Foi um projeto maturado com tempo, este novo Mercantel, que tem dentro uma oliveira cheia de significados. Ela reflete as influências mediterrânicas presentes na decoração do espaço, inaugurado há poucos meses, em Aveiro, e sugere uma ligação às raízes. Até porque ali funcionou, durante décadas, outro restaurante, mais familiar e voltado para o marisco: O Mercantel, de que se manteve o nome. E não só por estar no Cais dos Mercantéis, embarcações de carga características da ria.
Também se procurou preservar a história do edifício, explica Paulo Martins, arquiteto responsável pelo projeto e um dos sócios. A casa, com linhas sóbrias e tons escuros, foi desenhada para ser “intimista” e “proporcionar momentos de abrandamento”. Tanto há lugares ao balcão (uns virados para a parede, outros para a cozinha aberta) como em mesas corridas, a puxar pela convivência, e nem falta uma zona de bar. Normalmente, a cozinha fecha por volta das 23 horas, ficando as portas abertas até às duas da madrugada. À quinta-feira, os jantares decorrem ao som de DJ.
O que vai para a mesa é fruto da criatividade do chef Cristiano Barata, que continua a servir ali arroz de marisco, prato pelo qual era famoso o Mercantel, na sua primeira encarnação – o corte com o passado não se quer total. De resto, aposta em sabores que cruzam tradição e contemporaneidade, com alguns toques asiáticos e de outras latitudes, procurando acima de tudo “usar bom produto, local e de época”. Aquando da nossa visita, estava a trabalhar com algas da ALGAplus, peixe da Vagueira, carne marinhoa e arroz de Canelas (Estarreja), entre outras matérias-primas da região.
A carta é sazonal e dinâmica, acolhendo regularmente pratos novos ou atualizados. É também orientada para a partilha. Não faltam snacks, como jaquinzinhos fritos, kakiage de caras de bacalhau (uma espécie de pataniscas) ou tosta de sardinha e pimentos (o pão é de fermentação lenta, a sardinha curada). Isto sem descartar pratos mais substanciais, como o arroz de forno, feito com enchidos e servido com vazia. Já nas sobremesas, destacam-se o pão de ló com azeite e flor de sal e a mousse de chocolate com pistacho, erva-patinha e óleo de folha de figueira.
É tudo feito ali, exceto o pão de fermentação lenta, e mesmo isso pode mudar, ressalva Cristiano Barata, que tem na engenharia de materiais a sua formação de base. Estava a viver na Áustria quando deu por si a cozinhar mais em casa e a querer aprimorar os dotes culinários. Acabou por tirar um curso de cozinha em Londres, onde passou por diferentes locais, entre eles a Taberna do Mercado; regressado a Portugal, trabalhou no Prado, em Lisboa, e depois noutros restaurantes, até chegar ao Mercantel. Além de dirigir a cozinha, integra o grupo de sócios deste barco, que acaba de iniciar viagem.
Longitude : -8.2245