Crónica de Nuno Cardoso: sozinhos em Casa, a sequela real

Crónica: Sozinhos em Casa, a sequela real
Sozinho em Casa faz agora 30 anos.
"Sozinho em Casa", o clássico natalício protagonizado por Macaulay Culkin está a celebrar 30 anos, em vésperas de uma época festiva mais solitária do que o habitual. Metaforicamente falando, todos fomos um pouco de Kevin McCallister em 2020.

Na agitação de uma caótica manhã de dezembro, em vésperas de natal, uma criança de oito anos é esquecida em casa, no bairro de Chicago, enquanto os pais e uma dose generosa de irmãos e primos partem de avião para passar a época festiva em Paris. Já todos sabemos de que filme se trata. Uma das longas-metragens de maior êxito da sétima arte e com presença obrigatória na televisão por esta altura do calendário, “Sozinho em Casa” é uma inesgotável e intemporal injeção de nostalgia e diversão, mas também um lembrete de quão importante é a família, mesmo quando se é um pequeno Kevin McCallister, saco de boxe preferido dos irmãos.

O clássico que elevou Macaulay Culkin a níveis planetários de fama e exposição, nem sempre com consequências positivas pelo caminho, celebra agora trinta anos desde o seu lançamento. A efeméride não deixa de ser curiosa, não só por termos atravessado um ano em que todos estivemos mais sozinhos e numa altura em que muitos terão, provavelmente, um Natal mais isolado do que o habitual. Metaforicamente falando, todos fomos um pouco de Kevin McCallister em 2020, ainda que por outras circunstâncias.

A par da ansiedade, o isolamento e a solidão são dois dos carimbos mais negros da pandemia, pelo menos num plano pessoal e de saúde mental. Ainda recentemente, um estudo COH-FIT, que se realizou em mais de 70 países, entre estes Portugal, para averiguar os efeitos do isolamento social associado à covid-19 na nossa saúde, dava conta de um nível desproporcionalmente elevado no agravamento da solidão nos jovens adultos, em especial. O stress e a irritabilidade também subiram a pico este ano, revelou o mesmo estudo. O sentimento é generalizado. Nos últimos meses, várias reportagens têm mostrado o dia-a-dia solitário de centenas de idosos, não só em cenários rurais mas nos próprios bairros mais populosos das cidades.

À semelhança de muitas outras produções, também o próprio franchise de “Sozinho em Casa” se viu afetado por este Grinch em forma de vírus. Para assinalar as três décadas do clássico natalício, um remake do primeiro filme estava a ser gravado há apenas duas semanas quando a pandemia colocou tudo em águas de bacalhau, a meio de março.

Enquanto não chega a nova versão, que todos sabemos de antemão que ficará aquém do original, resta-nos ver e rever as cenas e os diálogos que nos continuam a soltar gargalhadas, ano após ano, com mais ou menos pessoas sentadas na mesa de Natal. Com a consciência de que, na vida real, nunca estivemos tão Sozinhos em Casa como este ano. Felizmente, sem a participação especial dos ladrões Harry e Marv, a trapalhona dupla de vilões que adoramos odiar – ou será, na verdade, odiamos adorar? – desde o inverno de 1990. Mas pensando bem, estamos em 2020. Deste ano, já espero tudo.




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