Uma galeria subterrânea e outros segredos para descobrir no Jardim Botânico da Ajuda

O Jardim Botânico da Ajuda tem vista sobre o Tejo. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI).
Foi o primeiro jardim botânico português e morada do primeiro museu de História Natural. Hoje, mantém-se um “laboratório vivo” para crianças, jovens e adultos conhecerem o mundo através das plantas.

Aconteça o que acontecer, o Jardim Botânico da Ajuda (JBA) é um “espaço resiliente, porque já ultrapassou alguns dos momentos mais importantes da história do país”, afirma a diretora Ana Luísa Soares, no início de uma visita guiada com a Evasões. A pandemia retirou-lhe milhares de visitantes (50 mil, em 2019), mas o trabalho diário de manutenção manteve-se, que o diga Vera Ferreira, curadora da coleção botânica. Agora, há esperança de que o bom tempo e o desconfinamento atraiam de novo os lisboetas e turistas a este património com 253 anos de história.

A primavera é uma das melhores alturas para visitar o JBA, porque no verão aquece muito, por estar virado a sul. Agora há buganvílias a florir. Depois, será a vez de os jacarandás pintarem o cenário de tom lilás, no terraço superior do jardim. É aí que se encontram, também, algumas das espécies mais emblemáticas: as enormes araucárias, um dragoeiro que terá 300 anos e a schotia afra, que abraça os visitantes com sombra e frescura. No patamar inferior, marcado por uma escadaria imponente, o jardim é mais ornamental, com canteiros geométricos de buxo, preenchidos por roseiras e flores de época.

A maior parte das espécies tem placas com o nome científico e um QRcode que, em breve, permitirá ler a informação no telemóvel. O jardim chegou a ter cinco mil espécies, mas como nem todas se habituaram ao clima, hoje são 1500. Parte delas está distribuída por mais de mil pequenos canteiros, construídos segundo uma planta antiga aquando da última obra de conservação realizada, em 1997, sob comando da então diretora Cristina Castel-Branco. Dessa altura é também o Jardim dos Aromas, com 70 plantas medicinais e aromáticas em canteiros elevados e com placas em Braille, para serem tateadas e lidas por cegos.

Contas feitas, os 3,5 hectares do JBA continuam a proporcionar uma “volta ao mundo através das plantas”, oriundas de África, região Mediterrânica, América do Norte e Central, Ásia (China e Japão), Macaronésia (Madeira, Açores e Canárias), Austrália e América do Sul. A riqueza botânica sempre foi um dos pilares do JBA, ou não tivesse sido fundado em 1768 como o primeiro jardim botânico português e com a finalidade de manter, estudar e colecionar o máximo de espécies do mundo vegetal. O projecto foi assinado pelo naturalista italiano Domingos Vendelli.

 

Local de estudo
O desenvolvimento do JBA deveu-se muito ao terramoto de 1755, que arrasou Lisboa e motivou a fuga da família real para o Paço da Ajuda (ou “Real Barraca”, como ficou conhecido por ser de madeira), por D. José I ter muito medo de voltar a habitar edifícios de pedra e cal. A família comprou então uma quinta que ali existia e onde se plantaram frutas e hortaliças para abastecer o palácio. Quando aí nasceu, o JBA tinha como propósito ser local de recreio e de ensino dos príncipes. Incluía o Real Gabinete de História Natural, um laboratório químico, uma livraria especializada, um gabinete de física experimental e a Casa do Risco.

Esta última estabelecia a ponte com a Universidade de Coimbra, onde Vendelli era professor de História Natural. “Ele trazia os alunos para aqui, para verem as plantas ao vivo, aprenderem a ilustrá-las e para os preparar para as missões nos territórios da expansão marítima”, conta Ana Luísa Soares. De lá, traziam plantas e sementes, animais embalsamados, rochas e conchas para serem alvo de estudo. A abertura do jardim e do museu ao público em geral só aconteceu, porém, no reinado de D. João VI. Já durante as invasões francesas as tropas de Napoleão levaram parte do espólio para Paris, onde se mantêm algumas peças.

A água que vem de Monsanto
Além da botânica, têm interesse os oito lagos que refrescam o recinto (só a fonte central tem 40 bicas); a estatuária, com destaque para a figura de D. José, príncipe do Brasil e neto de D. José I, da Escola de Escultura de Lisboa; a estufa de catos e suculentas; e uma estreita e escura galeria por baixo do terraço superior que abastece o sistema de rega e os lagos com água de uma nascente natural de Monsanto. Por estar numa das encostas da serra, oferece vista entre Alcântara e a Ajuda, com o Tejo em pano de fundo.

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Mapa da ficha ténica
Morada
Calçada da Ajuda (entrada temporária pela Calçada do Galvão), Lisboa
Telefone
213622503
Horário
Das 10h às 18h. Fim de semana e feriados, até às 20h.
Custo
(€) Preço: 2 euros (normal); 1 euro (estudantes e seniores); 5 euros (bilhete família).


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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