Por lá andou durante três temporadas, até assentar arraiais no horário nobre do mesmo canal, como a série que hoje conhecemos como «Os Simpsons». Foi em dezembro de 1989 e, desde então, a criação de Matt Groening nunca mais saiu da caixinha mágica.
No passado domingo de Páscoa, Bart e o restante agregado teve honras de destaque no Fox Comedy, que lhe dedicou uma maratona especial com sete novos episódios (do 7.º ao 14.º) da 31.ª temporada. Mas qual é o segredo para a longevidade destes desenhos animados que já chegaram a retratar os portugueses Cristiano Ronaldo e João Félix? As razões são muitas, mas vamos começar por colocar os pontos nos is: Matt Groening, cartoonista que assina a criação, não é o verdadeiro responsável pelo êxito, diz o livro «Simpsons: An Uncensored, Unauthorized Story».
Na verdade, quando tinha 23 anos, o argumentista vivia em Los Angeles e sonhava com uma carreira como escritor. Os entraves com que se deparou fizeram-no odiar a cidade e Groening extravasava dando vida aos desenhos animados «Life in Hell», que iam sendo publicados em revistas alternativas e acabaram por chegar às mãos de James L. Brooks. O produtor quis comprá-los, mas Matt recusou por não querer perder os direitos comerciais para a Fox.
Em troca e para calar Brooks, ofereceu-lhe… os Simpsons. Diz aquela obra que se inspirou na sua própria família para desenhar as personagens num guardanapo de café – Homer, Marge, Lisa e Maggie são os nomes do pai, da mãe e das duas irmãs, respetivamente. Bart é fictício!
Daqui até entrar em «The Tracey Ullman Show» foi um pulinho – as vozes até foram entregues a Dan Castellaneta (Homer) e Julie Kavner (Marge), que integravam o elenco de atores do formato de comédia.
O responsável pelo resultado final dos guiões, acusa o mesmo livro, era Sam Simon. «Matt Groening era o rei do marketing. Ele ficava sentado na sua sala a assinar pósteres e a criar novas maneiras de fazer merchandising, enquanto Sam e outros argumentistas produziam episódios brilhantes», aponta o editor Brian Roberts. O conflito entre Groening e Simon foi tão grande, que este acabou mesmo por se despedir ao fim de quatro temporadas. Ainda hoje recebe uma percentagem dos lucros.
O primeiro salto para a fama surgiu quando Rupert Murdoch, proprietário da Fox, quis fazer frente ao The Cosby Show, há anos líder de audiências ao domingo à noite na CBS. Os Simpsons passaram a fazer-lhe concorrência e o talk show acabou por ser cancelado meses mais tarde.
E se o segredo está na irreverência de Bart, na inocência de Homer, nos cabelos azuis de Marge, na inteligência de Lisa ou na esperteza de Maggie, fique a saber que os cerca de dezena e meia de argumentistas não saíram de Hollywood: foram recrutados a uma das mais prestigiadas universidades do Mundo.
«Entre a 2.ª e a 8.ª temporadas, pelo menos 80% deles tinham vindo de Harvard», contou o produtor Bill Oakley. São eles, frisam os críticos, que dão sofisticação ao humor da série, repleta de referências culturais, sociais e políticas. A estes juntaram-se, quem diria, cientistas: há licenciados em Neurociência Cognitiva, Matemática e Química.
Por mais justificações e equipas criativas que se reúnam, a própria Fox encontrou um outro motivo para o sucesso de «Os Simpsons». E é um motivo bem mais simples, como já explicou o produtor Jay Kogen: «Nós pensávamos que estávamos a escrever programas inteligentes e especiais, cheios de boas piadas. Foi aí que tivemos acesso a um estudo feito pela Fox. Ele mostra que os principais motivos pelos quais as pessoas gostam dos Simpsons são as cores bonitas e quando Homer bate com a cabeça». Doh!
«Doh!» no Dicionário de Oxford
Os Simpsons influenciaram a cultura popular. «Doh» , o «grunhido de insatisfação» de Homer, em 2001, foi incluída no Dicionário de Inglês de Oxford.
Quase 700 episódios de sátira
Os episódios produzidos até à data renderam 31 prémios Emmy. Foi o primeiro programa de animação a receber um Peabody.
Não se livram das críticas
Os maus exemplos levaram George Bush a afirmar: «vamos fazer famílias serem mais parecidas com os Waltons e menos com os Simpsons».
Quando vai terminar?
O fim da série foi anunciado no ano passado. A culpa foi de Danny Elfman, compositor do tema de abertura: «Ouvi dizer que esta temporada vai ser a última». A Fox ainda não se pronunciou.