Série “O Colapso”: o fim de mundo em menos de 3 horas

O que aconteceria ao Mundo se um único sistema que o governasse entrasse em falência? Os produtos mais básicos, os necessários à sobrevivência humana, iam começar a faltar. Os sistemas elétrico e hidráulico iam ruir, homens, mulheres e crianças iam entrar em conflito. Esta é a base de “O colapso”, série francesa para ver no AMC.

Composta por oito episódios com cerca de 20 minutos cada, a trama explora o desespero e a luta pela sobrevivência, mas também a solidariedade que daí nasce. “Com a sombra da pandemia ao nosso redor, não há nada melhor do que explorar este mundo de ficção, que nos levará a pensar sobre o momento que vivemos na vida real”, refere o canal, em comunicado, fazendo uma analogia com a covid-19 que toma conta do planeta há quase um ano.

Aliás, o primeiro capítulo (cada um deles é centrado num local específico e todos eles têm pouca ou nenhuma relação entre si) mostra um supermercado atolado de pessoas, com essa multidão desesperada por bens essenciais e as prateleiras a surgirem completamente vazias. Aqui, um rapaz que trabalha na caixa não sabe o que fazer: tentar manter a ordem, com esperança num futuro melhor e na manutenção do seu emprego, ou ajudar um amigo a roubar tudo aquilo que ele precisa? O cenário – o do supermercado, claro -, pode muito bem ser associado pelos portugueses ao que aconteceu no nosso país quando, no começo do ano passado, o novo coronavírus obrigou a Organização Mundial de Saúde a decretar pandemia.

Curioso é o facto de a série ter sido filmada em 2019. Criada pelo trio Guillaume Desjardins, Jeremy Bernard e Bastien Ughetto, acabou por ser nomeada para o Emmy Internacional de Melhor Minissérie ou Telefilme. Perdeu para “Responsible child”, produção britânica realizada por Nick Holt e escrita por Sean Buckley sobre um rapaz de 10 anos acusado de matar o namorado da mãe.

“Queríamos produzir toda a série e colocar os episódios no nosso canal no YouTube. A história de um episódio seria filmada de uma só vez. Filmamos primeiro esse episódio com uma equipa de voluntários. Apresentámos ao Canal+, os responsáveis gostaram e quiseram produzir a série para TV. Então, reescrevemos todos os capítulos para serem filmados num único take”, explicaram os cineastas. Ou seja, “O colapso” surge em plano-sequência, técnica em que as cenas são apresentadas sem cortes.

A SÉRIE “PROVOCA ANSIEDADE DE FORMA INTENCIONAL”

A ideia da degradação da sociedade mundial sempre foi assunto que fascinou os criadores. Ao mesmo tempo, confessaram os próprios, dava-lhes “medo” – e isso faz parte do encanto que sentem. “Queríamos mostrar a fragilidade do sistema e a dependência que o Homem tem do mesmo. Vivemos num Mundo que só acredita no crescimento infinito”, lamentaram.

A trama, admitem Guillaume Desjardins, Jeremy Bernard e Bastien Ughetto, foi a forma que encontraram para lançar um alerta. “Cremos no poder das histórias e do cinema. Queremos levar os espectadores a entrar numa realidade o mais próxima possível daquela que os especialistas dizem que será verdadeira nas próximas décadas e que já existe em muitos países”, prosseguem.

Não escondem, por isso, que um dos objetivos passou por provocar “ansiedade”. “É intencional. Desejamos dar uma bofetada falsa coletiva antes de recebermos a bofetada real que será o colapso”, explica o trio, voltando a frisar que, para isso, retrataram o tema “da forma mais realista possível”. “A ação desenrola–se em tempo real para reforçar o sentimento daquilo que é inesperado. O espectador quase que participa, a câmara converte-se nos seus olhos, e não há como escapar”, acrescentam.

Os atores Lubna Azabal (conhecido por “The little drummer girl”), Audrey Fleurot (de “Clube dos divorciados”), Philippe Rebbot (de “Apaga o histórico”), Samir Guesmi (de “A melodia”) e Thibault de Montalembert (de “The King”) fazem parte do elenco de intérpretes principais.

As comparações com a pandemia de covid-19

Os adeptos da “colapsologia”, conceito baseado na convicção de que o Mundo não vai sobreviver a uma crise climática e de abastecimento, olham para esta série como “visionária”. Há, também, quem afirme que a pandemia de covid-19 é o começo do fim do Mundo. Os realizadores revelam que se “alimentaram” das teorias desses homens e mulheres para dar forma ao argumento. “Transformámos os seus trabalhos em histórias de catástrofe e demos a nossa perspetiva sobre as mesmas. Esperamos que tudo aquilo que estamos a passar ajude a chamar a atenção para os defeitos da nossa civilização. Infelizmente, parece que, mais uma vez, passado este período, o nosso Mundo vai voltar a ser o que era”.

Ainda assim, e porque tudo pode acabar um dia, a esperança é sempre a última a morrer, Desjardins, Bernard e Ughetto sentem-se felizes por terem assistido “a muitos comportamentos positivos” . “Houve momentos maravilhosos e que fizeram saltar para a ribalta as pessoas realmente essenciais: enfermeiros, homens que recolhem o lixo… Lamentamos a ausência e a subvalorização de todas essas pessoas. Vemos também que as dificuldades se agravam onde já existiam e que, muitas vezes, são os locais onde há maiores desigualdades que mais sofrem”, prosseguem.

Acreditam que a “solidariedade tem funcionado a nível local”, mas questionam: “E as guerras entre os países ricos para se apropriarem do stock de máscaras disponíveis? Onde estava e onde está a solidariedade global necessária para criar um Mundo sustentável? Temos esperança que a pandemia tenha feito as pessoas perceberem que o sistema pode não ser tão forte quanto parecia. Agora, é preciso fazer essa consciência perdurar e transformar-se em ações concretas”.

Próximas emissões no AMC:
20/01 – 22h10, 22h30, 22h50, 23h10

Também disponível na plataforma FILMIN.




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