D’Jardim: manter a tradição da orizicultura no Baixo Vouga Lagunar

Os orizicultores Patrícia e Carlos Valente da D'Jardim. (Fotografia de Tony Dias/GI)
Carlos e Patrícia Valente produzem arroz há nove anos, na freguesia de Salreu, no Baixo Vouga Lagunar. Um esforço hercúleo para não deixar morrer uma tradição que muito esmoreceu na região desde a década de 1980.

Quem sai do comboio no apeadeiro de Salreu é, por estes dias, recebido por uma mancha verde de arrozais. Uma beleza natural que contrasta com a situação da orizicultura em Estarreja, cuja produção, embora ressuscitada há três anos, é muito pequena. “Nos tempos áureos, o Baixo Vouga Lagunar tinha cerca de mil hectares plantados, hoje estamos resumidos a 20”, constata Carlos Valente que, ao lado de Patrícia, sua mulher, produz e comercializa o grão sob a marca D’Jardim. “Isto começou em decadência a partir dos anos 1980. Nos inícios dos anos 90 vieram os lagostins, que destruíam as culturas, e as pessoas começaram a abandonar. Não era rentável. Agora os lagostins já não são problema, porque há tantos pássaros que comem os lagostins. Dantes, a caça não era tão limitada e os pássaros fugiam. Além disso, as pessoas já não querem voltar ao arroz. É muito trabalho”.

Este ano, o casal teve perdas enormes por causa da íbis-preta, ave exótica que procura alimento nos campos alagados e arruína a sementeira. Cada vez mais exemplares têm voado para norte atraídos pelo calor. Carlos é perentório: as alterações climáticas sentem-se na temperatura do ar e da água, e o surgimento de algas e fungos que consomem o oxigénio da água provoca a morte da planta. A solução pode passar pela sementeira em seco, para “a planta ficar sólida, firme”. O casal fê-lo este ano, dando-lhe água apenas três semanas depois, e resultou.

Este é um trabalho movido pelo amor à tradição. Quando o pai de Carlos lhe disse que ia deixar de produzir, há nove anos, decidiu dar continuidade ao trabalho. Muitos dos clientes de Carlos já conhecem bem o produto. São essencialmente pessoas da região, mas também emigrantes, que apreciam este arroz “diferente do do resto do país” devido sobretudo a dois fatores. Um tem que ver com a película entre o grão e a casca que o arroz forma para se proteger das noites frias da região, o que lhe proporciona mais goma a cozinhar. O outro está relacionado com a salinidade presente na água do solo, devido à proximidade da ria.




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