A poucos metros da Estação de São Bento e das hordas de turistas com máquina fotográfica em riste, há uma pequena adega centenária onde perduram os petiscos tradicionais e o convívio das casas de pasto. Já não há recoveiros ao balcão a trincar algo antes de partir mas, graças ao António e à Salete, há operários, “doutores” e turistas a saborear uma isca no pão ou a picar umas moelas estufadas.
António Monteiro começou a trabalhar no Viseu no Porto em 1990, com apenas 13 anos. Tinha desistido de estudar e o pai teve pena de o ver como “moço de trolha”. Foi “oferecê-lo” a um restaurante. O dono, Manuel Mendes, hesitou, mas lá aceitou. De início António fartou-se, mas hoje, não se imagina a fazer outra coisa. Há cerca de 20 anos, a mulher, Salete, juntou-se a ele na adega. Após tanto tempo, “há clientes que são mais família que outra coisa” e o ex-patrão é o primeiro, garante António.
Em 2012, o senhor Manuel quis reformar-se e falou para ele tomar conta do negócio. Não hesitou, nem podia. “É como se fosse o meu segundo pai. Vem cá muito e ainda tem a chave”. António diz que aprendeu quase tudo com o senhor Manuel, “o gosto pelo trabalho e servir bem os clientes”. O resto aprendeu com a mãe, cozinheira durante 30 anos.
António ainda pensou em renovar tudo e “fazer mesmo um restaurante”. Felizmente, foi chamado à razão. “Vi que ia perder muitos clientes antigos e ia para um conceito com muita oferta. Já tascos, há poucos”. Optou por ir renovando a decoração com elementos rústicos aqui e ali e umas janelas falsas com fotos do Porto. E ainda conseguiu arranjar uma esplanada para a rua. Já na comida, no conceito de servir e na proximidade não mexeu. E ainda bem.
Ao almoço, até à uma hora, há dois pratos do dia. Depois, é até esgotar. À noite, é mais para jantares de grupo. Na carta, há muitas opções – bacalhau variado, francesinha, grelhados – sem nunca exceder os 10 euros e sempre temperados à moda antiga. A clientela agradece e os turistas também, apesar de ainda haver um estigma, injusto, sobre as adegas. “As pessoas do turismo têm vergonha. Preferem recomendar gourmet ou o luxo. Felizmente, a malta nova já começa a pensar de maneira diferente”, elogia António.
A cozinha não fecha durante a tarde e há sempre petiscos quentinhos a sair ao longo do dia. E quem tiver um comboio para apanhar, facilmente se poderá esquecer dele…
Montra de petiscos
Quem cruza a porta da adega é recebido por um mostruário repleto de saborosos e apetitosos petiscos. A montra vai variando ao longo do dia com a entrada de mais iguarias acabadinhas de fazer.
O menu
Prato do dia: 6,5 euros. Inclui pão, sopa, prato, bebida e sobremesa.
Especialidades: Bacalhau à Braga ou grelhado na brasa, tripas e francesinha
Petiscos: lscas à moda antiga, bucho estufado, moelas, bifanas, polvo, salgadinhos variados
Longitude : -8.6099296