Escreveu o Diário de Coimbra: “Manda a tradição que quem chega a Lourosa para visitar a igreja de São Pedro, tem de tocar duas vezes ao sino, para a senhora aparecer com a chave e conduzir os visitantes até ao seu interior. É assim há mais de 40 anos. Dedicação, humildade, zelo, fé e amor são marcas de uma vida prestada à igreja de São Pedro de Lourosa”.
As palavras de reconhecimento estão gravadas na pedra do busto que o município de Oliveira do Hospital e a Junta de Freguesia de Lourosa lhe ergueram em frente à igreja. Foi ao lado dele, aliás, que Maria do Patrocínio posou para uma fotografia de mais um aniversário – “91 outonos” -, publicada no Facebook, e no qual se recorda ser a única pessoa da freguesia galardoada com a Medalha de Mérito Municipal.
Mas Tia China, como é local e carinhosamente tratada, tem uma personalidade muito própria, e chegou a dizer o seguinte em conversa com a reportagem da Evasões: “Puseram-me ali de espantalho com uma sacada, foi uma surpresa que ia dando cabo de mim”. Já quando lá vão presidentes da República ou autarcas, também não resiste a dirigir-lhes uns “recados”.
Seja como for, se alguém tocar duas vezes o sino que se encontra no cimo de uma torre nas traseiras da igreja, a senhora costuma aparecer, vagarosa, poucos minutos depois. De baixa estatura e apoiada num cajado, nos meses de sol quente costuma usar um chapéu de palha para proteger a cara redonda e rosada. Há mais de 40 anos que é ela que “guarda” o templo, abrindo a igreja aos visitantes que lá chegam.
Maria do Patrocínio Nunes abre a porta como se fosse a sua casa, e de lanterna na mão para iluminar o espaço escuro e húmido, diz que foi ela que descobriu a antiga pia do batismo da igreja. Um importante contributo, ou não se estivesse a falar da Igreja Moçárabe de São Pedro de Lourosa, um exemplar pré-românico único no país, e que em 2012 comemorou o jubileu dos 1100 anos.
Em 1930 foi alvo de um restauro que lhe conferiu o aspeto atual e permitiu descobrir alguns traços primitivos e vestígios arqueológicos da época romana. O que circunda a igreja é que continua a desagradar à “guardiã do templo”. Zelosa da limpeza e conservação do espaço, não se conforma com a necrópole a céu aberto que vai acumulando folhas das árvores e com que tem de conviver todos os dias.
Como a área foi ainda mais escavada recentemente, ficaram a descoberto sepulturas de formas antropomórficas na rocha. O cemitério, que remonta à Alta Idade Média, é no entanto único na região do Mondego e acrescenta um valor cénico e arqueológico à aldeia de Lourosa, com perto de 300 habitantes, no concelho de Oliveira do Hospital, na região Centro.
Longitude : -7.93206669999995
A reportagem sobre este assunto foi originalmente publicada online em janeiro de 2019.