Uma viagem na Bairrada com vinhos, termas e boa mesa

A região da Bairrada, conhecida pelos seus espumantes e pelo leitão, tem atualmente muito para oferecer a quem se aventurar os seus (às vezes pouco óbvios) encantos. Nesta viagem encontramos enoturismos cheios de história, museus e arte contemporânea, hotéis de charme e comida, muita comida... e melhor vinho.

Em São Lourenço do Bairro, Anadia, a Bairrada pode ser vista de uma forma diferente, a partir do terraço da ADEGA CAMPOLARGO. Os 110 hectares de vinhas da Quinta de Mateus espalham-se até à quinta seguinte, a do Encontro. Nesta região vitivinícola (que abarca oito concelhos: Águeda, Anadia, Vagos, Mealhada, Coimbra, Cantanhede, Oliveira do Bairro e Aveiro) não se encontram manchas de vinha tão extensas como noutras regiões demarcadas, sendo a desta quinta uma exceção.

O encanto da região passa por isso: para conhecer a Bairrada é necessário sair das estradas principais e estar disposto a descobrir tonalidades para lá do espumante e do leitão, sem contudo os deixar de lado… Começar pela Quinta da família Campolargo é ter contacto com um dos mais antigos produtores (apesar de só em 2000 ter lançado a marca) e aquele que, atualmente, mais uvas produz num total de 170 hectares, onde crescem 34 castas, incluindo a tradicional baga.

A adega, onde um espelho de água criar frescura, foi acabada de construir em 2005 e é toda ela visitável, incluindo o laboratório. «O conceito é ter o máximo respeito pelas uvas. A vinificação exclui a utilização de produtos enológicos (exceto sulfitos, em doses moderadas)», explica Cristiana, responsável pelo enoturismo. A vindima é feita manualmente e grande parte das uvas brancas são para espumantes – e tudo, assim como a produção do espumante, é explicado durante a visita.

A adega complementa-se com um turismo de habitação, na CASA DE MOGOFORES. É Glória Campolargo – a matriarca da família – que recebe os hóspedes. Além dos três quartos na casa principal, há mais três apartamentos independentes. Sem luxos dispensáveis, mas com o charme de época, a casa do século XIX pertenceu a Albano Coutinho filho, progressista, republicano e promotor do desenvolvimento agrícola da Bairrada e do termalismo da Curia.

A época de ouro do turismo termal

Esta pequena localidade começou a ganhar importância na segunda metade do século XIX pelas suas águas. Parte da sua história está presente na atual sede da ASSOCIAÇÃO DA ROTA DOS VINHOS DA BAIRRADA: a Estação de Caminhos de Ferro da Curia. Desativada 20 ano, até a REFER ceder o espaço à Rota, é agora um misto de loja e centro turístico, com obras que respeitaram a traça original do edifício que abriu em 1944, projetado pelo famoso arquiteto e cineasta do Estado Novo Cottinelli Telmo. Foi por pressão de Alexandre Almeida, responsável por um dos mais pomposos hotéis dos anos 20 em Portugal – o CURIA PALACE, reaberto em 2008 após seis anos de obras – que a estação foi construída. O termalismo estava em voga e as classes abastadas do Porto e de Lisboa frequentavam as termas e o hotel.

No início do século XX, a região já era conhecida pelos seus espumantes. A estação vitivinícola da Bairrada fora criada em 1887, sendo o seu fundador e primeiro diretor Tavares da Silva, engenheiro conhecido como o ‘pai do espumante português’. É uma das histórias contadas no MUSEU DO VINHO DA BAIRRADA, em Anadia, inaugurado em 2003, com um vasto espólio de equipamentos ligados ao vinho, muita documentação e coleções curiosas, como de saca-rolhas, de garrafas e rótulos antigos e de tambuladeiras.

Bairrada antiga e moderna

Outro espaço que respira história é a Aliança, um dos produtores mais antigos em atividade. Criada em 1927, a casa foi adquirida pela Quinta da Bacalhôa, de Joe Berardo, que ali instalou o ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM, com coleções arqueológicas e de arte africana, minerais e fósseis, azulejos, cerâmica e uma coleção dedicada à Índia.

De uma da mais antigas, salte-se para uma das mais recentes – a já referida QUINTA DO ENCONTRO, em São Lourenço do Bairro. Apesar de daqui já saírem uvas para vinho desde 1939, foi em 2000 que a produção ganhou ênfase. A Global Wines adquiriu a quinta e em 2007 abriu adega (visitável) e restaurante num arrojado edifício circular rodeado por vinhas. Serve cozinha tradicional e de autor, com propostas de harmonização, revelando a tendência da região, e nomeadamente da Mealhada, de oferecer algo além do tradicional (e sempre incontornáveis) leitão assado e espumante.

Até o icónico restaurante REI DOS LEITÕES se renovou este ano, no espaço e no conceito da carta e ampliando a garrafeira. Nesta casa aberta em 1947, o leitão continua a ser a especialidade, mas também há outras carnes e mariscos, em pratos com grande atenção aos pormenores. Outro restaurante a referir nesta tendência é o MAGNUN’S, do chef Gonçalo Soares. Depois de vários anos a trabalhar pela Europa, voltou à Bairrada, para abrir este lugar de peixe e marisco (com grelhados, carpaccios, ceviches), onde o seu entusiasmo em ir às mesas falar com os clientes cria um ambiente singular.

Na rota da Bairrada há mais cozinha para experimentar. Os restaurantes que a integram têm duas coisas em comum: excelência gastronómica e uma carta de vinhos que honra a região. São eles o DUX, em Coimbra, e O BAIRRO, em Aveiro – o primeiro, pelos seu petiscos criativos; e o segundo pela reinvenção da cozinha regional, onde são fundamentais os sabores do mar. E é mesmo na cidade de Aveiro que este roteiro pode terminar, com um passeio de barco moliceiro, com a Bairrada a mostrar-se como uma região onde parece não faltar mesmo nada.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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