Parece um daqueles postais idílicos da Toscana: um mar de vinhas rasgado por um caminho de terra batida, ladeado de ciprestes, a mostrar ao fundo um bonito solar. Não estamos na região italiana, mas esta propriedade minhota com 70 hectares, que acolhe o novo Terra Rosa Country House & Vineyards, não poupa nos convites à ociosidade. Por momentos, o hóspede poderia até alhear-se da sua envolvência, não fosse a enorme eira e o espigueiro a denunciar a geografia, ou o grande tanque de granito azul com água corredia a embalar os dias molengos.
Este agroturismo nasceu das vontades de pai e filha – Francisco e Eliana Rosa – de transformar a Quinta da Codeçosa, na família há quase 80 anos, num refúgio campestre que convida ao “slow living”: “usufruir da vida como ela é, sem pressas”, desfia Eliana.
É uma das maiores quintas da região, datada do século XVIII, e o maior produtor da Adega Cooperativa de Ponte de Lima. A Francisco deve-se o engenho de há duas décadas converter toda a produção agrícola em vinha – que ocupa atualmente 50 hectares – de desenho geométrico e espaçado, já a antecipar a vindima mecanizada.
A recuperação dos edifícios começou em 2017 com a Casa do Lúpulo – onde antigamente se secava a planta -, que conserva ainda a fachada em xisto e a grande chaminé em ferro, como memórias desses tempos. Acolhe agora sete quartos – dos quais três suítes com uma pequena sala de estar -, todos com entrada independente pelo exterior e uma paleta de cores neutras, acolhedora e serena, que se replica na sala comum. Ali, são servidos os pequenos-almoços e refeições ligeiras (entre as 12h30 e as 18h30), com vista para a grande eira transformada em terraço.
A decoração, inspirada no conceito japonês wabi-sabi, que desafia a “ver beleza nas coisas imperfeitas”, descreve Eliana, é obra da anfitriã, que conta mais de uma década de experiência na área. Conjuga materiais orgânicos – madeiras, linho, algodão – com objetos que ali chegaram de todo o Mundo – China, Vietname, Indonésia, Marrocos -, em harmonia com a envolvência natural.
Outro edifício já reabilitado é a Casa das Colheitas, antigo armazém, agora biblioteca de inverno e espaço híbrido para a realização de provas de vinho (os hóspedes têm aqui a oportunidade exclusiva de provar os vinhos produzidos com as uvas da quinta), workshops de artesanato e culinária, eventos intimistas; num belo tom rosa salmão, descoberto por baixo da cal durante as obras – outro vislumbre italiano.
O cenário envolvente inclui ainda um antigo pombal, uma horta, um laranjal e uma convidativa piscina, com água aquecida a 30 graus, wine bar de apoio e balneários, para quem quiser dar um mergulho sobre as vinhas até depois do check-out. E muitos outros recantos que incitam a abrandar o ritmo e desfrutar da tranquilidade da natureza. A máxima italiana do “dolce far niente” encaixa na perfeição no Terra Rosa, mas para os mais irrequietos não falta com que ocupar o tempo. Banhos refrescantes nos tanques de pedra; massagens à sombra de oliveiras centenárias; passeios de bicicleta ou a cavalo pelas vinhas; piqueniques na margem do rio Neiva; apanha da azeitona, da castanha e da uva, nos tempos devidos.
Ainda assim, o maior tesouro deste refúgio é esse sossego contagiante, onde apetece estar, somente estar, a saborear a doçura de nada fazer.
Cozinha tradicional perto do hotel
Uma viagem de carro de 15 minutos separa o Terra Rosa do centro da vila. Se o destino for o restaurante A Carvalheira, em Fornelos, poiso acertado para jantar, a distância é ainda menor. A casa tem quase 30 anos – chegou a ter morada em Arcozelo – e a carta mantém-se fiel à cozinha tradicional minhota desde o início. Bacalhau com broa, pernil e cabrito assados ou o típico sarrabulho de Ponte de Lima são alguns dos pratos que brilham à mesa. Destaque ainda para a garrafeira, com foco nos Vinhos Verdes da região.
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