Durante a noite, a Quinta de Pentieiros é dominada pelo coaxar das rãs. De manhã, a este som sobrepõe-se o das crianças que todos os dias visitam a quinta, que é ao mesmo tempo espaço de descanso e lazer e de aprendizagem. Está na área protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos e foi concebida para a «promoção do mundo rural», explica Paulo Pimenta, engenheiro zootécnico, um dos responsáveis pelo complexo. Atividades como Um Dia no Mundo Rural, onde se pode andar pela primeira vez de cavalo, tosquiar ovelhas ou cuidar da horta, fazem parte da vida deste paraíso rural minhoto a 5 quilómetros de Ponte de Lima.
Para se ter uma experiência mais completa, o ideal é mesmo passar a noite num dos sete bungalows do parque (também há zona de campismo e caravanismo). Sete casinhas de madeira, confortáveis porém sem luxos, cujo alpendre funciona como um convite à vivência fora de portas.
Num passeio alongado dá para conhecer os cantos à quinta, onde um dos principais objetivos é a «criação e promoção de raças autóctones», entre vacas barrosãs, cachenas, ovelhas churras do Minho, cabras bravias, cavalos de várias raças (garrano, macho lusitano, sorraia), galinhas amarelas, pedrês, preta e branca ou suínos de raça bísara.
Além destes animais mais visíveis, com atenção e paciência, também se podem vislumbrar rãs, sapos, tritões e salamandras, entre outras espécies discretas e fugidias. Outra vertente importante é a criação de plantas. Além dos viveiros que produzem para espaços verdes da vila e para o famoso Festival de Jardins, que se realiza todos os anos entre maio e outubro, há um campo de plantas aromáticas, com exemplares de tomilho-lima, alfazema, alecrim, hortelã, erva-caril, sálvia, entre outros.
Para se estar ainda mais próximo da natureza e perceber a singularidade desta área protegida como zona húmida continental de água doce, pode percorrer-se um os seis percursos pedestres à volta das lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos, a um quilómetro de distância da quinta.
Passear nas Lagoas
«A proteção desta zona húmida de importância internacional remonta ao ano 2000. Cinco anos depois foi inaugurada e aberta ao público», diz Paulo Pimenta, explicando que as zonas húmidas são raras, e esta é única no Norte do país. Nestes 350 hectares protegidos, «conseguiu travar-se a degradação» e, hoje, anfíbios, aves aquáticas e migratórias convivem numa flora autóctone de onde se destacam o carvalho, o castanheiro, o salgueiro e o amieiro. A área de bosque é por vezes cortada por zonas agrícolas e por tapadas, que até aos anos 1980 eram pastagens para gado, revelando a longa ligação entre natureza e ação humana.
As lagoas são alimentadas pelo rio Estorãos, que atravessa a zona antes de desaguar no Lima. Dependendo das épocas do ano, da sorte e da paciência, pode ver-se – nos vários pontos de observação que se encontram nos percursos – lontras, garças-reais, patos-reais, galinhas d’água ou o pato mergulhão. Mas antes de se iniciar qualquer dos percursos, visite-se o Centro de Interpretação Ambiental (aberto apenas de segunda a sexta), o melhor ponto de partida para as visitas. Fica mesmo ao lado da lagoa de São Pedro de Arcos e dá a conhecer a história e a importância das lagoas, bem como os seus percursos. Funciona também como receção e loja, sala de exposições e tem espaço para projetos educativos. Depois, é só seguir as setas, os regulamentos e pôr os pés ao caminho.
Peixe fresco junto ao rio
Neste restaurante com vista sobre o rio, ao lado do Centro Náutico de Ponte de Lima, o peixe fresco é o que mais se destaca. Coisa rara pelo Minho, onde comida de peso, como rojões, sarrabulho ou cabrito costumam fazer as honras da casa. Claro que há sempre a época da lampreia e do sável, que enchem os restaurantes da vila, entre janeiro e abril. E o bacalhau é prato forte durante todo o ano. No Açude é inevitável que haja um pouco disto tudo. Mas são o linguado, o robalo e o rodovalho que fazem recordar que o mar não está assim tão longe.
O sarrabulho, «prato que se deve comer com fome», tinha de ser também ele, uma das referências da casa. João Lima, que gere o restaurante ao mesmo tempo que exerce o sacerdócio em algumas aldeias próximas, afirma que este sarrabulho é diferente: «É mais leve do que o habitual» e até «pode ser servido a doentes». Os rojões são muito tenros e cortados em pedacinhos pequenos, para absorverem todo o sabor dos temperos. Nas sobremesas, João destaca, com humor, dois pudins «eclesiásticos»: o abade de Priscos e o prior de Miranda, este mais raso e cor de vinho. O abade é de Braga, o prior é ele próprio.
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