A proximidade pode ser inimiga da perfeição. Sintra e os seus arredores estão tão próximos à capital que muitos a veem como uma mera distração para um par de horas, deixando escapar a oportunidade de fazer uma escapada com mais vagar e sem passar sempre pelas mesmas capelinhas. É que estando tão perto, na região metropolitana de Lisboa, o concelho de Sintra é todo um outro mundo a descobrir.
A Quinta dos Bons Cheiros, um Bed & Breakfast com design e assumidamente rural, é prova disso. Situada em Odrinhas (Terrugem), com Sintra de um lado, Mafra do outro e o mar em frente, a quinta de quase dois hectares pertence a Elisabeth Arias, uma arquiteta que depois de uma viagem pela Provença, em França, se apaixonou pela ideia de criar em Portugal não um hotel — «não ponho os pés em hotéis; não sou o 365, sou uma pessoa», afirma categórica —, não um Airbnb, mas sim uma casa de autor, partilhada.
Por se encontrar inserido numa zona de campo, próxima ao mar, Bons Cheiros apresenta-se como propriedade eco-friendly.
De autor porque grande parte do que vemos aqui ou foi desenhado por Elisabeth ou foi escolhido por ela — «tenho inclusive espalhados pela casa e pelos quartos vários objetos de valor estimativo e nunca ninguém levou nada», confessa orgulhosa; partilhada porque a família, onde se inclui o marido Cristóvão, quatro filhas e cães, deixou uma anterior morada em São Pedro de Sintra para se vir instalar aqui — ficaram com a parte de cima da moradia.
Por se encontrar inserido numa zona de campo, próxima ao mar e a praias como a das Maçãs, o Bons Cheiros apresenta-se como propriedade eco-friendly — detalhes: os muros são de terra projetada para se fundirem com a paisagem e os exteriores foram pintados de um azul que muda consoante o céu — e o contacto com a Natureza é altamente estimulado: em redor existem inúmeras rotas a explorar, a pé ou de bicicleta.
Pode fazê-las por sua iniciativa ou recorrer, com a ajuda do B&B, ao serviço de guias especializados em fauna e flora, por exemplo. Outra curiosidade recomendada pela casa, além dos piqueniques, é uma visita ao Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas (museuarqueologicodeodrinhas.cm-sintra.pt, aberto de terça a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00), cujo acervo, desconhecido de muitos, inclui um vasto espólio de objetos encontrados entre as ruínas romanas da região.
O Bons Cheiros cativou uma clientela estrangeira, adepta de estadas mais longas.
Voltando ao Bons Cheiros, e enquanto o tempo ainda não convida à piscina e aos banhos de mar (mas o surf continua a ser uma possibilidade), a casa dispõe de quatro quartos, sendo que há uma suite autónoma ligada à casa-mãe pelo alpendre. No lugar de hóspedes (clientes é uma palavra proibida), há convidados que, desde o primeiro minuto, se sentem em casa — e tão à vontade que muitos optam por andar sem sapatos, pois todos os soalhos são aquecidos. A confiança inclui as chaves do portão e da porta para entrar e sair sem dar satisfações e livre-trânsito para desfrutar de todas as áreas comuns, dentro e fora de casa.
Por uma questão logística, crianças deixaram de ser permitidas, mas o ambiente dificilmente poderia ser mais familiar. Faltam mais hóspedes portugueses, mas, em compensação, o Bons Cheiros cativou uma clientela estrangeira, adepta de estadas mais longas, que não se ensaia nada em voltar — «em quatro anos e meio, já tive pessoas que voltaram pela quinta vez».
Há declaradamente um toque feminino no Bons Cheiros, que Elisabeth assume ter que ver com o seu gosto pessoal, mas um facto curioso é que são os homens, mais do que as mulheres, a eleger este retiro para surpreender as suas companheiras. Filha de mãe norueguesa e de pai espanhol, nascida no antigo Zaire, Elisabeth, que já participou de moto na mítica prova Paris-Dakar, é uma anfitriã cheia de estórias para contar.
Filha de mãe norueguesa e de pai espanhol, nascida no antigo Zaire, Elisabeth já participou de moto na prova Paris-Dakar.
Herdou da mãe, que chegou a ter um restaurante em Cascais, o gosto pela cozinha. Por isso mesmo, uma parte muito importante de ficar no Bons Cheiros passa pela experiência de aqui comer. O pequeno-almoço, incluído na diária, faz corar de vergonha muitos hotéis e os jantares, só por encomenda (40 euros sem bebidas), levam o selo slow food, pois Elisabeth faz questão de ir aos mercados locais e de cozinhar sobretudo o que sai das hortas, dos fornos e do mar da região. Uma questão de princípio.
Para comer
O Bons Cheiros serve, mediante reserva antecipada, jantares com o selo slow food (ver texto principal), mas é o primeiro a sugerir também alternativas à volta. Como é o caso da Praia Grande, onde ficam, mesmo junto ao mar, o Bar do Fundo e o Restaurante Terrace. O primeiro começou por ser uma barraca de praia, mas é agora um restaurante despretensioso, mas muito confortável (lareira no inverno), que serve refeições e lanches de cozinha portuguesa com propostas mais globais.
O segundo é um clássico, no Arribas Sintra Hotel, virado para a piscina oceânica e para o mar, mas pode ser uma surpresa precisamente por manter um serviço atento, bom produto (do peixe a pedido à açorda de camarão) e um ambiente familiar.
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