Capital da aristocracia boémia: Roteiro de uma portuense em Lisboa (Dia 3)

Palácio Chiado (Fotografia: Filipa Bernardo/GI)
Com uma personalidade inigualável, a capital portuguesa é grande, luminosa, diversa. Aqui há tradição e modernidade, muitos turistas e locais orgulhosos da tradição - do azulejo ao pastel de nata. Mas também há francesinhas. Último artigo de uma reportagem de três partes.

Está a fazer um ano que o PALÁCIO CHIADO reabriu portas com um renovado conceito de gastronomia e arte. Neste faustoso edifício do século XVIII – repleto de pinturas neo-barrocas – a ostentação e os excessos das festas da aristocracia promovidas por Joaquim Pedro Quintela, primeiro Conde de Farrobo, ainda estão na memória popular, recordadas na palavra farrobodó (ou forrobodó). Durante os anos 30 do século XIX, o palácio recebia cantores de ópera de toda a Europa e a família real era uma presença habitual.

Aqui, já não há bailes como antigamente, mas come-se com a distinção. O chef Manuel Bóia apresentou recentemente o seu novo menu, inspirado no dadaísmo. Não é a primeira vez que aqui se trabalha movimentos artísticos. Já houve menu dedicado ao surrealismo e a pop art. Neste momento dadaísta, diz o chef, o importante era ir “contra o perfeccionismo, com direito a destruição e criação”. Trabalhou-se combinações menos óbvias de sabores e uma apresentação arriscada.

Natural de Santulhão, Trás-os-Montes, Bóia defende uma cozinha de vanguarda sem esquecer as raízes tradicionais portuguesas: “puxei um bocadinho em cada prato, sempre a pensar se funciona ou não, por exemplo, uma salada tradicional de polvo com molho de beterraba, um bacalhau com puré trufado e um arroz de pato que aqui é mais do que isso, é um risotto de pato crocante com chouriço picante”.

MAAT – Museu de Arte Arquitetura e Tecnologia (Fotografia: Filipa Bernardo/GI)

 

Para apresentar vanguardas artísticas, mas atuais, nasceu, há três anos, o MAAT – MUSEU DE ARTE, ARQUITETURA E TECNOLOGIA. Já saímos na Baixa e é na zona de Belém, mesmo na margem do Tejo, que se ergue este edifício projetado pela arquiteta britânica Amanda Levete. Discreto e ao mesmo tempo bem presente, enquadra, acima de tudo, a paisagem envolvente. Vale a pena conhecer as propostas atuais do museu. Na galeria principal, Playmode é uma exposição de jogos digitais como obras de arte. Estes são muito mais do que jogos de entretenimento. Propõem reflexões sobre a atualidade com e sobre o próprio prazer ligado ao jogo. Uma das obras que tem tido mais atenção é Painstation, um jogo arcade criado pelo grupo Fur Art Entertainment Interfaces em que os jogadores têm de colocar uma das mãos sobre um botão, jogando com a outra. Quando o jogador não se sai bem, a mão é castigada com dor, seja através do calor, pequenos choques elétricos ou chicotadas.

Na sala Project Room está instalada “Ama Como a Estrada Começa”, obra da dupla João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira. Pensada especificamente para aqui, esta casa, onde se pode e deve entrar, é inspirada na vida e na obra de Mário Cesariny, poeta da Lisboa clandestina e marginal. À saída do MAAT, a luz intensa refletida pelo vasto Tejo pode fazer pestanejar alguns portuenses, habituados ao “timbre pardacento” do granito.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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