Esposende: Moinhos e uma barca de passagem no percurso de Santiago

O postal da Apúlia, o pinhal de Ofir e o estuário do Cávado fazem de cenário ao peregrino. Ali há-de encontrar um pedaço de história a deslizar no rio

Um estreito e longo areal, protegido da nortada por um cordão dunar coroado com moinhos de vento ligados por passadiços de madeira; barcos de pesca coloridos e uma marginal corrida a mesas com sabor a mar compõem o cenário da praia da Apúlia, a porta de entrada no concelho de Esposende. Daí a nada mergulhamos num pinhal, e depois na vila de Fão, onde nos espera a mesa familiar do TIO PEPE. Está de portas abertas há 50 anos, e desde 1981 na gerência da família Barbosa. Ludovina, aos 72 anos, ainda comanda a cozinha, de onde saem as afamadas costelinhas acompanhadas com arroz de feijão vermelho – também pode servir com batata frita -, em travessa generosa, e que o pragmatismo manda comer à mão.

 

Outros destaques da casa incluem o queijo da Serra e o presunto ibérico, o peixe grelhado na brasa, o arroz de corvina e o bacalhau frito com cebolada. “E temos sempre lampreia na época dela”, realça ainda José Carlos, agora à frente do negócio dos pais. Vale a pena chegar à sobremesa, seja pelo tradicional pastel de Fão – com recheio de chila – ou pela gulosa tarte de maçã com cobertura de caramelo. Sendo peregrino rumo a Santiago, pode-se ainda aqui adquirir o carimbo.

Costelinhas do Tio Pepe (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Ali ao lado, o estuário do Cávado, parte da zona protegida do Parque Natural do Litoral Norte, proporciona bonitas paisagens, com miradouros que deixam o rio e o mar, e postos de observação da avifauna que por ali encontra refúgio e lugar de descanso durante as longas migrações.

Depois de atravessar a ponte, o peregrino segue pela marginal de Esposende até ao farol, para depois embrenhar no cenário rural de Marinhas. Há ainda no concelho um outro itinerário dos Caminhos de Santiago, proveniente de São Pedro de Rates e com ligação a Barca do Lago, onde se faz a travessia do rio numa réplica da antiga Barca de Passagem, construída por Belmiro Penetra, ex atleta olímpico de canoagem e fundador da PRORIVER. Além de canoagem, paddle, arborismo, caminhadas, paintball e outras atividades, a estrela da companhia é a mítica barca, historicamente usada para transportar pessoas, nomeadamente peregrinos, e gado de um lado para o outro do Cávado.

Belmiro Penetra e Barca de Passagem da ProRiver (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Belmiro teve a ideia de construir a embarcação enquanto se preparava para uma viagem de kayak a Santiago. “Comecei a ler um bocadinho sobre a história de Esposende e do caminho da costa e falava-se sempre de uma barca que existia cá”, conta. Acabou por construir uma réplica em tamanho real, toda revestida a madeira, mas movida a motor. “Antes eram precisos dois homens com as varas para puxar a barca”, nota. Agora, mantém viva a história com passeios fluviais gratuitos – que devem ser agendados previamente – e a passagem dos peregrinos que desejam atravessar o rio como antigamente se fazia.

 

Refúgio no campo
É no ambiente campestre de Antas, no extremo norte do concelho, que se encontra um refúgio tranquilo, mesmo à face do caminho assinalado. A ANTAS GUEST HOUSE, ocupa uma antiga vacaria, transformada em quatro quartos espaçosos e funcionais, todos com casa de banho privada, a que se junta um outro quarto, sala de convívio e cozinha partilhada na casa principal, na família de Diogo Barrote desde 1860. “Fizemos isto muito para os peregrinos”, confessa Raquel, que fez o caminho com o marido em 2017, antes de abrirem o alojamento, para “perceber o que fazia falta aos peregrinos”.

Raquel Esteves – Antas Guest House (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

À disposição dos hóspedes está ainda um grande jardim, com uma piscina de água salgada de onde se vê o mar, e uma cama de rede onde apetece estender ao comprido. Entre as 7h30 e as 8h30, Raquel prepara e serve o pequeno-almoço a quem o solicitou no check-in: pão com manteiga e compota, fruta, ovo cozido, café e chá. E a pedido também prepara um menu de peregrino (sopa, prato, vinho ou cerveja, fruta e café por 12 euros). No verão, a casa pode ainda ser alugada por completo, para férias.

 

A passar em frente ao portão, Archie, Thomas e Dürk, vindos da Alemanha, vão no terceiro dia de caminhada, com partida do Porto. Procuram aliviar a cabeça do stress do dia-a-dia. Daí a nada deixarão Esposende para trás, ao atravessar a fronteira com Viana do Castelo, em Castelo do Neiva.

 

Belmiro: A Santiago, por mar
Natural de Fão, iniciou-se na canoagem, no rio Cávado, aos 12 anos, e aos 16 já competia no seu primeiro mundial. “Os meus momentos mais felizes foram em cima de kayak”, confessa o ex-atleta olímpico, que marcou presença nos jogos de Barcelona, em 1992. Na viragem do século deixou a alta competição. “Eu digo muitas vezes que conheci realmente a modalidade quando me virei para a parte de lazer, e comecei a descer rios apenas para desfrutar”, confessa. E anos depois criou a ProRiver, uma empresa de atividades turísticas, onde passa os seus dias, dentro e fora do rio, na companhia do pequeno e simpático Pitbull – nome próprio -, que dá as boas-vindas aos visitantes. Em 2006, aceitou um desafio do município e foi até Santiago de Compostela por via marítima, de kayak, périplo que veio a inspirar a construção da réplica da Barca de Passagem. “Hoje lembro-me mais dessa etapa do que de alguns mundiais que fiz”.

Belmiro Penetra (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

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