Crónica de Manuel Molinos: Amigo de Portugal e de Vilar de Mouros

(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)
Um local onde ainda se vai para ouvir e ver músicos, com uma ponte medieval erguida entre os séculos XIV e XV e uma capela que ilustram os postais da terra.

Tão esguio como a bicicleta que o transporta, Vini Reilly pedala incógnito bem perto da praia fluvial das Azenhas. Tinha atuado há pouco tempo na Tenda 1982, no segundo dia do festival de Vilar de Mouros, em 2006. Antes, na estrutura instalada quase ao lado da margem do rio Coura, os Dead Combo, de Tó Trips e de Pedro Gonçalves, ocuparam o palco.

Apenas umas centenas de pessoas viram aqueles concertos ao final da tarde. Sentadas no chão e abrigadas do calor que normalmente brinda a vila minhota nesta altura do ano. Um cenário completamente impossível nos festivais de verão dos dias de hoje, marcados pelas filas, pela confusão e pela poluição dos brindes e das marcas.

Não foi a primeira vez que Vini Reilly pisou o chão onde já estiveram grandes nomes da música. O compositor multifacetado dos Durutti Column já tinha estado no “Woodstock português” na célebre edição de 1982, que contou com U2, Echo &The Bunnymen e The Stranglers, entre outros nomes internacionais, mas também com os portugueses Carlos do Carmo, Vitorino, Rão Kyao, GNR, Jafumega, Roxigénio e António Vitorino d’Almeida.

Não sabemos se nos anos 80 o esquelético artista deambulou pelo recinto do mais antigo festival de música português. Em 2006, sim. Vini Reilly, discreto, sem tiques de celebridade e sem seguranças, percorreu aquele espaço que é muito mais do que um local onde, ainda, se reúnem milhares de pessoas para ouvir e ver músicos. De bicicleta, como ficaria bem no presente para lhe dar um ar de alguém que se preocupa com a sustentabilidade ambiental.

Para quem nasceu entre as chaminés industriais de Manchester, Reino Unido, provavelmente é fácil apaixonar-se pelo cenário idílico de Vilar de Mouros. Pela sua ponte medieval erguida entre os séculos XIV e XV e pela capela do Santo Amaro, os verdadeiros postais ilustrados da vila.

O músico, cuja paixão por Portugal está bem patente no seu trabalho, percorreu várias vezes o recinto. Sem ninguém dar por ele. Fez o que muitos portugueses que já se deslocaram ao festival de Vilar do Mouros não fizeram. Desfrutou de um dos locais mais belos do Minho. Conheceu-o. Inspirou-se.

É que entre tanto marketing relacionado com os festivais de verão, onde a música já não é só o foco de atenção, Vilar de Mouros ainda oferece autenticidade. Na música, na terra e nas pessoas.




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