Crónica de Ana Luísa Santos: Regressar à serra

Panorâmica do Detrelo da Malhada, na serra da Freita. Fotografia: Maria João Gala/GI
A riqueza geológica, a fauna e a flora e as paisagens encantadoras tornam a serra da Freita um lugar a que apetece sempre voltar.

A quietude no planalto, as vacas arouquesas de pelagem cor de fogo, os fenómenos geológicos, a Frecha da Mizarela – a minha lista dos encantos da serra da Freita é longa e está sempre a crescer. Tenho-a visitado com frequência, tanto em trabalho como em lazer, e descobri-la tem sido um prazer. Saindo de Gaia, são menos de 60 minutos até chegar às estradas magras que serpenteiam por entre a paisagem serrana. E por lá, tudo parece estar mais ou menos próximo, sendo fácil chegar aos principais pontos de interesse, seja a famosa queda de água, o Radar Meteorológico de Arouca ou as pedras parideiras, um fenómeno geológico “único no Mundo”, segundo o site do Arouca Geopark. Observo sempre com curiosidade aquela “pedra que pare pedra”, e não deixo de me fascinar no Campo de Dobras da Castanheira, onde a rocha apresenta um padrão ondulante, provocado por movimentos de compressão há 350 milhões de anos.

São igualmente espantosas as Pedras Boroas do Junqueiro, dois blocos de granito que assumem semelhanças com broas de milho, bem como as panorâmicas oferecidas no Detrelo da Malhada e no marco geodésico de São Pedro Velho. Ali, num dos pontos mais altos da serra da Freita, a 1077 metros de altitude, os olhos alcançam o vale de Arouca, o vale do Paiva, a serra de Montemuro, o vale do Douro, as serras de Valongo e as minhotas até ao Gerês, a serra da Estrela, o mar e os braços da ria de Aveiro. Alguns destes pontos também são observáveis a partir do panorâmico décimo piso do Radar Meteorológico de Arouca, no Pico do Gralheiro.

Outro tipo de beleza, mais contida, encontra-se nos Viveiros da Granja. Contrastando com a aridez do planalto da serra, ali ergue-se uma vegetação luxuriante que convive com as pedras cebola, curiosos blocos cuja erosão lhes forneceu um formato arredondado. A luz peneirada pelas árvores frondosas e a terra atapetada com folhas secas emprestam um ambiente quase mágico àquele lugar na freguesia de Moldes.

Embora não seja grande fã de passadiços, os do Paiva foram os primeiros (e únicos?) que percorri e guardo boas memórias. Os mais de oito quilómetros que os compõem têm tanto de bonito como de exigente. O esforço de subir e descer centenas de escadas é recompensado pela observação de geossítios como a garganta do Paiva, a cascata das Aguieiras, a praia fluvial do Vau, a Gola do Salto e a falha da Espiunca.

Em breve, espero conhecer Drave, a “aldeia mágica” que pede uma caminhada de quatro quilómetros para a alcançar. A lista cresce. E a vontade de voltar para explorar também.




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