Conhecer uma quinta senhorial no coração da Maia

Quinta da Boa Vista, Maia. (Fotografia: Artur Machado/Global Imagens)
A Quinta da Boa Vista estende-se por sete hectares, em pleno centro urbano, e visita-la dá lugar a ver uma coleção de coches e uma capela seiscentista.

Uma quinta senhorial com sete hectares de área em pleno centro urbano não é algo que se veja todos os dias. Por isso mesmo, Maria de Fátima Gramaxo, a proprietária da Quinta da Boa Vista, não tem poupado nos esforços para manter intacta a propriedade. O solar, na altura conhecido como Casal da Granja, chegou à posse da família Gramaxo em 1648, e é um dos maiores exemplares do passado rural da Maia. «O meu pai é que transformou o terreno em campos agrícolas. Antes a quinta era toda pinhal», conta Maria de Fátima. Apesar da sua dimensão, ao longo dos anos a Quinta da Boa Vista foi perdendo grande parte do seu domínio. Fruto de vendas, doações e expropriações, derivadas da abertura da Via Norte e da linha do Metro, por exemplo.

Com vista a travar o desmantelamento da quinta, em 2013, Maria de Fátima criou a Fundação Gramaxo, «para dar continuidade à terra e ao nome». E deu início a uma série de iniciativas para preservar o património e permitir o seu usufruto. O mais recente projeto já está em construção, um edifício assinado por Siza Vieira que vai albergar a sede da fundação e exposições de joias e pinturas da coleção privada de Maria de Fátima.

Em dias de festa, como os da romaria de Nossa Senhora do Bom Despacho (segundo fim de semana de julho), abrem-se os portões para receber visitantes até à parte mais privada da propriedade. «O meu pai uma altura zangou-se por qualquer motivo e fechou a quinta durante muitos anos, mas eu sempre tive aquele sonho de a romaria voltar para aqui», conta Maria de Fátima. Mediante marcação e disponibilidade, também se fazem visitas noutras datas e é com gosto que a proprietária mostra os recantos da sua quinta.

Capela seiscentista. (Fotografia: Artur Machado/Global Imagens)

Visitar uma capela seiscentista
«A capela da quinta não era esta», começa por dizer Maria de Fátima, enquanto se dirige para a porta do pequeno santuário ao lado da casa da família. «Era a que estava no lugar onde foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho», continua. «Mas eu sempre quis pôr aqui uma capela, e quando descobri uma na zona de Vila Nova de Famalicão com a data de 1648 [a mesma da casa], nunca mais a larguei. Comprei-a e trouxe-a para aqui, veio pedra por pedra», conta.

Passear pelo parque
Na parte oeste da propriedade, Maria de Fátima criou um parque de lazer sempre aberto à comunidade, que ali pode passear na frescura e tranquilidade que o bosque transmite, a ver a cidade em pano de fundo. O espaço está ainda equipado com mesas de pedra para um piquenique sob a sombra das árvores, e é também adornado por obras de vários artistas, como os painéis de azulejos de José Emídio, e a escultura «Árvore de S. Francisco», do escultor João Cutileiro.

Conhecer a coleção de coches
Nos antigos armazéns agrícolas da quinta está agora instalada uma exposição de carros de cavalos, com exemplares de várias épocas, origens e estilos. «Estão todos a funcionar», garante Maria de Fátima. De entre a coleção pautada principalmente por coches ligados à nobreza, destaca-se uma carruagem Vitória, assim nomeada por ter surgido durante o reinado daquela rainha inglesa.

Um dos exemplares da coleção de coches. (Fotografia: Artur Machado/Global Imagens)

Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

Visitar o Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho
Para lá dos portões do parque, do outro lado da estrada, ergue-se o Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho. O terreno foi cedido pela família Gramaxo para a construção da igreja, em 1738, em honra da santa padroeira do concelho da Maia, ao início venerada pelos pescadores, que lhe encomendavam o despacho das causas difíceis. É uma construção ao estilo barroco, forrada a azulejos já no século XIX, e com um belíssimo trabalho em talha dourada no interior, onde se encontra ainda um retábulo dedicado
a São Roque, a indicar que por ali passa um dos caminhos de Santiago.

Comer carne maturada num coreto
O elegante coreto que ocupa o centro do parque é morada, desde o início do ano, de um restaurante dedicado às carnes maturadas. Se o lugar, já idílico, é propício a uma visita, o que vai no prato inspira a prolongar o passeio. Costeletão de vaca, T-bone e tomahawk são alguns dos cortes que chegam à mesa, acompanhados por arroz caldoso, legumes ou puré de batata-doce. O interior foi decorado ao pormenor, com cadeiras de pele de Rebordosa e mesas de mármore vermelho de Estremoz. E no serviço de mesa têm lugar navalhas árabes, feitas artesanalmente, e pratos produzidos por um mestre oleiro do Alentejo. Ainda que as paredes envidraçadas deixem ver o parque e a cidade ao redor, estes dias de verão convidam a jantar na agradável esplanada, para aproveitar os ares temperados do final de tarde. «Este espaço pretende ajudar à preservação de um importante património mobiliário e imobiliário na cidade da Maia», lembra Pedro Maia, o proprietário, que já não estranho estas andanças – é dono de dois restaurantes em Vila do Conde: a Biferia e Uma casa de campo.

 

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