Sines não tinha nenhum bolo típico, então lembrei-me de criar um em homenagem a Vasco da Gama”, conta Manuel Figueiredo, de 82 anos. Os Vasquinhos lembram uma queijada, feita de amêndoa e gila, e são vendidos à unidade (1,30 euros) e em caixas de seis (7,80 euros).

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)


Comer no Lamelas, de Ana Moura

Da seleção de entradinhas – paté de fígados de abrótea, saladinhas de polvo e ovas, lulas fritas, gaspacho e almece com peixe curado – aos pratos principais como os canelones de sapateira com molho de ovas, salada de funcho e nozes caramelizadas, tudo sabe a mar no Lamelas. Batizado com o nome do avô materno da chef Ana Moura, este restaurante tem dado que falar em Porto Covo pela visão marítima que apresenta da cozinha alentejana, e pela qualidade e simpatia do atendimento. A carta de vinhos, essencialmente de baixa intervenção, é outro dos trunfos do Lamelas. Da cobiçada varanda vê-se o porto de pesca.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

 

Morada
Largo Poeta Bocage, Sines
Telefone
269860095
Horário
De terça a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 17h.

Website

GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
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Morada
Rua Sacadura Cabral, 27, Sines
Telefone
937 721 878
Custo
(€) Preço médio: 15 euros.
Horário
Todos os dias, das 10h às 23h.


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Morada
Rua Serpa Pinto, 27, Sines
Telefone
969 928 101
Custo
(€) Sandes a partir de 3,50 euros.
Horário
Segunda a quarta, das 18h às 23h. Quinta, das 18h às 01h. Sexta, das 18h às 02h. Sábado, das 12h às 24h. Domingo, das 12h às 19h.


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Morada
Rua Nau São Miguel, Sines
Telefone
269 038 980
Custo
(€€) Quarto duplo a partir de 130 euros/noite; suites a partir de 220 euros/noite (valores com pequeno-almoço).


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Morada
Rua Nau São Miguel, Sines
Telefone
269 038 980
Custo
(€€) Preço médio à carta sem bebidas: 30 euros.


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Morada
Avenida General Humberto Delgado, 16, Sines
Telefone
269 636 271
Custo
(€€) Preço médio à carta sem bebidas: 25 euros.
Horário
Todos os dias, das 12h30 às 16h e das 19h às 24h.


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Morada
Largo do Castelo, 2, Sines
Telefone
269 632 516
Custo
(€) Vasquinhos a 1,30/unidade.
Horário
Todos os dias, das 07h às 21h.


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Longitude : -8.2245
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Morada
Rua Cândido da Silva, 55A, Porto Covo (Alentejo)
Telefone
924060426
Horário
De quarta a domingo, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h30.


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