Manuel Pinho: um Natal simples e feliz com pouco

Manuel Soares Pinho. (André Rolo/Global Imagens)
As recordações natalícias de Manuel Pinho estão ligadas ao mundo rural onde cresceu, nos anos 60 e 70. Na freguesia de Rio Mau, vizinha de Rates, onde vive agora, a época era vivida de forma especial.

Manuel cresceu numa casa de lavoura, com os pais e cinco irmãos. “Era uma casa muito rudimentar; mas ainda tínhamos umas 10 cabeças de gado”, recorda.

O professor de História já aposentado lembra-se bem da broa de milho que a mãe cozia com frequência no forno a lenha. Quando chegava a época das festas, o milho dava lugar ao trigo e ao centeio. “Chamávamos bolacho a esse pão. A minha mãe, na véspera de Natal preparava fornadas desse pão de mistura. Depois, juntava um pequeno bacalhau, feijão e um garrafão de vinho para compor um cestinho de consoada que oferecia às jornaleiras e às criadas de servir da casa”, lembra.

Nesse dia atarefado, era também a mãe que preparava a ceia, com o bacalhau, as couves e as batatas. As rabanadas e outras sobremesas natalícias também não faltavam. Manuel, com 8 ou 9 anos, passava esse dia na brincadeira com os irmãos e quando a tarde estava mais chuvosa e fria, ficavam à lareira à espera da ceia e que o pai chegasse a casa. “Ele era chauffeur, como dizíamos naquela altura, da carreira de Guimarães-Póvoa. Era ele que trazia o bolo-rei e uma garrafa de vinho do Porto – o Kopke -, que o patrão que lhe dava. À consoada juntava-se a madrinha da mãe.

Fotos da família de Manuel Soares Pinho. (André Rolo/Global Imagens)

Depois da ceia, regressavam à lareira, onde o pai jogava com eles ao “par ou pero” (mais conhecido como par-ou-pernão): “Ele punha pinhões numa mão e nós tínhamos de adivinhar se o número de pinhões era par ou ímpar. Se acertássemos, ficávamos com os pinhões”. Quando chegava o sono, iam para a cama, não sem antes deixar o sapatinho junto ao presépio, como era tradição. No dia a seguir, estes tinham um pacotinho de bolachas e de cigarros de chocolate.

“Um ano ou outro, ganhávamos aqueles carrinhos de plástico que se vendiam nas feiras e as irmãs uma bonequita de trapos. Com pouca coisa ficávamos contentes”, diz. Manuel quis passar as tradições do Natal católico aos filhos e aos netos. Nunca falta, portanto, o presépio lá em casa. E agora este é feito com figuras de grande porte, ocupando um lugar privilegiado na sala de estar. E aqui se volta a cumprir a tradição. “No Natal, os meus filhos passam a consoada nas suas casas de família. Mas juntamo-nos todos na noite de passagem de ano e fazemos a ceia tradicional. À noite, deixa-se o sapatinho no presépio” à espera das prendas do Menino Jesus.

 

UMA HISTÓRIA DE NATAL

Consoada em Angola

Manuel Pinho, antes de ir para a faculdade – primeiro em Coimbra, onde desistiu de Direito, e depois na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde tirou o curso de História, esteve na tropa e chegou a ir para Angola, já depois do 25 de Abril. “Fui em outubro de 1974 e regressei em março de 75”, lembra. Já não havia guerra e o Exército português convivia com os que antes eram considerados os inimigos. Em Cabinda, passou o Natal daquele ano. “Foi uma euforia! Vinho, cerveja e uísque não faltavam. Na ceia não faltou o bacalhau.




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