Um mundo de cascatas em Avintes

António "Gaioleiro", cascateiro da vila de Avintes. (Fotografia de Pedro Granadeiro / Global Imagens )
António o Gaioleiro é um dos cascateiros que não deixam morrer esta tradição centenária de Avintes. Há várias décadas que monta a sua cascata do Outeiro ao lado de casa, tendo vencido vários prémios.

A Rua do Outeiro é um caminho que se bifurca, para uns metros mais à frente se voltar a unir. Caminho rural, sobranceiro ao Douro, com casas térreas, pequenas hortas e quintais, numa colina que, por si, já lembra uma cascata são-joanina. É por aqui, neste canto de Avintes entre o Douro e o Febros que se encontra um pátio famoso, onde António Marques, conhecido como o Gaioleiro – por ser filho de uma gaioleira -, monta todos os anos a sua cascata de S. João, normalmente muito visitada por esta altura.

Este ano é diferente. Devido à pandemia, a junta de freguesia não abriu o concurso de cascatas, que realiza há três décadas e que não deixa esmorecer esta tradição centenária, pondo os muitos cascateiros da vila a reinventar todos os anos estes “pequenos mundos”, como lhes chamou o escritor Inácio Pignatelli. “Não sei se este ano a vou acabar”, diz António, olhando para a cascata, já com as suas casinhas montadas, os moinhos e capelas, a água a correr, as figuras nos seus sítios e os três santos populares, mas ainda está despida de musgo e de luzes. António deixa a estrutura montada o ano inteiro e, uns meses antes do S. João, começa a delinear como quer a sua cascata. É ele que constrói as estruturas – casas, pontes, moinhos – mas não os bonecos de barro.

“O concurso é bom para puxar pela cabeça das pessoas, e eu sou o verdadeiro campeão disto”, diz sem modéstia, mostrando fotografias de concursos onde obteve prémios. Nascido em 1939, António começou ajudando os cascateiros mais velhos, com quem aprendeu, e desde os anos 60 que monta ali ao lado de casa a cascata. Isto é um passatempo, eu gosto disso e vou continuar enquanto puder”, diz. António trabalhou como entalhador desde o 11 anos e, mesmo reformado, não deixa de criar as suas figuras de madeira, sagradas e profanas. Ou não fosse um verdadeiro artista popular.

O ESSENCIAL PARA A CASCATA

Uma cascata sanjoanina, que pode ser desenvolvida em socalcos, tem de ter, obrigatoriamente, água a fazer de rio. É à volta dele que se desenvolvem todas as cenas. A cena do baptismo pode ser mesmo dentro do rio. Terra, musgo a servir de relva, bandeirinhas coloridas, alhos porro e outras ervas da época decoram o ambiente.

1.Baptismo

Aqui no primeiro plano, mas não tem de ser, a cena de batismo de Jesus. Segundo a tradição cristã, João Baptista batizou Jesus no rio Jordão.

2.Pescadores

Muitas das profissões mais tradicionais são representadas na cascata. Ao longo do rio não devem faltar pescadores. Os pastores também se encontram espalhados pela cascata.

3.Moleiros

Nada mais indicado do que ter moleiros numa cascata de Avintes, terra conhecida pela sua tradicional broa escura. “Esta é a mó de moer o milho para a broa”, conta António. Moinhos de água ou de vento, não podem faltar.

4.Lavadeiras

As mulheres a lavar roupa no rio são imprescindíveis numa cascata tradicional.

 

5.Banda

Aqui no coreto, a banda filarmónica anima a festa e o bailarico.

6.Rusgas

Estes desfiles populares sanjoaninos não têm a opulência das marchas de Santo António, mas têm o mesmo brio e animação. A sua representação não deve faltar.

7.Romaria

Representa o aspeto mais religioso da festa popular. Os participantes erguem santos e estandartes. E não faltam anjinhos.

 

 

8.Jogos populares

Vários jogos e diversões podem estar presentes. Nos arraiais tradicionais, havia o costume de se jogar ao pau de sebo. Um pau engordurado que era necessário subir para se alcançar os prémios. O jogo, caído cá em desuso, continua a ser muito popular nas festas juninas no Brasil.

9.Os três santos

No cimo da cascata, em jeito de altar, estão representados os três santos populares: Santo António, São João e São Pedro.

Outras figuras que normalmente não faltam nas cascatas são os humorísticos “cagão”, que António já talhou em madeira, em versão grande, e a leiteira a urinar para dentro da vasilha de leite.

 




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