Vilar Formoso: histórias de sobrevivência (e uma vénia a Aristides de Sousa Mendes)

o polo museológico Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes fica junto à estação ferroviária de Vilar Formoso. Fotografia: Maria João Gala/Global Imagens
Vilar Formoso, no concelho de Almeida, era a principal porta de entrada no país para quem fugia do nazismo, durante a II Guerra Mundial. E é lá que se ergue a Fronteira da Paz, um memorial aos refugiados e a Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus que salvou milhares de pessoas concedendo-lhes vistos, contrariamente às ordens do governo.

Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes. O nome, longo, resume a missão deste polo museológico dedicado à passagem por Portugal dos refugiados, aquando da II Guerra Mundial, e ao cônsul Aristides de Sousa Mendes, que emitiu vistos para milhares que fugiam do nazismo, entre judeus e opositores do regime. Vilar Formoso era a porta de entrada no país, neutral no conflito, e há relatos da hospitalidade das suas gentes, que recebiam os refugiados com panelas de sopa, pão e alojamento, conta a historiadora Margarida de Magalhães Ramalho, responsável pelo comissariado e pela investigação.

A Fronteira da Paz, nascida de antigos armazéns junto à estação ferroviária, apresenta seis núcleos expositivos: “Gente como nós”, “O início do pesadelo”, “A viagem”, “Vilar Formoso – Fronteira da Paz”, “Por terras de Portugal” e “A partida”. O visitante avança por eles como um refugiado em busca da liberdade: o projeto de arquitetura e museografia (da arquiteta Luísa Pacheco Marques, com Milena Raposo e João Gomes) simboliza o que terão passado aqueles cujas vidas ficaram de pernas para o ar com a subida de Hitler ao poder. Este museu “altamente pedagógico” mostra que “as pessoas podem passar pelo horror, sobreviver e refazer a vida”, observa Margarida de Magalhães Ramalho. E conta “uma história que nunca acaba”.

Fotografia: Maria João Gala/Global Imagens

TRÊS MOMENTOS DA VIAGEM

1# “Início do pesadelo”

Este núcleo foca o período entre 1933 e 1940, quando a maioria dos refugiados chega a Portugal. As paredes vão afunilando, opressoras. “O corredor é desconfortável, é esse o objetivo”, comenta Margarida de Magalhães Ramalho. Nas paredes há fotografias e informações alusivas a 1933, quando os livros prescritos pelo regime hitleriano começaram a ser queimados. Ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência ou depressão, todos eram eliminados. A partir de 1940, os judeus foram obrigados a usar uma estrela de pano amarelo e impedidos de usar os transportes públicos. Há um filme que mostra pessoas a entrar em comboios de mercadorias sem saber que vão para o campo de extermínio de Auschwitz.

Fotografia: Maria João Gala/Global Imagens

2# Anónimos e estrelas das artes

O caminho torna-se mais quente, a atmosfera continua desconfortável, dá vontade de avançar. Entretanto, chega-se a Bordéus, onde já há uma fresta de luz, pois muitos têm a sorte de obter um visto de Aristides de Sousa Mendes. Há bastante gente anónima, mas também estrelas como o artista Salvador Dalí ou a atriz Madeleine LeBeau, que conseguiu chegar aos Estados Unidos e entrou no filme “Casablanca”.

3# Respirar melhor em Portugal

Na zona referente a Portugal, onde há mais luz e já se respira melhor, lembra-se os 300 judeus luxemburgueses que viajavam num comboio impedido de entrar no país, em novembro de 1940, e os seus nomes – os assinalados a vermelho acabaram em Auschwitz. Há testemunhos em vídeo, notícias na época e, no fim, uma parede com fotos contemporâneas de famílias que devem a sua continuidade a Aristides de Sousa Mendes, em permanente atualização.

Fotografia: Maria João Gala/Global Imagens

MUSEU VIRTUAL

Uma exposição virtual centrada no ato de desobediência consciente de Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus que salvou milhares de pessoas em fuga, ao emitir-lhes vistos. Eis a proposta deste museu online, com forte carga visual.

A historiadora e investigadora Margarida de Magalhães Ramalho.
Fotografia: Maria João Gala/Global Imagens

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Mapa da ficha ténica
Morada
Largo da Estação, Vilar Formoso
Telefone
271149459
Horário
Das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30 (sábado, domingo e feriados, abre às 10h). Encerra à segunda.
Custo
() Bilhete normal, 3 euros (estudantes e seniores, 2,25 euros; escolas, 1,50 euros); grátis para menores de 12 anos.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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